Nonato Guedes
Em declarações ao Sistema Arapuan de Comunicação o ex-deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), que disputou o segundo turno ao governo do Estado contra João Azevêdo no ano passado, jogou para 2026 a perspectiva de retornar ao cenário político local, descartando a hipótese de concorrer à prefeitura de João Pessoa em 2024. Ele manifestou apoio ao deputado federal Ruy Carneiro, que cogita voltar a ser candidato a prefeito, justificando tratar-se de um grande parceiro e explicando que se sente representado por ele numa eventual candidatura. Como em Campina Grande o compromisso do “clã” Cunha Lima é com vistas a apoiar a reeleição do prefeito Bruno (ainda no PSD), Pedro fica de fora da disputa nos dois maiores colégios eleitorais do Estado, ainda que participe ativamente da campanha, com seu prestígio junto a segmentos do eleitorado.
Ao mesmo tempo, Pedro Cunha Lima admitiu votar no senador Efraim Filho, do União Brasil, para o governo do Estado em 2026, caso ele decida se candidatar. O argumento foi o mesmo utilizado em relação ao deputado Ruy Carneiro: “Posso não disputar e me sentir representado por Efraim”. Os dos fizeram dobradinha afinada na campanha de 2022, que se consolidou a partir do momento em que Efraim Filho, então deputado federal, rompeu com a base política do governador João Azevêdo (PSB) por não vislumbrar receptividade à sua pretensão de concorrer ao Senado e abraçou incondicionalmente a candidatura de Pedro pela oposição, numa reviravolta espetacular que teve reflexos no próprio rumo da campanha. A votação expressiva obtida por Pedro em João Pessoa no segundo turno o credenciou como alternativa à prefeitura da Capital, e ele admite ter recebido estímulos nesse sentido. Mas, ao que parece, a hipótese não chegou a ser considerada seriamente, diante da emergência de outros cenários.
De resto, o ex-deputado Pedro Cunha Lima demonstra não ter obsessão pelo exercício da atividade política, assumindo, mesmo, que tem desilusões quanto às limitações que esse “mister” oferece. Faz lembrar o seu pai, ex-governador Cássio Cunha Lima, que no primeiro discurso, muito jovem, na Assembleia Nacional Constituinte, se disse decepcionado com as incoerências do sistema político no Brasil, exortação que calou fundo junto a líderes políticos veteranos como o deputado Ulysses Guimarães e o senador Mário Covas, que à época, em 1988, cumularam Cássio de atenções e de respeito pelo seu posicionamento. No caso de Pedro, ele foi enfático, agora, ao dizer que muitos aspectos o desanimam e o afastam da disputa eleitoral, não se colocando como um apaixonado pela trincheira política e exemplificando que já passou seis meses sem dar entrevistas e não sentiu falta. “Para continuar na política é preciso mudar a forma como ela é feita, já que muitas pessoas estão cansadas da maneira ultrapassada que muitos adotam”, revelou, didaticamente.
Pedro é transparente ao admitir que vive tendo conflitos com o dia a dia da política. “É uma disputa desigual, o jogo não é limpo. Por isso, posso não disputar mais eleições, mas também posso disputar”, declarou ele, traduzindo o dilema que enfrenta. Professor por vocação e apaixonado, isto sim, pela bandeira da Educação, Pedro Cunha Lima, quando candidato a governador, agitou com intensidade essa bandeira, mencionando como modelo de educação para a Paraíba a fórmula adotada no Estado do Ceará, que alcançou resultados positivos na conjuntura nacional. Coincidência ou não, a sua apologia constante ao modelo cearense de Educação acabou contribuindo para que o secretário de Educação do governo João Azevêdo II fosse um expoente do ensino no Ceará, o professor Roberto de Souza, que trabalhou no governo Camilo Santana em projetos exitosos e hoje tem linha direta com o gabinete de Camilo no ministério da Educação em Brasília. Fato é que a atuação de Pedro na campanha eleitoral da Paraíba foi das mais importantes para despertar o próprio João Azevêdo sobre a urgência de prioridades que não estavam, ainda, assentadas de forma eficiente, proativa.
O ex-deputado federal Pedro Cunha Lima, que foi presidente da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados e que teve uma atuação destacada, é quadro qualificado para o exercício de qualquer missão administrativa, tanto na Paraíba, como fora do Estado. Ele alia o conhecimento que inegavelmente detém com o idealismo sincero, que é um artigo em falta em muitas prateleiras da vida pública brasileira. Não é um rebelde sem causa – afinal, pugna por mudanças que, bem ou mal, estão acontecendo e que são inexoráveis ao próprio processo de desenvolvimento do país. Será sempre voz respeitada, independente de ter mandato ou não, porque conquistou com méritos lugar de fala na política paraibana. Os conflitos que somatiza talvez façam parte do processo de crescimento que molda a personalidade de Pedro Cunha Lima, preparando-o para novos desafios e embates. Não custa nada continuar acompanhando a sua trajetória, até pelo potencial valioso que ele ainda tem a apresentar à Paraíba e aos paraibanos.