Nonato Guedes
Políticos paraibanos alinhados no apoio ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já se conformam com o “jejum” de cargos importantes na atual administração e reconhecem que o Estado não teve força para se impor na ocupação de espaços, apesar da votação avassaladora atribuída ao líder petista no primeiro e segundo turnos da campanha de 2022. O vácuo está sendo preenchido mesmo pelo governador João Azevêdo (PSB), que está encarapitado na presidência do Consórcio Interestadual do Nordeste e no colegiado do Conselho da República e tenta compensar a Paraíba abrindo pontes para encaminhar demandas mais viáveis enquanto aguarda que o Planalto dê partida às obras estruturantes que foram submetidas à análise do presidente da República, atendendo a uma solicitação sua. Aquela visita que Lula fez à região de Santa Luzia para participar da entrega de empreendimento privado foi encarada como uma espécie de “consolo” do chefe do governo para com este Estado.
Na verdade, a Paraíba não está de todo ausente do organograma do terceiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Paraíba, de que é exemplo a nomeação da doutora Taciana Medeiros para a presidência do Banco do Brasil. Mas certas escolhas tiveram caráter eminentemente técnico, sem chancela política, como é o caso da executiva do Banco do Brasil, premiada no quesito meritocracia por ser funcionária graduada de carreira da instituição. Quanto a ministérios, o Estado passou longe na gestão lulista, contrariamente ao que aconteceu no governo de Jair Bolsonaro, quando teve um representante – o médico Marcelo Queiroga, no comando da Saúde. Foi uma conquista, com todos os percalços decorrentes da postura negacionista do governo Bolsonaro em relação à pandemia de covid-19. Marcelo Queiroga não foi omisso nem insensível às causas reclamadas pelo Estado, o que é testemunhado até por adversários dele e do governo anterior.
A sensação de desprestígio institucional do Estado no governo Lula III decorre da comparação com outros Estados da região Nordeste, contemplados com Ministérios estratégicos, como o Ceará, com Camilo Santana na Educação e o Maranhão com Flávio Dino na Justiça e Segurança Pública. Não se tem conhecimento de que a Paraíba tenha se articulado para unir-se em torno de um nome a compor o escalão do governo federal na Esplanada dos Ministérios – e isto pode ter dificultado avanços que alguns vizinhos lograram obter. A base de apoio a Lula nas eleições do ano passado na Paraíba compôs-se de adversários políticos locais, casos do governador João Azevêdo com o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e com o ex-governador Ricardo Coutinho (PT). Pela indicação de Ricardo a algum posto ainda lutam líderes do PT, a exemplo do deputado federal Luiz Couto, mas as complicações que o ex-governador enfrenta na Justiça depõem contra o seu próprio currículo.
Deputados federais que se declaram integrantes da base de Lula conseguiram emplacar apadrinhados em uma ou outra função, sem, entretanto, maior impacto sobre a vida da população paraibana. Do lado do governador João Azevêdo houve uma “baixa”, com a não convocação da ex-deputada estadual Pollyanna Dutra, que foi candidata ao Senado, para posto de destaque. Fez-se muito alarde em torno da sua ida para Brasília por causa de versões da sua estreita relação de amizade com Lula, cultivada desde que ela foi prefeita da cidade de Pombal, coincidindo com mandato dele na Presidência da República. Para todos os efeitos, Pollyanna preferiu integrar-se à equipe do segundo governo de João Azevêdo, ocupando secretaria de Desenvolvimento Humano, de onde procura pavimentar canais com o Planalto e, se possível, diretamente com o presidente. Fora daí, o que se diz é que o governador é uma espécie de ministro informal do Estado junto a Brasília, pela linha direta que tem em gabinetes privilegiados do poder.
O escanteio da Paraíba na composição do ministério ou no preenchimento de outros cargos de relevo na estrutura pública federal pode ter a ver, também, com a indefinição quanto aos votos da bancada do Estado em relação a projetos ou matérias de crucial interesse para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Essa fidelidade ainda não foi propriamente testada em plenário, quer na Câmara dos Deputados, quer no Senado Federal – e o fato é que deputados que apoiaram João Azevêdo não estão necessariamente alinhados com Lula, como é o caso de Hugo Motta, do Republicanos, um dos principais articuladores políticos da conjuntura atual. A opinião pública mantém-se atenta para que, pelo menos, a Paraíba não seja prejudicada junto ao governo atual. Qualquer discriminação ou retaliação, por desavisada que seja, certamente mexerá com os brios de uma bancada que é cobrada na velocidade com que se propagam fatos, “fakes” e versões nas redes sociais, o novo termômetro do pulso da sociedade.