Nonato Guedes
O presidente estadual do Partido dos Trabalhadores, Jackson Macêdo, previu que, neste ano, haverá um aprofundamento do debate interno sobre o posicionamento que o PT tomará em relação às eleições para prefeito de João Pessoa em 2024. Segundo ele, Plenárias que já estão agendadas e outros eventos incorporados ao calendário propiciarão discussões sobre a melhor alternativa para o petismo na disputa vindoura. Em 2020, o partido viveu situação atípica, com a “cristianização” da candidatura própria do então deputado estadual Anísio Maia, que alcançou uma das piores votações da legenda. A pretensão de Anísio foi atropelada pelo lançamento do ex-governador Ricardo Coutinho nos quadros do PSB, o qual contou com apoio declarado de Luiz Inácio Lula da Silva, mas não logrou avançar, dado o desgaste de acusações no bojo da Operação Calvário.
O dilema para 2024 tem outras peculiaridades. Pelo menos dois deputados estaduais que voltaram ao PT – Luciano Cartaxo, ex-prefeito de João Pessoa, e Cida Ramos, ex-candidata à prefeitura, lutam pela indicação agitando a bandeira da candidatura própria, juntamente com o vereador Marcos Henrique, expoente na Câmara Municipal pessoense. No radar figura, também, a cogitação para apoio do PT à candidatura do prefeito Cícero Lucena (PP) à reeleição, em virtude da ligação de Cícero com o governador João Azevêdo, que agregou uma ala petista ao seu governo e que é aliado declarado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O debate não foca em questões ideológicas, até porque o PT local segue o pragmatismo adotado por Lula para voltar ao poder, quando articulou uma ampla “concertação política”, com forças de esquerda, centro ou mesmo conservadoras. Por honra da firma, dirigentes como Macêdo tentam conciliar a pauta eleitoral com princípios ideológicos, mas, na prática, são engolfados pelo viés pragmático que permeia o rumo dos acontecimentos.
O próprio dirigente estadual do Partido dos Trabalhadores tem ponderado que não é tático para o PT apostar em candidatura própria que careça de viabilidade política-eleitoral, isto é, que demonstre ser realmente competitiva e com condições de polarizar o pleito, assumindo posição de protagonismo e, mesmo, de favoritismo. Luciano Cartaxo, primeiro prefeito eleito pelo PT na Capital paraibana, sofre algumas restrições por ter migrado para outras siglas, como o PSD e PV, alegando não querer se contaminar com o desgaste causado pelo escândalo do mensalão, lá atrás, num dos governos de Lula. O seu retorno ao PT foi aceito na perspectiva de fortalecimento dos quadros, mas sem implicar, necessariamente, em compromisso de apoio a uma provável candidatura novamente ao cargo. O seu desafio é agregar apoios ao seu nome, na base e na cúpula, e provar que tem capilaridade eleitoral.
Cartaxo não saiu reprovado da administração municipal em João Pessoa mas não conseguiu ser capaz de expandir seu grau de liderança, que continua gravitando na órbita do “clã” familiar. Lançou uma concunhada, Edilma Freire, como candidata à sua sucessão nas eleições de 2020, alegando que ela tinha feito uma revolução silenciosa na Pasta da Educação, que havia comandado, o que a credenciava a voos maiores. A candidata, porém, não avançou na corrida, sendo atropelada por políticos que voltaram à cena como Cícero Lucena e por estreantes que se revelaram fenômenos nas urnas, a exemplo do comunicador Nilvan Ferreira. De lá paa cá, Nilvan perdeu espaços e Cícero enfrenta problemas naturais inerentes a quem está no poder, mas é respeitado pelo seu prestígio pessoal, pelo apoio da máquina e pelo reforço do governador João Azevêdo. Insinuando-se à polarização em 2024 está o deputado federal Ruy Carneiro, que ficou em terceiro lugar na disputa de 2020 e que poderá ganhar corpos de vantagem no confronto direto com Cícero, de quem foi aliado no passado remoto.
Em tese, o Partido dos Trabalhadores movimenta-se na perspectiva de tirar proveito da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para um terceiro mandato e no reflexo colateral das ações de governo que estão sedo empreendidas e que deverão ganhar ritmo acelerado no futuro. Mas a cúpula petista sabe que isto só não basta para dar o passaporte da vitória a um candidato das suas hostes à prefeitura de João Pessoa. O candidato ou candidata terá que dispor de empatia com parcelas do eleitorado, a qual se reverta na na conquista de votos decisivos para coroar o PT com um triunfo que simbolizaria a retomada da prefeitura da Capital paraibana. Os cenários estão sendo analisados com “lupa”, juntamente com as opções, diante do interesse maior do Partido dos Trabalhadores de não cometer erros, muito menos apostar em aventuras de caráter eleitoreiro. Esta será a tônica das discussões por todo este ano e durante a fase propriamente dita da campanha eleitoral em 2024.