Nonato Guedes
Embora esteja empenhado em incentivar a programação dos 40 anos do “Maior São João do Mundo” e em tocar a pauta administrativa imediata, com os desafios em diversos segmentos de atividade, o prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima (PSD) também está atento ao impasse político que ronda o projeto de sua candidatura à reeleição, em virtude do distanciamento do ex-prefeito e atual deputado federal Romero Rodrigues (Podemos), que tem sido estimulado nos bastidores a romper com a atual administração e se preparar para ser novamente candidato à prefeitura em 2024. Por enquanto, Romero tem dito que considera cedo para colocar na mesa o debate das eleições municipais, mas, na prática, os sinais de distanciamento são visíveis e dão margem a especulações e à ação dos “pescadores de águas turvas”.
Fontes próximas ao ex-prefeito revelam que ele está desconfortável com algumas atitudes tomadas por Bruno, por cuja eleição atuou, contribuindo para que ele liquidasse a fatura no primeiro turno do pleito de 2020. Há queixas de que o sucessor propaga a paternidade de obras relevantes dentro de uma estratégia para esvaziar obras e ações da gestão de Romero. Para além disso, há o registro de que aliados de Romero foram alijados ou desprestigiados à frente de cargos na gestão de Cunha Lima. Por último, há o contencioso da aproximação que tem sido intensificada entre Bruno Cunha Lima e um adversário histórico de Romero, o senador emedebista Veneziano Vital do Rêgo. A relação de aproximação entre eles foi construída na campanha majoritária estadual de 2022, quando Veneziano, no segundo turno, apoiou a candidatura do ex-deputado Pedro Cunha Lima (PSDB) a governador, ficando no ar a possibilidade de contrapartida do “clã” de Pedro à candidatura de Veneziano à reeleição ao Senado em 2026.
Em paralelo, a relação entre Bruno e Romero tem sido desgastada por comparações agitadas informalmente entre correligionários dos respectivos líderes, envolvendo saldo de realizações administrativas e, até mesmo, grau de liderança política de um e outro, tanto no cenário de Campina Grande como na conjuntura estadual. Bruno e seus apoiadores consideram injusta a comparação administrativa, até porque o atual prefeito está no exercício do primeiro mandato, enquanto o ex-prefeito cumpriu integralmente dois mandatos, totalizando oito anos. Por outro lado, ressalta-se que cada um seu estilo e que as conjunturas em que foram colocados à prova são distintas, mencionando-se como exemplo a calamidade da covid-19, um desafio que Romero principiou a enfrentar em meio a muitas incertezas, falta de recursos e de vacinas para atender à população. Nem por isso, teria se omitido ou deixado de dar sua parcela efetiva para evitar uma tragédia de dimensões catastróficas na Rainha da Borborema.
A chegada do senador Veneziano Vital do Rêgo ao bloco liderado pelos Cunha Lima em Campina Grande provocou ruído neste agrupamento, diante de pretensões inconfessáveis para o futuro. Não está em jogo apenas a luta para indicação de vice de Bruno na chapa para um segundo mandato à frente do Palácio do Bispo, que é sede da prefeitura em Campina, mas uma avaliação recôndita da parte de Romero de que pode ir mais além no quadro político, se for o caso concorrendo ao tricampeonato municipal, embora tenha assumido apenas há poucos meses o mandato na Câmara Federal. Houve um episódio emblemático do ruído na cidade de Lagoa Seca, onde um evento de inauguração de creche comandado pela prefeita teve Romero e Veneziano como convidados, além, é óbvio, do prefeito Bruno Cunha Lima. Tentou-se montar um ambiente de pré-pacificação, mas o próprio Romero, com atitude de retraimento, pôs água no “chopp” em torno dessa articulação e ainda jogou dúvidas ao vento sobre definições para a sucessão na cidade-rainha
Veneziano deixou escapar que, nessas condições de temperatura e pressão, poderia reavaliar projetos políticos do seu esquema e do partido que preside, o MDB, o que criou uma zona de sombra nas especulações, que ganharam mais intensidade vislumbrando os mais inimagináveis cenários relacionados à sucessão do prefeito Bruno Cunha Lima à frente da prefeitura do segundo colégio eleitoral do Estado. Essas divisões levaram, ontem, o vice-governador Lucas Ribeiro, do PP, a fazer prognósticos otimistas sobre as chances da oposição ao esquema Cunha Lima na Rainha da Borborema. O nome da senadora Daniella Ribeiro (PSD), mãe de Lucas, continua no radar para a hipótese de disputar a prefeitura campinense pelo esquema do governador João Azevêdo, mas há outros nomes sendo cogitados, o que, definitivamente, antecipa o processo eleitoral municipal, apesar da manobra do esquema que está no poder para protelar discussões a fim de não ofuscar o rendimento administrativo. Bruno tem consciência de que precisará contornar o impasse com rapidez, antes que ele tome proporções comprometedoras para seu projeto de recondução.