Nonato Guedes
Na condição de líder maior do Partido Socialista Brasileiro no Estado o governador João Azevêdo torna-se o fiador da estratégia de fortalecimento da legenda por municípios de diferentes regiões, focando, antecipadamente, nas eleições municipais de 2024 quando estará em jogo o controle de prefeituras. Hoje pela manhã em João Pessoa o governador comanda evento de posse da direção estadual, que inclui, também, a filiação de lideranças políticas locais, e postou, no Twitter, que o encontro “celebrará o crescimento do partido por toda a Paraíba”. Comandado pelo deputado federal Gervásio Maia, o diretório estadual ganha novos membros na sua composição, enquanto a comissão dirigente do diretório na Capital passa a agregar quadros emergentes como o secretário de Estado Tibério Limeira.
Para o evento é aguardada a presença do presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, de Pernambuco, que tem defendido, em entrevistas, a expansão dos espaços de atuação da legenda no cenário político nacional, com ênfase nos Estados e nas bases municipais. O PSB está na ante-sala do poder federal, representado pelo ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que é vice-presidente da República e acumula o ministério da Indústria e Comércio, sendo nome lembrado para a sucessão de Lula se este não for candidato à reeleição lá na frente. A Paraíba tem merecido atenção especial porque se insere na região Nordeste, que ofereceu votações consagradoras à chapa na eleição de 2022 e porque o governador João Azevêdo ganhou projeção ao ascender à presidência do Consórcio Interestadual do Nordeste, com assento, também, no Conselho da República, sendo porta-voz da Região diretamente junto ao próprio Lula e a Geraldo Alckmin.
A atração de lideranças municipais é coerente com a realidade que eclodiu das eleições estaduais do ano passado, em que se quebrou a lógica de predomínio dos grandes colégios eleitorais como João Pessoa e Campina Grande na decisão de pleito ao governo do Estado, abrindo-se espaço para o peso e influência decisiva de localidades do interior na contagem final dos votos. Foi assim que o governador João Azevêdo consolidou a sua recondução em segundo turno ao Palácio da Redenção, dando combate ao então deputado federal Pedro Cunha Lima, do PSDB. Em cima dos resultados eleitorais e em ocasiões subsequentes, o chefe do Executivo chegou a definir o segundo governo como “fortemente municipalista”, incorporando pautas e demandas reclamadas pelos habitantes das mais longínquas cidades da Paraíba. Em paralelo, efetivou na liderança do governo na Assembleia Legislativa um parlamentar de primeiro mandato com raízes municipalistas, o deputado Chico Mendes, com atuação no entorno do Sertão paraibano.
Todo o enredo que vem sendo construído tem caráter motivacional, no sentido de enraizar o PSB nos redutos que antigamente eram chamados de “grotões” e que por muito tempo ficaram sob domínio ou hegemonia de esquemas políticos tradicionais, revezados à custa de poder econômico e político. A leitura que se faz em círculos palacianos, hoje, é a de que a própria configuração da realidade nos municípios mudou, passando por fantástica evolução no processo de desenvolvimento econômico auto-sustentável, mediante surgimento e exploração de oportunidades que estão fornecendo, também, uma luz para redirecionar prioridades dos programas do governo do Estado. O governador, mais do que qualquer outro líder político, captou essas mutações no meridiano político paraibano e tem procurado dar partida a investimentos e massificação de obras importantes para localidades onde está situado, por assim dizer, o novo PIB eleitoral do Estado. Daí, a ofensiva que é deflagrada a partir de hoje para enraizar o partido nos rincões interioranos, sem perder de vista a valorização dos grandes colégios eleitorais.
Cabe levar em consideração, também, o novo momento que está sendo experimentado pelo próprio governador João Azevêdo dentro das hostes do PSB neste segundo mandato. No primeiro governo, ele viveu sob o fio da navalha dentro da legenda socialista por causa da frente aberta pelo ex-governador Ricardo Coutinho, então abancado no PSB, para expulsá-lo dos quadros partidários, por irresignação com pleitos pessoais não atendidos. A investida de Coutinho chegou a surtir efeito por um tempo e levou João Azevêdo a buscar sobrevinvêcia nas fileiras do “Cidadania”. A dinâmica do jogo político, envolvendo o próprio cenário nacional, alternou papéis radicalmente na geografia da Paraíba. Coutinho migrou para o PT, seu berço político, e o caminho ficou livre para que Azevêdo retornasse ao PSB em alto estilo, com honras e deferências. O apoio declarado de Lula a João no segundo turno deu gás ao gestor paraibano, que detém cotação privilegiada na Esplanada dos Ministérios em Brasília e dentro do Palácio do Planalto. O PSB aposta nas credenciais que Azevêdo passou a ter para viabilizar o seu fortalecimento, assumindo protagonismo entre partidos que compõem a base de apoio à atual administração e que têm sido recompensados à altura, a exemplo do Progressistas e do Republicanos.