Nonato Guedes
A movimentação política ensaiada pelo ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro, o cardiologista paraibano Marcelo Queiroga, que ambiciona uma provável candidatura a prefeito de João Pessoa nas eleições do próximo ano, o está transformando em “pivôt” da discórdia no PL, legenda a que está dando assessoria em nível nacional. Nas últimas horas, o comunicador Nilvan Ferreira e o deputado estadual Walbber Virgolino ameaçaram desfiliar-se do partido se houver uma imposição de cúpula da candidatura do ex-ministro a prefeito. Ambos defendem que a definição sobre o representante do PL na disputa ocorra mediante critérios democráticos, que incluam densidade eleitoral e capacidade de união e liderança do escolhido. Na hipótese de prevalecer imposição de cima para baixo, defecções poderão acontecer na agremiação.
Nilvan Ferreira, que já foi candidato a prefeito da Capital e a governador do Estado, tendo avançado para o segundo turno na primeira disputa, reiterou a jornalistas que caso se sinta preterido ou escanteado poderá migrar para outra legenda e, assim, viabilizar o projeto de candidatura na Capital, que não sai do seu radar. Walbber chegou a ser dramático ao propor que, em caso de mudança de rota, o próprio partido tome a iniciativa de expulsá-lo, a fim de que possa obter espaços em outras fileiras da direita conservadora no Estado. Além de cultivar pretensões em relação ao páreo municipal em João Pessoa, Walbber Virgolino mira no reduto de Cabedelo, cidade portuária situada no entorno da Região Metropolitana abarcada pela Capital. Em comum entre os dois postulantes, a rejeição à escolha de um nome pelo bolso do colete, como temem que aconteça se for materializado ou confirmado o lançamento da candidatura do ex-ministro Marcelo Queiroga. O deputado federal Cabo Gilberto Silva também é listado no rol de opções em João Pessoa.
Os concorrentes de Marcelo Queiroga evitam rotular o ex-ministro da Saúde como “paraquedista político” pelo fato dele, até então, não ter postulado mandatos eletivos, nem mesmo em 2022, quando estava no auge da notoriedade, pela ação no combate à covid-19 e, também, em virtude das polêmicas criadas ao defender ostensivamente o governo do presidente Jair Bolsonaro. Mas não escondem o desconforto com as especulações favorecendo o nome de Queiroga, que, além de ter linha direta com o ex-presidente Bolsonaro, tem trânsito junto à presidente do PL Mulher, Michelle Bolsonaro, e espaço de interlocução com a direção nacional, presidida por Valdemar Costa Neto. O nome de Marcelo irrompeu no páreo depois do retorno de Jair Bolsonaro dos Estados Unidos e das articulações políticas que o ex-presidente passou a deflagrar tendo em vista a disputa municipal de 2024 no país. Há uma expectativa de que o ex-mandatário percorra centros urbanos influentes na campanha vindoura para tentar recuperar espaços de prestígio e poder político.
O ex-ministro Marcelo Queiroga é temido por bolsonaristas paraibanos não por causa do potencial de votos que possa vir a capitalizar se for confirmado como candidato a prefeito do maior colégio eleitoral do Estado, mas em face da aproximação mais direta que possui com o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu “staff”, por ter sido um ministro que se expôs na linha de frente do tiroteio contra o governo anterior, quando este foi execrado devido a declarações negacionistas e a posturas de confronto com governadores que adotaram medidas restritivas nos Estados para impedir o agravamento da calamidade. Fontes bem informadas ressaltam que a lealdade de Queiroga teria selado um pacto do ex-presidente Bolsonaro para com ele, fator que poderia influenciar na escolha do ex-ministro para candidato a prefeito da Capital paraibana, já que em último caso a direção nacional pode interferir no processo e impor candidatura.
A posição do presidente estadual do PL na Paraíba, deputado federal Wellington Roberto, é a de fazer, por enquanto, o papel de “algodão entre cristais”, tentando acalmar correligionários como Nilvan Ferreira e Walbber Virgolino ou o deputado federal Cabo Gilberto Silva, ao mesmo tempo em que tenta acomodar e adaptar o ex-ministro Marcelo Queiroga à realidade da política e do poder no Estado da Paraíba, levando em consideração que até agora ele é jejuno nas matérias, embora passe a impressão de que é detentor de um jogo de cintura política invejável. O ex-ministro já se declarou, sem modéstia, “qualificado” para concorrer à prefeitura e, mesmo, para exercê-la em João Pessoa. Tem procurado dosar o auto-elogio com acenos de união em torno de ideais conservadores que representariam o legado de Jair Bolsonaro, derrotado em segundo turno em 2022 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No momento, o cenário não contempla projeção de unidade interna nas hostes bolsonaristas, o que estimula o prefeito Cícero Lucena (PP), candidato à reeleição com o apoio do governador João Azevêdo, a dobrar apostas numa nova vitória nas urnas, em meio a uma ofensiva administrativa que está anunciada para os próximos meses.