Nonato Guedes
No livro “Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros escritos”, que lançou em João Pessoa em evento concorrido na última sexta-feira, o escritor Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales), ex-secretário de Planejamento do Estado, inseriu capítulo propondo, de forma desassombrada, uma revisão do governo de Ivan Bichara Sobreira, ao qual serviu, no período de 1975 a 1978, justificando ser necessário o revisionismo para corrigir injustiças e repor verdades históricas, em contraponto a versões e interpretações que considera distorcidas ou parciais, derivadas de certa animosidade para com o intelectual ilustre da terra do Padre Rolim que ascendeu à suprema magistratura da Paraíba. Ivan foi governador nomeado pelo chamado “sistema”, o regime militar que fora instaurado em 1964, e além do estigma de “biônico”, adicionou ao currículo uma derrota como candidato ao Senado em 78, perdendo para Humberto Lucena (PMDB), que se valeu do apoio de duas sublegendas.
– Na idade em que estou, remanescente de seu governo, não quero carregar o remorso de fechar os olhos à injustiça imposta pelo esquecimento para com o mais sério, honrado e notável político da minha terra natal – adverte Cartaxo. Queixa-se o escritor do método de análise de gestões na história da Paraíba, centrado no personalismo, ou seja, na exegese da figura propriamente dita do governante, sem levar em consideração o conjunto das atividades governamentais, este, sim, retrato mais fiel da ação de homens públicos alçados ao Executivo, bem como os fatores conjunturais em que se desenrolam os ciclos de poder, com suas oscilações inevitáveis. “A sombra do governador projeta-se de modo tão denso que resta prejudicada a avaliação objetiva do governo que ele comanda”, ressalta “Frassales”, adiantando que, como corolário, dá-se um desvio metodológico, incompreensível, quando se trata de analisar resultados duradouros e efetivos para a sociedade. “A história paraibana está repleta de exemplos assim”, provoca ele.
Cartaxo sustenta que Ivan Bichara não chegou ao governo com ânsia de entrar na competição que a Paraíba estava habituada a presenciar, inclusive com bravatas ensaiadas por líderes políticos, sem falar na emulação entre correligionários de correntes distintas, muitas vezes no seio de um mesmo partido. “Ivan não pleiteou governar o Estado, do qual, aliás, estava afastado havia mais de uma década. Então, veio para quê? De acordo com as palavras na posse, no dia 15 de março de 1975, para trabalhar pelo desenvolvimento da Paraíba e o bem-estar da sua população, com propósitos conciliadores, frente a públicas e notórias divergências no partido governista”. E cita esta fala de Ivan: “Desejo manter o clima de respeito aos direitos humanos e às garantias individuais existentes na nossa terra. Homem de partido, cultivando o dever e o sentimento da lealdade, governarei com a observância dos princípios norteadores da Aliança Renovadora Nacional (Arena) dentro das normas de boa convivência democrática, considerando adversários como adversários e não como inimigos, e para eles apelando na hora da luta comum pelos interesses da Paraíba”. Para Frassales, o governo Ivan Bichara refletiu esses propósitos, em evidente sintonia com o seu temperamento.
De acordo com a narrativa de Cartaxo, Ivan Bichara Sobreira era rigoroso com sua própria conduta e comportava-se na vida pública e em ambientes privados com a permanente preocupação de não se expor ao ridículo. “Jamais praticaria um gesto com feição de bravata, muito embora seja atitude recorrente na vida dos políticos em busca de popularidade. Ivan afasta-se desse modelo, tinha outro estilo, até pela falta de jeito para a política, como ele mesmo confessou”, assinala, para destacar que são descabidas as análises distorcidas das realizações de sua gestão como chefe do executivo paraibano, minimizando os efeitos concretos de ações de governo”. No capítulo, “Frassales” reproduz comentário deste colunista de que Ivan Bichara realizou uma administração operosa e ética e que o espírito sereno foi confundido com falta de pulso ou de autoridade – e, no entanto, Ivan surpreendeu a todos pela visão administrativa decorrente do conhecimento que tinha dos problemas da terra. Num esforço inaudito, procurou dar continuidade a obras e serviços em andamento e teve a austeridade como tônica maior.
Pela primeira vez elaborou-se um Plano com características globalizantes na Paraíba, priorizando os setores diretamente produtivos. Francisco Cartaxo observa que, mais do que o Plano de Ação do Governo – PLANAG foi fundamental a criação/organização do Sistema Estadual de Planejamento. A montagem desse sistema veio acompanhada de treinamento de mão de obra, de formação de técnicos capazes de conduzir a modernização da máquina administrativa, tornando-a apta a realizar estudos e pesquisas, elaborar projetos e dar suporte técnico aos pleitos do Estado, sobretudo junto à União, antes mais do que hoje, fonte de apoio financeiro para grandes investimentos.
Para “Frassales”, Ivan Bichara Sobreira demonstrou clarividência em muitas das iniciativas que foram executadas na sua administração e chegou a ir além de experimentos que eram adotados em outros Estados. Desse ponto de vista, conclui que Bichara empreendeu mandato inovador, em certo sentido revolucionário para a transformação da Paraíba e pautado pela ética e pelo zelo com os recursos públicos. Para Cartaxo, bastam esses fatos para que, enfim, se faça justiça ao trabalho de Ivan Bichara Sobreira como governador do Estado da Paraíba e se exorcizem versões recorrentes, adrede orquestradas para tentar desqualificar ou desgastar a gestão do cajazeirense ilustre.