Nonato Guedes
Uma reportagem do “Poder360” destaca em manchete que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem priorizado, neste terceiro mandato, as viagens ao Nordeste e Sudeste, esquecendo do Sul. A matéria acrescenta que os Estados mais visitados foram São Paulo e Bahia, sendo que o primeiro é o maior colégio eleitoral do país e é berço político do mandatário. O texto revela que nas eleições de 2022 o então candidato Lula ganhou com folga no Nordeste e perdeu no Sudeste, e mais: que o Sul e Centro-Oeste, regiões em que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem amplo apoio da população e do agronegócio, ficaram supostamente escanteados. Em relação a São Paulo, ao todo o presidente teve cinco viagens com compromissos oficiais e duas sem agenda formalmente divulgada. Em São Paulo, Lula perdeu a eleição mas teve em 2022 muito mais votos do que Fernando Haddad em 2018.. O Estado, junto com Rio e Minas Gerais, foi essencial para a nova ascensão do petista ao Planalto.
A informação do “Poder360” não é inverídica, em absoluto, mas aliados do presidente acreditam que a comparação é agitada, na mídia, com o interesse de reforçar o preconceito, sobretudo, contra a região nordestina. Parlamentares sulistas têm se manifestado sobre supostos privilégios concedidos ao Nordeste pelo governo do presidente Lula. Essa tese obscurece o fato de que a atual gestão não está promovendo derrame de recursos ou de investimentos em Estados do Semiárido, mas apenas resgatando dívidas contraídas por governos anteriores que não se preocuparam em conter as desigualdades entre regiões. O que certos setores não admitem é que o Nordeste vive uma nova realidade, com a descoberta de potencial em energias renováveis e está explorando esses recursos para romper a dependência que, durante décadas, perdurou como uma aberração constitucional e legal. Nesse sentido, o papel do Consórcio Nordeste, presidido pelo governador da Paraíba, João Azevêdo, tem sido decisivo para unificar pautas e encaminhar demandas conjuntas às esferas federais.
O próprio “Poder360”, ao comentar as viagens de Lula, reconhece que Bolsonaro perdeu a eleição sobretudo porque seu desempenho somado nos três maiores Estados do Sudeste (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro) foi muito pior do que em 2018. Ressalrta que se o ex-presidente não tivesse sido abandonado pelos 11,4% de eleitores sudestinos de São Paulo, Rio e Minas, teria sido reeleito. Lula venceu nacionalmente com uma vantagem de apenas 2,1 milhões de votos. “Em suma – traduz a reportagem, de forma didática – Lula venceu não porque “estourou” no Nordeste. Claro que o voto nordestino foi vital para o petista, mas sem a queda de Bolsonaro em seu principal reduto, Lula não ganharia. É verdade que o Nordeste é a região onde Lula tem mais aliados administrando os Estados, e foi também a região em que teve seu melhor desempenho nas eleições de 2022, recebendo 66,76% dos votos válidos no primeiro turno e 69,34% no segundo turno, derrotando o então presidente Jair Bolsonaro”. Mas isto reflete uma conjuntura peculiar, atípica, por isso mesmo vulnerável a mutações de variadas espécies.
Em governos anteriores, inclusive alguns que ascenderam ao poder no regime militar, houve maciça predominância de sulistas em ministérios, com baixíssima taxa de participação de representantes do Nordeste em Pastas valorizadas por grupos políticos pelo robusto orçamento que detinham e pelo alcance e repercussão na execução de políticas públicas destinadas a beneficiar segmentos carentes da população. Num desses governos, cunhou-se a expressão “paulistério” para designar equipes que tinham o poder da caneta e a perspectiva de distribuir obras, serviços e avanços para Estados e municípios, empenhados numa competição sobre quem abocanharia o maior quinhão. No governo de Jair Bolsonaro ganhou evidência um nordestino – o cardiologista Marcelo Queiroga, que assumiu a Saúde em plena calamidade da covid-19 e que procurou ser diligente no atendimento à população, malgrado as teorias conspiratórias e negacionistas que, infelizmente, permearam e contaminaram a gestão Bolsonaro como um todo.
O que se nota é que, por trás da orquestração contra o Nordeste, há um esforço para inibir o governo federal nas ações que precisam ser executadas na região. Mas está difícil sustentar a orquestração porque o governo federal tem sido atento com as reivindicações dos Estados de outras regiões, inclusive, promovendo reuniões com os respectivos governadores ou mantendo parcerias institucionais, mesmo com os que são declaradamente opositores seus. Foi emblemática nesse sentido aquela visita que o presidente Lula fez a São Paulo para, juntamente com o governador bolsonarista Tarcísio de Freitas, adotarem providências para fazer frente ao drama das enchentes. Não há como negar o espírito republicano que preside as iniciativas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, desde o primeiro mandato .Ele tem consciência de que governa para o Brasil e que seu papel é unir a Nação. Diferentemente de Bolsonaro que, quando presidente, atacou governadores, em especial os do Nordeste, como descarada represália por não ter tido a votação expressiva que ambicionava possuir entre os nordestinos.