Nonato Guedes
Enquanto mantém, atualmente, o foco na ação administrativa, deflagrando obras e investindo na parceria com os municípios e na interlocução com ministérios e outros órgãos da gestão federal, o governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB) prepara-se para atuar ativamente na campanha eleitoral de 2024, tanto na Capital como em Campina Grande e nos demais municípios, nas diferentes regiões do interior, dentro da estratégia de fortalecimento do seu esquema para eleições mais decisivas, em 2026. Segundo fontes ligadas a Azevêdo, o envolvimento do governador na campanha se dará gradativamente, e com habilidade, para conciliar interesses da base nos centros urbanos e manter o ambiente de unidade, considerado indispensável para o enfrentamento aos adversários, que já sinalizam possibilidades de divisão em alguns redutos, inclusive, naqueles mais estratégicos.
Em João Pessoa, onde está comprometido com a reeleição do prefeito Cícero Lucena, do Progressistas, Azevêdo tenta costurar uma frente ampla com ramificação sólida no campo progressista e de esquerda, dentro da perspectiva de dar combate a candidatos bolsonaristas que ameaçam se rearticular para provocar um cenário de polarização, daí tirando proveito junto aos eleitores. O governador enfrenta, dentro do PT, a resistência de uma ala que segue a orientação do ex-governador Ricardo Coutinho, filiado à legenda, que, de Brasília, por controle remoto, tenta influenciar nas decisões a serem exaustivamente debatidas dentro da agremiação para a tática eleitoral do próximo ano. Nesse caso específico, João é o fiador do projeto ambicionado por Cícero, tomando a frente de negociações ou entendimentos, mas, contando, também, com o reforço do próprio prefeito Cícero Lucena, que é reconhecido pela sua capacidade de diálogo.
Dentro do PSB, onde é a liderança maior, o chefe do Executivo enfrenta ensaios de mobilização para tornar viável lançamento de candidatura própria no pleito vindouro, pelo menos no primeiro turno, tendo em vista ampliar o crescimento do partido. Mas os pretendentes socialistas a uma indicação têm consciência de que o governador compartilha sua sustentação com o PP, o Republicanos e, em menor escala, com outras legendas. O papel de Cícero é considerado fundamental para cooptar apoios importantes e promover alianças que guardem afinidades mínimas na conjuntura estadual. Pela direita insinua-se uma pletora de aspirantes, alguns dos quais já são figuras carimbadas, derrotadas em outras eleições, mas com potencial que não é subestimado. Mais ao centro, espalham-se nomes como o do deputado federal Ruy Carneiro, que persegue a conquista da prefeitura pessoense e que em 2020 quase polarizou com Cícero, acabando em terceiro lugar. Ruy é respeitado por ter uma identificação com João Pessoa, onde ocupou cargo executivo numa das gestões do próprio Cícero Lucena.
A expectativa quanto ao desempenho do esquema político do governador, sobretudo, na Grande João Pessoa, tem sido intensificada diante do resultado das eleições de 2022, em que o ex-deputado Pedro Cunha Lima, candidato ao governo pelo PSDB, avançou substancialmente na Capital, cacifando-se para disputar o segundo turno contra João Azevêdo, para quem perdeu. Em Campina Grande, onde Pedro, também, foi expressivamente votado, o esquema do governador e do vice-governador Lucas Bezerra ainda não tem candidatura definida para dar combate ao prefeito Bruno Cunha Lima, que postulará a reeleição e que deverá ser turbinado pelo apoio do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), diante da aproximação que este fez junto ao “clã” Cunha Lima. A questão de Campina está em aberto, segundo dizem interlocutores de João Azevêdo com projeção no quadro político da Rainha da Borborema, e são várias as opções em exame para o acúmulo de forças rumo a um resultado favorável no segundo colégio eleitoral do Estado.
Em termos administrativos, como admitem, forçosamente, adversários do próprio João Azevêdo, os investimentos nos maiores centros urbanos têm sido dimensionados, sem que prejudiquem os pequenos e médios municípios onde o gestor socialista vitoriou com maior vantagem. O resultado de 2022 acabou levando Azevêdo, como se sabe, a assumir a bandeira do “governo municipalista” no Estado, expandindo programas e realizações por inúmeras regiões. O governador não tem descurado dos investimentos porque sabe que eles serão valiosos no momento de voltar a pedir votos, desta feita para prefeitos municipais. Afirma-se que há grandes e boas surpresas previamente agendadas pela administração estadual, como reflexo, também, da sua articulação com o governo federal, por quem passou a ser prestigiada na Era Lula. Azevêdo, que tem surpreendido a alguns analistas em relação à liderança de um projeto político, acredita que vai estar positivamente avaliado e, portanto, credenciado para exercer influência no processo eleitoral de 2024. A oposição, no contraponto, testa as chances de uma união que, a dados de hoje, parece improvável.