Nonato Guedes
O presidente estadual do Partido dos Trabalhadores na Paraíba, Jackson Macedo, tem se esforçado para unificar posições dentro da legenda com vistas à disputa das eleições municipais do próximo ano, especialmente em João Pessoa. Ele faz movimentos de aproximação com outras forças do chamado campo democrático e progressista, visando a formação de frente ampla em diferentes regiões para dar combate a candidatos bolsonaristas ou alinhados com a extrema-direita. A missão de Macedo não tem sido fácil, curiosamente, dentro do próprio PT local, que insiste em cultivar uma postura de “racha” a pretexto de esgotar alternativas que possam favorecer o desempenho ou a expansão da legenda. O que se nota é que os dissidentes estão na contramão da dinâmica política e acabam esfacelando articulações que podem promover um consenso positivo para metas de conquista de espaços e do próprio poder.
No mesmo dia, neste último final de semana, as direções estadual e municipal do PT em João Pessoa promoveram eventos paralelos mas distintos, tendo como pano de fundo a conjuntura política-eleitoral que vai se firmar para o próximo ano e seus desdobramentos nas eleições subsequentes, em 2026. O diretório municipal, presidido por Antônio Barbosa, priorizou o debate sobre lançamento de candidatura própria a prefeito da Capital, acrescentando mais um nome ao rol de presumíveis postulantes – o da ex-deputada Estelizabel Bezerra, que já foi candidata em outra oportunidade e não logrou êxito. Ela divide a sugestão de indicação de nomes com a deputada estadual Cida Ramos, também derrotada uma vez no mesmo páreo, e com o deputado Luciano Cartaxo, que foi eleito duas vezes mas não conseguiu eleger sua candidata à sucessão. Enfim, as opções se diversificam ainda pela ex-prefeita do Conde, Márcia Lucena, e pelo vereador Marcos Henrique, com atuação no legislativo pessoense. Em comum, na verdade, a oposição ao prefeito Cícero Lucena (PP) e à sua gestão.
O histórico do PT em João Pessoa é recheado de incoerências e contradições, que alguns expoentes tentam camuflar com o rótulo de democracia interna. Só para citar cenários mais recentes: em 2020, aprovou-se a candidatura própria do deputado estadual Anísio Maia a prefeito de João Pessoa, mas o postulante foi flagrantemente “cristianizado”, inclusive, por cabeças coroadas, como o então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que gravou mensagem de apoio ao candidato de outro partido, o ex-governador Ricardo Coutinho, que estava no PSB. Nem Ricardo nem Anísio avançaram, sequer, para o segundo turno. Em 2022, Coutinho candidatou-se ao Senado, enfrentando problemas judiciais, e teve votação aquém das expectativas, o que indicou sintoma grave de desgaste da sua imagem como homem público. O governador João Azevêdo, mesmo apoiando Lula desde o primeiro turno, só veio a ter apoio de parte do PT no segundo, quando enfrentou o ex-deputado federal Pedro Cunha Lima, do PSDB.
Azevêdo, já reeleito, estreitou sua afinidade e aproximação com o presidente Lula e com ministros influentes da terceira gestão lulista, sendo, ainda, correligionário do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, que se candidatou pelo PSB e também é ministro, acumulando cargos no Planalto. João aproveitou petistas em cargos da administração estadual e, na condição de presidente do Consórcio Nordeste, atua alinhado com diretrizes do governo federal, especialmente no que se refere a políticas públicas que promovem o desenvolvimento econômico e a inclusão social. Tem estado sintonizado, ao mesmo tempo, com a diretriz nacional que foca no fortalecimento da democracia para enfrentar os bolsões autoritários e fascistas remanescentes da Era Bolsonaro, sob investigação em CPMI do Congresso Nacional por causa dos atos terroristas de depredação das sedes do Poderes em Brasília. O governador da Paraíba faz-se porta-voz das reivindicações unificadas de Estados da região e, em particular, agita ou empunha as bandeiras específicas do interesse da Paraíba, que ficaram boicotadas na Era Bolsonaro.
O diálogo entre o presidente estadual do PT, Jackson Macedo, e o governador João Azevêdo, é o melhor possível, e o Seminário de que ambos participaram no final de semana em João Pessoa intentou reforçar as pautas comuns que têm na defesa da democracia o principal elo. Sobre a disputa das eleições municipais de 2024, Jackson Macedo tem feito uma leitura realista dos cenários, advertindo para a necessidade de construir-se a união do campo progressista em torno de candidatura viável. Ele defende que o PT municipal até discuta opções própria mas priorize nomes com chances de vitoriar e de fazer as forças democráticas avançarem no Estado da Paraíba. Jackson está dizendo que chegou a hora do PT na Paraíba ser efetivamente pragmático para poder se fortalecer e ganhar capilaridade nas eleições que ainda virão pela frente.