Nonato Guedes
A provável candidatura do ex-ministro da Saúde, o cardiologista paraibano Marcelo Queiroga, a prefeito de João Pessoa, nas eleições do próximo ano, pode ainda ser uma incógnita do ponto de vista da confirmação ou dos trâmites partidários e legais a que ele precisa se submeter, mas não é encarada como “blefe” por analistas políticos locais. Desde antes de ser ministro, quando presidiu a Sociedade Brasileira de Cardiologia, Queiroga credenciou-se em articulações lobistas de interesses corporativistas dentro do Congresso, demonstrando invejável jogo de cintura nos diálogos sobre pautas que exigiam muita persuasão para serem encampadas e aprovadas. Apesar de criticado por endossar posições negacionistas do chefe, Jair Bolsonaro, na pandemia de covid-19, em alguns casos afrontando a Ciência, Queiroga deu partida à campanha de vacinação e manteve-se incólume até o fim do governo, mesmo andando sob o fio da navalha.
Foi mordido pela mosca azul da política em plena campanha de 2022, quando teve seu nome cogitado para concorrer a mandato eletivo na Paraíba, fosse a deputado federal, a senador ou até mesmo a governador, mas diz-se que por apego e deslumbramento com o cargo de ministro da Saúde preferiu permanecer na Pasta até o último dia, perfazendo quase dois anos de atuação controvertida. Com tradição política na família – teve um irmão vereador em João Pessoa – Marcelo Queiroga tem dito, agora, que o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro vai investir em quadros qualificados, capazes de enfrentar situações difíceis, como já investiu no pleito de 2022, elegendo o ex-ministro Tarcísio Freitas ao governo de São Paulo e a ex-ministra Damares Alves ao Senado, além do ex-ministro Sergio Moro também ao Congresso. Todos bafejados pelo pálio da onda conservadora bolsonarista, idealizada para ser um contraponto ao discurso mais à esquerda de expoentes do Partido dos Trabalhadores.
O investimento em candidaturas a prefeito nas Capitais, ao que se sabe, faz parte de uma estratégia nacional do bolsonarismo para reconquistar espaços e se preparar para uma revanche contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026, de preferência com o nome de Jair Bolsonaro, que é fator natural de radicalização política-ideológica, diante do seu próprio estilo brigão e do aparente engajamento com as demandas conservadoras, algumas delas reacionárias, em diferentes setores de atividade. Bolsonaro e seus apoiadores tentam segurar a narrativa de que o esquema perdeu a eleição presidencial mas nem de longe está morto, já que, além de deter o controle de Estados influentes como São Paulo, tem bancadas expressivas, sobretudo na Câmara dos Deputados e no Senado, com expoentes de nível para atrapalhar os rumos do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O bolsonarismo continua com um pé dentro do Centrão, o agrupamento fisiológico parlamentar, apesar dos movimentos de Lula e seus partidáriso para se infiltrarem no coração desse bloco, influenciando votações de matérias em plenário. É um jogo de profissionais por nacos de poder.
Se Marcelo Queiroga lograr se impor como candidato a prefeito de João Pessoa pelo PL nas eleições vindouras, esse movimento terá o condão de embolar o meio do campo do quadro eleitoral que se descortina, principalmente entre representantes assumidos da direita. Nos últimos meses tem se insinuado uma pletora de pretendentes à cadeira de Cícero Lucena (apoiado pelo governador João Azevêdo, do PSB), desde o comunicador Nilvan Ferreira, que avançou para o segundo turno em 2020, ao deputado estadual Walbber Virgolino e ao deputado Cabo Gilberto Silva, que agora exibe vistoso broche de federal, cacifado por uma votação expressiva à Câmara e pela linha direta que mantém com o ex-presidente Jair Bolsonaro. A simples cogitação da “hipótese Queiroga” já produziu ensaios de novos cenários, além de desencadear um processo de discussões que, segundo se afirma, chegará à instância nacional do PL, presidido por Valdemar Costa Neto. O presidente estadual da legenda, Wellington Roberto, deixou claro que a palavra final, em caso de impasse, será da Executiva de Brasília.
Caso viabilize o empreendimento que, agora, corteja, o ex-ministro da Saúde não será o único postulante de oposição aos governos do presidente Lula e do governador João Azevêdo em 2024. Deputados como Ruy Carneiro e políticos sem mandato como Nilvan Ferreira engrossarão o rol de críticas políticas e administrativas, com maior ou menor ênfase no plano federal ou no plano estadual. Mas é fato que uma virtual candidatura do ex-ministro significará fato novo relevante no processo que vem sendo desenhado para as eleições de 2024, podendo elevá-lo à condição de desafiante ou antagonista do atual prefeito Cícero Lucena, que buscará a reeleição. O prefeito (do PP) tem base e estrutura que lhe dão confiança para uma batalha acirrada, enfrentando quem quer que seja. Mas, no íntimo, tem consciência de que será uma parada dura, mormente se um nome da expressão de Queiroga entrar no páreo. O ex-ministro tem cacife para trazer Bolsonaro para dentro do campo de batalha, feito que Nilvan e outros aspirantes não materializaram lá atrás.