Nonato Guedes
Foi visível, ontem, o empenho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para manter seu ativo político junto a centrais sindicais na celebração do Dia do Trabalhador. Na véspera, Lula anunciou em pronunciamento em rede nacional que o salário mínimo passará para R$ 1.320 e que o governo está dando o pontapé para institucionalizar o reajuste anual do valor com base na inflação do período, como estratégia para compensar o poder de compra dos trabalhadores. Com isto, criou a expectativa de que a política de reajuste obedeça à incorporação de ganhos reais, além da inflação, medida que havia sido excluída na gestão do presidente Jair Bolsonaro. Em outro aceno, Lula se comprometeu em elevar a faixa de isenção do Imposto de Renda para até R$ 5.000 até o fim do seu mandato. A correção da tabela do Imposto de Renda é uma de suas principais promessas de campanha.
O presidente Lula, discursando para trabalhadores e sindicalistas, reconheceu que o aumento no valor do salário mínimo, por enquanto, foi pequeno, mas foi um aumento real, acima da inflação, pela primeira vez depois de seis anos. Atribuiu à “herança maldita” dos governos recentes, especialmente o de Jair Bolsonaro, a piora da situação no país nos últimos anos e lamentou que direitos conqustados ao longo de décadas, em batalhas memoráveis, tenham sido destruídos de um dia para outro, devido à falta de compromisso do governante de plantão com os verdadeiros interesses da população brasileira. “Poucas vezes na história o povo brasileiro foi tratado com tanto desprezo e teve tão pouco a comemorar. Felizmente esse mau tempo ficou no passado. O Brasil voltou a reconhecer o papel fundamental do povo trabalhador na construção do futuro da Nação”, assegurou o mandatário, dando ênfase a outras medidas como a de geração de empregos.
Lula fez questão de enfatizar que está há poucos meses à frente do seu terceiro mandato, mas que nem por isso se sente desobrigado de compromissos que assumiu na campanha eleitoral, quando pediu um voto de confiança para voltar ao poder na perspectiva de “consertar” ou “reconstruir” o Brasil, diante da política de desmonte que foi implementada pela gestão de Jair Bolsonaro, atingindo praticamente todos os setores da sociedade brasileira. Lula demonstrou ter consciência de que num terceiro governo as cobranças são ampliadas, tanto mais porque ele se consagrou nas urnas como símbolo para derrotar e, se for o caso, varrer do mapa o legado de retrocesso que Bolsonaro e sua equipe promoveram, praticamente submetendo o país a um estado de inação, de imobilismo e de letargia no campo administrativo. É hercúlea a tarefa de resgate a que Luiz Inácio Lula da Silva se propôs, mas ele não está acomodado nem imobilizado por fatores externos que têm procurado ameaçar a gestão e criar uma atmosfera de instabilidade institucional.
O presidente, aliás, aproveitou a oportunidade para doutrinar segmentos da opinião pública a perseverarem no combate à proliferação de “fake news”, sobretudo por meio das redes sociais, e, em contraponto, reagirem com informações verdadeiras, transparentes, sobre cenários que pareçam desfavoráveis para a reconstrução do Estado de Direito. O compromisso com a democracia, um dos pilares essenciais da campanha eleitoral do líder petista em 2022, nos dois turnos, continua de pé, inabalável, diante da onda de mentiras que se tenta propagar como parte da orquestração para tentar desmoralizar instituições, poderes constituídos e autoridades que agem de acordo com as disposições da Constituição e estão, por assim dizer, atreladas a princípios comuns pelos quais lutam as camadas proativas da população brasileira interessadas no desenvolvimento econômico e social do país e refratárias a manobras golpistas, atentatórias ao Estado Democrático.
Lula fez um apelo candente aos setores esclarecidos da sociedade para que se mobilizem nessa cruzada ou nessa contra-ofensiva para desqualificar inverdades que são plantadas com o fito exclusivo de criar o terrorismo psicológico e a insegurança entre os que realmente produzem e trabalham para o crescimento do País e o enfrentamento e a resolução dos seus desafios ingentes. A alguns poucos pareceu que o tom adotado, ontem, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda remetia ao palanque ou à campanha eleitoral de 2022. Mas essa impressão era, seguramente, falaciosa. O governo se mantém antenado com os desafios que lhe cabe administrar, mas, em paralelo, segue extremamente vigilante na defesa da democracia, levando em conta a gravidade de precedentes que foram instaurados no dia 8 de Janeiro em Brasília, com invasões às sedes dos Três Poderes. Aliás, mantém-se a expectativa de que a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito a ser instalada no Congresso para apurar os atos de vandalismo realmente aponte os culpados e sinalize com medidas para a punição dos que forem responsabilizados. O presidente Lula não deixou dúvidas, na fala de ontem, à necessidade de serem punidos os mentores e executores da baderna que saltou como um ponto fora da curva e desgastou a imagem do Brasil no exterior. Desse empenho participam parlamentares, cobrados pela opinião pública a serem implacáveis contra a impunidade patrocinada pelos vândalos ou terroristas.