Nonato Guedes
O cardiologista paraibano Marcelo Queiroga, que foi ministro da Saúde do governo Jair Bolsonaro, filia-se na manhã de hoje ao Partido Liberal em Brasília, com o pleno apoio do ex-presidente para pretensões políticas no Estado de origem, mas a sua propalada candidatura a prefeito de João Pessoa nas eleições de 2024 ainda é uma incógnita, devido a resistências opostas dentro da própria legenda. No PL paraibano há postulações lançadas já há algum tempo, como as do comunicador Nilvan Ferreira, do deputado federal Cabo Gilberto Silva e do deputado estadual Walbber Virgolino. Eles consideram que Queiroga está sendo imposto “de cima para baixo”, sem consulta às bases e aos verdadeiros detentores de voto, a exemplo de Nilvan, que chegou a avançar para o segundo turno na disputa de 2020 contra o atual prefeito Cícero Lucena.
O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, em depoimento gravado para vídeo a ser exibido em redes sociais, destacou a experiência do cardiologista na área pública do país, ressaltando que ele foi ministro da Saúde numa conjuntura extremamente difícil para a população, quando do agravamento da pandemia de Covid-19 e conduziu um “trabalho exemplar”, portando-se à altura dos desafios envolvendo a distribuição de vacinas e a logística do atendimento a pacientes contaminados em hospitais da rede. Nessa linha de raciocínio, avaliou que Queiroga vai ser muito importante para contribuir com encaminhamento de demandas urgentes, inclusive, no que diz respeito à obtenção de recursos para programas que são considerados prioritários. Outros expoentes nacionais do PL mencionam Queiroga como um quadro relevante e até mesmo imprescindível na quadra política atual, por causa das suas ligações com o ex-presidente Bolsonaro.
Desde as eleições de 2022 o nome do então ministro da Saúde figurou no radar da política paraibana, sendo lembrado ora para disputar mandato de deputado federal, ora para concorrer ao próprio governo do Estado. Ele frustrou admiradores quando decidiu permanecer na Pasta e mobilizou-se para lançar um filho, Cristóvão Queiroga, à disputa, em empreitada que se revelou desastrada até por óbices legais que eclodiram contra ele. Adversários seus na Paraíba sempre o trataram como “carreirista político” e criticaram Marcelo Queiroga por apego excessivo ao poder, diante da projeção conquistada no Ministério da Saúde em plena pandemia. Ele se envolveu em polêmicas, desafiou a Ciência por algumas vezes para defender as posturas negacionistas do ex-presidente Bolsonaro e chegou a se atritar com manifestantes que, no exterior, hostilizaram o ex-mandatário como “genocida”. Essa fidelidade canina garantiu a Queiroga a gratidão do ex-presidente.
Os concorrentes do ex-ministro dentro do PL reconhecem as suas qualidades profissionais e a sua competência, bem como a projeção conquistada em meio a uma conjuntura adversa que gerou muitas controvérsias e provocou reações da parte de governadores – inclusive o da Paraíba, João Azevêdo (PSB) – na contramão da pregação bolsonarista. Os gestores foram criticados por Bolsonaro porque recorreram a medidas de isolamento social recomendadas pela Organização Mundial da Saúde para conter o avanço da pandemia de covid-19, o que afetou o funcionamento do comércio e de outras atividades produtivas. Nesse quiproquó, Queiroga aparentemente fez cara de paisagem, mas endossou falas do presidente da República enquanto agia para contornar o estrago, acelerando aquisição e distribuição de vacinas reclamadas por todos os Estados. De resto, o então ministro estava enrolado em suas próprias contradições, tendo que se explicar perante a comunidade científica e representantes do Parlamento, principalmente da bancada de oposição. Nesse ínterim, ganhou notoriedade inevitável, dentro e fora do Brasil.
O ex-ministro é questionado por expoentes do PL da Paraíba pelo fato de querer ser político mesmo tendo estado ausente há anos do Estado, atuando em centros maiores, onde presidiu a Sociedade Brasileira de Cardiologia. O comunicador Nilvan Ferreira tem dito que a decisão sobre candidatura a prefeito de João Pessoa deve partir do campo majoritário da direita que milita ativamente ou concretamente na Capital e no Estado, bem como levar em conta a densidade eleitoral que o ungido possa ter para derrotar o prefeito Cícero Lucena, candidato do governador João Azevêdo, e outros virtuais postulantes que se apresentarem até a campanha propriamente dita. Nesse sentido, entende que o ex-ministro deveria ter dialogado com as forças conservadoras locais antes de tentar se impor “por cima”, com o respaldo da cúpula nacional. Queiroga tem feito malabarismo, prometendo vir a João Pessoa depois da filiação e pregando o bordão de que “a hora é de união”. Se depender do presidente estadual do partido, deputado Wellington Roberto, a parada será decidida pela Executiva Nacional, onde Queiroga tem apoio e simpatia. Mas a candidatura propriamente dita ainda está na coluna da “indefinição”.