Uma reportagem do jornal “O Globo” destaca o papel de influência que a médica paraibana Ana Helena Germóglio, de 42 anos, exerce no círculo de poder federal, mais precisamente junto à Presidência da República. Ela assumiu a Coordenação de Saúde da Presidência e na última quinta-feira recebeu uma das missões mais difíceis de sua carreira: convencer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a ir a um hospital para fazer exames. O episódio foi um ensaio para a prova de fogo que viria dois dias depois, quando Ana Helena recomendou expressamente que o mandatário adiasse a viagem que faria à China no domingo, considerada uma das agendas mais estratégicas do presidente no exterior.
Germóglio assumiu o cargo em janeiro e, bem humorada, faz piada com a tensão vivida nos últimos dias e diz que os empresários convidados para integrar a comitiva presidencial não querem vê-la nem pintada de ouro. Com apenas três meses de trabalho na Presidência, a médica infectologista paraibana contou com aliados importantes no processo de persuasão do chefe da República, como a própria mulher dele, Rosângela Silva, a Janja. A doutora passou a ocupar o noticiário após diagnosticar Lula com influenza e suas orientações levaram o presidente a cancelar sua partida para o país asiático, com isso frustrando as expectativas de parte do setor produtivo brasileiro.
– Não é nada fácil cancelar a ida de uma equipe para a China quando já há duas em Xangai e outra esperando para embarcar. É uma responsabilidade muito importante cuidar do CNPJ presidente da República, a gente tem que cuidar do CPF Luiz Inácio Lula da Silva – disse Ana Helena ao “Globo”. Além da primeira-dama Janja, a orientação de Ana Helena foi referendada pelo médico pessoal e amigo de Lula Roberto Kalil. Germóglio e Kalil mantêm as melhores relações e chegam a trocar figurinhas em torno da saúde de Lula. Desde o final da semana passada, os dois médicos se falaram várias vezes para tratar do quadro de pneumonia e influenza do presidente. A paraibana foi indicada para a vaga na Presidência da República pelo médico Cléber de Araújo Leal Ferrera, que acompanhou Lula durante as duas gestões do petista pelo Planalto. De sua parte, já havia trabalhado por seis meses no departamento sob a chefia de Leal no segundo mandato de Lula.
A paraibana se formou pela Universidade Federal do seu Estado e se mudou em 2005 para Brasília a fim de cursar residência na UnB. Desde então, se tornou referência no tratamento de ovid 19 no Distrito Federal. O primeiro compromisso dela na comitiva presidencial foi emblemático: acompanhou Lula a Santos para o velório de Pelé. “Acho que ninguém nunca se vê nesse cargo. Eu nunca vislumbrei isso, não era minha área de atuação. Na circunstância em que o país estava, como defensora da medicina preventiva, da vacina, da ciência, me senti surpresa e honrada com o convite – relatou ela. A especialista em infecção hospitalar ficou longe dos filhos, Luiz (9 anos) e João (8 anos) no início da pandemia de covid, devido ao excesso de trabalho e por precaução. Na época, a médica teve voz ativa em defesa das vacinas e fez análises críticas da atuação do governo de Jair Bolsonaro no controle da doença. Diz Ana Germóglio que sempre pensou em fazer infectologia porque sua mãe e infectologista e professora na faculdade. Sempre andei com ela no hospital”,