Nonato Guedes
Além de resolver demandas administrativas prioritárias ou inadiáveis, o governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB) está atento às eventuais arestas entre integrantes de partidos que compõem a sua base de sustentação política, convencido de que a união é fundamental para fortalecer o projeto de sobrevivência do seu esquema nas eleições futuras, em 2024 (municipais) e em 2026, estas envolvendo o Executivo Estadual e vagas no Senado, na Câmara Federal e Assembleia Legislativa. Em declarações à imprensa, ontem, ao cumprir agenda junto com o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), refutou pressões para persuadir o gestor da Capital a trocar de legenda e migrar para o PSB. João deixou claro que essa condição nunca foi colocada como fundamental para manter a parceria empreendida com o gestor e que, na sua opinião, tem resultado em obras e benefícios para a população peessoense.
As pressões nesse sentido são recorrentes por parte de líderes da base que reivindicam maior afinidade ideológica entre o prefeito Cícero Lucena e o governador João Azevêdo. É fato, entretanto, que o perfil ideológico não foi predominante para aliançar os dois políticos na campanha de 2020, quando Lucena retornou à atividade política filiado ao Progressistas. Na formação da chapa à sua própria reeleição, em 2022, o chefe do executivo concordou em escolha de última hora que contemplou Lucas Ribeiro, do PP, então vice-prefeito de Campina Grande e expoente de um esquema situado mais à direita. Não há inflexibilidade ideológica da parte do governador, sobretudo quando ele considera possível construir relações mínimas de identidade no campo político. De resto, o próprio Azevêdo, em meio a quedas-de-braço com o ex-governador Ricardo Coutinho dentro do PSB, passou uma temporada no Cidadania, até conseguir viabilizar seu regresso às hostes socialistas, prestigiado como uma liderança de projeção pela cúpula nacional do PSB, presidida por Carlos Siqueira (PE).
O governador, que pessoalmente é alinhado com a centro-esquerda, tem procurado atrair partidos com viés de esquerda para compor-se com sua administração, a exemplo das tratativas com o Partido dos Trabalhadores. As articulações nem sempre são bem-sucedidas na sua plenitude, devido à situação de comando das próprias legendas cortejadas. O PT paraibano, por exemplo, tem representantes participando do segundo governo de João Azevêdo, embora, formalmente, nas eleições de 2022, o partido tenha fechado aliança no primeiro turno com o senador Veneziano Vital do Rêgo, do MDB. Para a campanha de 2024, o PT municipal já anunciou preferência por candidatura própria, enquanto o PT estadual tem mantido canais de interlocução abertos com a gestão socialista. O PSB chegou a enviar emissários para um encontro de partidos de esquerda em que foi discutida a conjuntura política mais ampla. Da parte do prefeito Cícero Lucena, acenos já foram feitos, e repetidos, para que o PT venha se somar ao projeto administrativo que está em curso na Capital paraibana.
Nos últimos dias surgiu um quiproquó por causa de declarações do presidente da Assembleia Legislativa, Adriano Galdino, do Republicanos, sugerindo que o governador assumisse o comando do PSB para facilitar composições com vistas aos pleitos futuros – o que, se concretizado, afastaria o deputado federal Gervásio Maia, recentemente reconduzido à presidência, da posição de destaque que atualmente ocupa. Ainda ontem, João Azevêdo reiterou que respeita a opinião pessoal do seu aliado político e sócio da governabilidade, mas considera não haver razão para tanto. Segundo entende, o clima é de harmonia dentro do PSB e de acatamento democrático às decisões que são tomadas ou às pautas que são discutidas, mirando não só a conjuntura estadual propriamente dita como a conjuntura nacional em que o Partido Socialista compartilha o poder com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Testado em duas eleições majoritárias com êxito na Paraíba e já demonstrando visível habilidade política nesse campo, João Azevêdo move-se de forma a não ser fonte de conflitos entre aliados que dão ao seu governo uma posição confortável.
No campo administrativo, o chefe do Executivo sinaliza estar antenado com as urgências de momento, a exemplo do erro de cálculo que penalizou a Paraíba na questão do pagamento do piso salarial nacional aos profissionais de Enfermagem, tendo sido agendada uma audiência sua com a própria ministra da Saúde para reavaliação de cenários e de números percentuais, de forma a não ocorrer desigualdade. O governador João Azevêdo rechaça insinuações de líderes oposicionistas de que o governo Lula estaria penalizando o nosso Estado, desafiando os adversários a que provem tal realidade. Como presidente do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento do Nordeste, Azevêdo tem uma visão ampla sobre toda a região e, embora respeitando conquistas pontuais de outros Estados, não deixa de empunhar as bandeiras da Paraíba que considera imperiosas ou essenciais, depois do jejum forçado do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.