Nonato Guedes
No principal evento político de ontem, em João Pessoa, que teve como meta marcar o fortalecimento do PSB mediante escalada de filiações de prefeitos e lideranças municipais, em paralelo com a investidura de direções partidárias, o que prendeu as atenções foi a reafirmação do apoio à reeleição do prefeito da Capital, Cícero Lucena, que é filiado ao PP. Coube ao próprio governador João Azevêdo, principal líder do PSB, puxar o coro pela manutenção da aliança PP-PSB em João Pessoa, o que foi seguido por outros expoentes socialistas, apesar de ainda terem pipocado menções à hipótese de uma candidatura própria. O que está persuadindo socialistas a aceitarem uma vice é a perspectiva de que este venha a assumir a titularidade, em caso de vitória da chapa, por volta de 2026, quando Cícero deve partir para outros projetos no cenário político estadual.
A questão que causa controvérsia sobre o panorama na Capital paraibana envolve uma escolha para o PSB: assumir o protagonismo político no maior colégio eleitoral do Estado ou continuar no papel de coadjuvante, atrelado a Cícero. Em declarações à imprensa, o prefeito, porém, colocou o caso em termos de entrosamento entre ele e o governador João Azevêdo, independente de origem partidária, para um projeto que beneficie efetivamente a população de João Pessoa. O entrosamento, de fato, tem se sustentado, e os resultados projetados quanto a investimentos são promissores, na lógica da parceria que tem dado certo. Um virtual rompimento dessa parceria acarretaria solução de continuidade na execução de projetos que estão consensuados entre o governador e o gestor da Capital, e que passam pelo respaldo do governo federal, com quem João tem, hoje, canais de interlocução privilegiados, dado o seu apoio à candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O PSB caminha para aceitar novamente a vice-prefeitura, reeditando a aliança de 2020 que gerou a chapa Cícero Lucena-Léo Bezerra, porque não forjou quadros de expressão, competitivos, que possam decidir a eleição de 2024. Somente agora, com o evento deflagrado ontem, o partido do governador dá partida a um processo de renovação e de fortalecimento, sobretudo nos grandes centros, para poder se credenciar no quesito do protagonismo que é disputado ferrenhamente, na base do governador, por legendas como o Progressistas e o Republicanos. Aliás, analistas políticos consideram que ao filiar 73 prefeitos, ontem, o PSB equilibrou o jogo com o Republicanos para 2026 – e a tendência é no sentido de prosseguimento da emulação, sem prejuízo, aparentemente, para o projeto do governador. O nome de João Azevêdo chegou a ser lançado, no evento, pelo deputado estadual Tião Gomes, como alternativa para o Senado, mas o chefe do Executivo esquivou-se de polêmica, alertando que é cedo e que deve ser seguida uma ordem de prioridades, que passa pelas eleições municipais do próximo ano.
A bem da verdade, o governador equilibra-se com habilidade para não desprestigiar ou enfraquecer outros partidos da base aliada nem jogar ao léu o seu próprio partido. Afinal, empreendeu uma luta titânica, em queda-de-braço com o antecessor Ricardo Coutinho, para voltar à sigla pela qual se elegeu já no primeiro mandato de governador conquistado em 2018. Há, também, o próprio compromisso do chefe do Executivo com as lideranças socialistas, que são fiéis ao seu comando e não têm faltado no engajamento em momentos difíceis que têm permeado a conjuntura política paraibana. A campanha eleitoral de 2022 é mencionada como exemplo, porque foi mesmo o batismo de fogo de João, sem a tutela do ex-governador Ricardo Coutinho e, portanto, livre para pilotar um projeto autonomista, que tem surpreendido pela capilaridade de que se reveste em tão pouco tempo. Para citarmos ainda Ricardo, ele levou bastante tempo para consolidar o PSB no meridiano estadual, enquanto João tem tido mais facilidade na condução desse projeto, retomado com força total.
Não passa desapercebida a oxigenação de quadros que tem sido imprimida ao PSB paraibano na Era João Azevêdo, o que foi atestado em depoimento pelo presidente nacional da legenda, Carlos Siqueira. A ascensão do secretário Tibério Limeira à presidência do diretório municipal em João Pessoa o projeta como mais uma opção política de peso disponível na legenda. A retomada dos espaços de poder pelo PSB se dará, porém, de forma escalonada. Afinal, Cícero deixou escapar, ontem, que os diálogos para manutenção da aliança favorecendo a sua reeleição teriam sido firmados no calor da campanha de 2022. A insistência do governador João Azevêdo em reafirmar o apoio à candidatura de Cícero pode ser a confirmação dos acordos firmados lá atrás, e aos quais aludiu o alcaide de João Pessoa. Mas é evidente a ofensiva do PSB para se fortalecer, ganhar musculatura, dispor de capilaridade. Este foi o espírito que norteou o evento de ontem. Mas, como em política ninguém vai ao Rubicão só para pescar, como dizia Ulysses Guimarães, convém abrir janela para outros cenários que venham a emergir dentro da própria dinâmica do jogo político até a fase decisiva do pleito do próximo ano.