Nonato Guedes
A mobilização que a direção municipal do PSB em João Pessoa, comandada pelo secretário de Administração do Estado, Tibério Limeira, empreende para fortalecer o partido nas eleições municipais de 2024 tem incomodado ao prefeito Cícero Lucena (PP), que é candidato assumido à reeleição e começa a desafiar a habilidade política do governador João Azevêdo para contornar impasses no maior colégio eleitoral paraibano. Tudo porque essa mobilização está despertando, entre os socialistas, a ambição de lançar candidatura própria a prefeito com o argumento de que é preciso exercer posição de protagonismo no cenário pessoense. Cícero oferece ao PSB, novamente, a vaga de vice, com a permanência de Leo Bezerra na chapa.
O atual prefeito chegou a aconselhar socialistas a obedecerem à orientação do governador João Azevêdo, principal líder do partido e que tem reiterado compromisso de apoio à recondução de Lucena, inclusive, intensificando as parcerias com a administração municipal neste segundo mandato. Na mais recente manifestação sobre o assunto, João minimizou a gravidade das divergências, mas admitiu que as posições sobre aliança devem ser colocadas internamente na hora oportuna, quando for deflagrado o processo pré-eleitoral. Independente disso, Tibério Limeira tem adotado desenvoltura antecipadamente, coordenando plenárias para debater a organização de segmentos do PSB como Movimentos Populares, Juventude e Negritude, entre outros. Em paralelo, participa de eventos com partidos de esquerda a pretexto de defender pautas comuns de defesa da democracia e programas executados pelo governo do Estado. Cícero e o PP não participam diretamente dessas atividades.
Lá atrás, o deputado federal Gervásio Maia, presidente estadual do Partido Socialista, andou cogitando a possibilidade de candidaturas próprias da legenda a prefeito em todas as regiões, incluindo os maiores colégios eleitorais como João Pessoa e Campina Grande, invocando necessidade estratégica de ocupação de espaços, com vistas, também, às eleições de 2026. Posteriormente, Gervásio recuou no ímpeto com que se pronuncia sobre o processo eleitoral do próximo ano, abrindo uma janela para entendimentos com outros partidos que fortaleçam o bloco do governador João Azevêdo. O secretário Tibério Limeira, porém, tem alertado para a autonomia deliberativa dos partidos e também tem feito alusões ao fim do predomínio do caciquismo político, insinuando estar em curso uma nova mentalidade, decorrente da oxigenação porque passam as agremiações e do nível de cobrança que é formulado por segmentos representativos da sociedade civil, ávidos pela democratização de espaços e de tomada de decisões, tanto na esfera dos partidos como, principalmente, no entorno do poder, no que diz respeito aos interesses do povo.
A afinidade entre Progressistas e Partido Socialista na Paraíba passa longe do espectro ideológico, mas líderes das respectivas legendas asseguram que há uma convergência mínima, pontual, no campo político, e que este é o laço que possibilita o caminho das coligações entre os dois partidos para eleições futuras. Na verdade, o grande elo de ligação é a figura do governador João Azevêdo, que detém uma liderança natural e incontestável dentro do PSB desde que logrou retomar o controle da legenda no Estado, depois de memoráveis quedas de braço travadas com o ex-governador Ricardo Coutinho. Os tentáculos da liderança de João estendem-se por outros partidos, que, em 2022, na sua campanha à reeleição, fizeram parte não somente do seu palanque mas da própria chapa, como se deu com o PP no processo de escolha de Lucas Ribeiro para vice-governador do Estado, função que tem exercido com sinais de aprovação de outros expoentes da base oficial.
O governador, evidentemente, não ignora nem está alheio ao clima de “fogo amigo” que transcorre nos bastidores entre legendas do seu esquema de sustentação, a exemplo do PP e do PSB, mas é otimista em que as ambições sejam acomodadas pelo diálogo e pela necessidade de sobrevivência política que a conjuntura impõe. O deputado estadual Hervázio Bezerra, pai do atual vice-prefeito de João Pessoa, Leo Bezerra, ambos do PSB, é confiante na superação de desentendimentos ou de desinteligências tendo como pano de fundo a próxima eleição municipal na Capital paraibana. O problema, conforme alguns analistas, é que a relação entre o prefeito Cícero Lucena e o PSB de João Pessoa segue desgastada, o que ocasiona um desconforto mútuo e abre uma brecha para que líderes de oposição tentem apostar no divisionismo e tirar proveito colateral nas urnas. Daí a ponderação que tem sido feita, preventivamente, ao governador João Azevêdo, para agir no processo, conter a investida dos chamados pescadores de águas turvas e promover formas de conciliação, antes que sobrevenha uma fissura mais grave dentro da sua base de apoio e sustentação política.