Nonato Guedes
O senador paraibano Veneziano Vital do Rêgo, indicado pelo MDB como integrante da Comissão Mista Parlamentar de Inquérito instalada para investigar os atos antidemocráticos de 8 de janeiro contra as sedes dos Poderes em Brasília, manifestou sua confiança em que será possível um esclarecimento definitivo dos atos de vandalismo que foram praticados e que tiveram repercussão internacional. Na opinião de Veneziano, que é primeiro vice-presidente do Senado Federal, há muitas narrativas fantasiosas em torno dos acontecimentos, as quais poderão ser desconstruídas ou demolidas com o aprofundamento das investigações, uma vez que já há apurações e punições conduzidas por outras instituições. “O importante é que a democracia seja preservada e não atacada”, salientou Veneziano, admitindo que embates acirrados deverão ocorrer no âmbito da CPMI.
A CPMI é presidida pelo deputado federal Arthur Maia, do União Brasil da Bahia e tem como relatora Eliziane Gama, do PSD do Maranhão, além do senador Cid Gomes (PDT-CE) na primeira vice-presidência. O governo priorizou a diversidade na composição da CPMI ao escolher seus representantes e, igualmente, indicou preferência por congressistas com visibilidade midiática, posicionamentos combativos e experiência no Legislativo. Isso porque políticos com esse perfil, no geral, têm alcance e repercutem nas redes sociais, palco onde o governo e a oposição deverão disputar qual a narrativa que prevalecerá ao final dos trabalhos. O pedido de abertura da CPI havia ficado engavetado, inicialmente, porque integrantes e aliados do governo eram contra a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito mista para investigar as invasões, por avaliarem que seria uma tática orquestrada para desgastar o Executivo. A situação mudou e a instalação tornou-se inevitável quando, em 19 de abril, foram divulgadas imagens do ex-chefe do GSI, Gonçalves Dias, no Palácio do Planalto no dia da invasão, circulando entre os vândalos e aparentemente não atuando para conter as depredações. Na mesma data o general pediu demissão.
Veneziano Vital do Rêgo, que foi candidato ao governo da Paraíba e teve o apoio de Lula no primeiro turno, mantendo-se, ainda hoje, como interlocutor privilegiado junto ao Palácio do Planalto, estava em Brasília quando eclodiram os atos de vandalismo, substituindo ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e pôde, do posto que ocupava, fazer contatos e determinar providências que considerou necessárias ou imperiosas para conter a avalanche de vandalismo que se espalhou pela Capital da República. Nas últimas horas, o senador paraibano opinou que são levianas as versões de que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha sido leniente no combate ao terrorismo, supostamente imbuído do propósito de desgastar apoiadores e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. “Tal insinuação é absurda e será desmoralizada no bojo de uma investigação criteriosa”, ressalta o parlamentar, dizendo que se sentiu distinguido com a sua indicação pelo MDB para compor o colegiado.
O emedebista e vice-presidente do Senado chamou a atenção para o fato de que os atos de vandalismo verificados no dia 8 de janeiro sinalizaram o sequenciamento de uma escalada golpista que o então presidente Jair Bolsonaro e seu governo vinham patrocinando ostensivamente, a partir da campanha para descredibilizar o sistema eleitoral brasileiro fundado na urna eletrônica até outros expedientes de terrorismo psicológico, refletidos em “fake news” espalhadas nas redes sociais a respeito de temas graves da conjuntura nacional. Entende que essas orquestrações estimularam a disseminação de atos impunes, a exemplo dos acampamentos montados na frente dos quartéis em diversas Capitais, onde manifestantes bolsonaristas contestavam o resultado de eleições limpas que deram a vitória ao candidato do Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O objetivo final era criar um ambiente de tumulto institucional, afetando a normalidade do funcionamento das instituições em várias esferas de poder.
Ao assumir o comando da CPMI, o deputado Arthur Maia foi enfático ao informar que as investigações seguirão todos os trâmites do processo democrático e que a comissão se dedicará a esclarecer os fatos, não em confirmar narrativas. “Esta comissão estará prestando um serviço à democracia, porque não é razoável que tenhamos vivido aquilo que aconteceu no dia 8 de janeiro, com a invasão dos Três Poderes, e nada disso seja investigado por essa própria Casa. Nós sabemos que há uma narrativa de que tudo o que aconteceu está envolvido em uma orquestração maior de um possível golpe para interromper a democracia. E isso tem que ser investigado, não pode passar em branco. Por outro lado, eu sei, também, que existe a narrativa de que houve facilitações. Enfim, todos esses discursos existem, mas todos nós, senadores e deputados, temos a obrigação de com toda a honestidade colher as provas e fazer isso publicamente”. A sociedade põe-se em expectativa diante da oportunidade de elucidação dos fatos para que seja virada uma página triste da História do Brasil.