Nonato Guedes
O fato político de maior repercussão, ontem, na Paraíba, ocorreu em Campina Grande, onde dois adversários políticos, o governador João Azevêdo (PSB) e o prefeito Bruno Cunha Lima (PSD) cumpriram agenda, juntos, participando da abertura do Salão de Artesanato do Estado, evento paralelo ao transcurso de 40 anos do “Maior São João do Mundo”. Foi um exemplo inequívoco de civilidade política, embora o chefe do Executivo Estadual e o gestor da Rainha da Borborema já viessem dialogando há algum tempo sobre pautas exclusivamente administrativas, a partir de pedido de audiência formulado por Bruno para encaminhar demandas imperiosas. O prefeito, que é candidato à reeleição, tem procurado se fortalecer atraindo apoios como o do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), ex-candidato ao governo da Paraíba no pleito de 2022.
Na verdade, em declarações à imprensa, tanto João Azevêdo como Bruno Cunha Lima procuraram revestir a agenda de ontem de caráter de normalidade, como corolário da relação republicana que deve prevalecer entre gestores públicos com convicções políticas-ideológicas antagônicas. Esse tipo de relação tem se intensificado em todo o país, a partir de gestos de compartilhamento de ações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com adversários, principiando pela pauta cumprida em conjunto com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ex-ministro de Jair Bolsonaro, por ocasião de enchentes que devastaram a capital paulistana. Na Paraíba, mesmo, João Azevêdo já tomou café da manhã com deputados que lhe fazem oposição na Assembleia Legislativa e tem mantido interlocução com opositores que desejem dialogar. O que se diz é que o interesse público está acima das divergências, o que sempre foi verdade – e é certo que a opinião pública cobra exatamente essa postura dos representantes que elege, nem sempre sendo correspondida.
O que deu dimensão à agenda partilhada pelo governador com o prefeito de Campina Grande foi o momento político atual vivenciado no Estado, ainda de forte polarização, como desdobramento da campanha eleitoral que foi travada acirradamente em segundo turno, no ano passado, entre João Azevêdo e o então deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB). No paralelo, ressalte-se a movimentação já deflagrada por líderes políticos e dirigentes partidários tendo como foco as eleições municipais de prefeito, no próximo ano, ensejando rumores e especulações de chapas, candidaturas e composições para todos os gostos. O governador João Azevêdo, sempre que abordado a respeito, não esconde certo desconforto porque a atenção é desviada da agenda administrativa que está executando, e o próprio Bruno Cunha Lima, embora esteja na alça de mira para disputar novo mandato, se agasta quando chamado à colação sobre tricas políticas locais ou estaduais.
No tocante ao cenário propriamente dito que se desenha em Campina Grande para as eleições de 2024, o prefeito Bruno Cunha Lima tem muitos desafios a enfrentar, o principal deles definir sua situação partidária já que está numa legenda que, em nível estadual, apoia o esquema do governador João Azevêdo através da senadora Daniella Ribeiro, mãe do vice-governador Lucas Ribeiro. Além disso, a chegada do senador Veneziano Vital do Rêgo ao bloco de que Bruno faz parte provocou ciumadas da parte de um aliado histórico, o ex-prefeito e atual deputado federal Romero Rodrigues (Podemos), alimentando versões ou rumores de que ele possa romper com o “clã” que está no poder e voltar a concorrer à prefeitura, com suposto apoio do esquema de Azevêdo. Ultimamente o prefeito Bruno Cunha Lima tem gasto o seu tempo esculpindo elogios a Romero e incensando-o com frequência com alusões à sua liderança política, mas é claro que não abre mão da prerrogativa de concorrer à reeleição, até porque acredita estar colhendo frutos promissores e viabilizando projetos que agitou lá atrás, na praça pública, na campanha eleitoral.
Da parte do esquema do governador João Azevêdo, que representa a oposição a Bruno em Campina Grande, há um bate-cabeça com vistas à escolha do nome mais forte capaz de dar combate ao atual prefeito e derrotá-lo no projeto de recondução. O nome da senadora Daniella, que já foi candidata a prefeita uma vez, sem êxito, volta a ser lembrado para o páreo, mas ultimamente tem sido massificada a provável candidatura do secretário de Saúde do Estado, Jhony Bezerra, que, inclusive, assumiu posição de comando no diretório municipal do PSB no segundo colégio eleitoral da Paraíba e tem reiterado que está à disposição para cumprir tarefas que lhe sejam delegadas. O governador João Azevêdo tenta encontrar um nome viável e de consenso, que possa aglutinar apoios decisivos e capitanear uma virada histórica no processo político-eleitoral campinense. É um parto que ainda vai demandar muitas intervenções e possíveis reviravoltas, o que não impede, como ontem, que os meios políticos se agitem ao menor sinal de fato novo na conjuntura para 2024 numa cidade respeitada pela sua vocação para o desenvolvimento.