Nonato Guedes
O comunicador Nilvan Ferreira já admite ter sido golpeado pela cúpula do Partido Liberal na sua pretensão de ser candidato a prefeito de João Pessoa nas eleições de 2024 e busca uma saída para manter vivo o projeto. A consumação do golpe veio com a filiação em alto estilo, ontem, em Brasília, do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, ao PL, com a perspectiva de ser o indicado para concorrer à sucessão do prefeito Cícero Lucena (PP). O ato pró-Queiroga foi prestigiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, por senadores, deputados e pelo presidente nacional Valdemar Costa Neto, que reiterou os elogios à experiência do ex-ministro na vida pública, com alusão à sua passagem pelo cargo no auge da pandemia de covid-19, quando o governo enfrentou pressões para oferecer respostas capazes de fazer frente à calamidade.
Queiroga é neófito na política e, segundo Nilvan, não tem potencial eleitoral na Capital paraibana nem no Estado. Apesar do raciocínio certeiro, o fato é que o ex-ministro ganhou cacife junto à cúpula nacional e ao próprio ex-presidente Bolsonaro para entrar no páreo em João Pessoa, com possibilidade de nacionalizar uma disputa que, até então, se acreditava restrita à temática local. Sua incursão pela política paraibana detonou o racha no PL, já que os deputados Cabo Gilberto Silva (federal) e Wallber Virgolino (estadual) aliaram-se a Nilvan para fazer frente contra a imposição, de cima para baixo, da candidatura a prefeito. O trio concentra críticas na figura do deputado federal Wellington Roberto, que preside o diretório estadual do PL e que teve um filho, Bruno Roberto, lançado ao Senado em 2022 numa campanha fracassada e supostamente “cristianizada” por alguns expoentes do próprio partido, logrando, contudo, ser recomendado ao eleitorado paraibano por Jair Bolsonaro.
No que diz respeito a Nilvan Ferreira, ele não aceita jogar fora o capital amealhado na campanha de 2020 quando disputou a prefeitura pessoense pelo MDB, apresentando-se como um suposto “outsider” desvinculado de esquemas políticos tradicionais, e logrou tornar-se fenômeno nas urnas, a ponto de avançar para o segundo turno, quando perdeu a parada para Cícero Lucena. A trajetória partidária de Nilvan é oscilante, tanto assim que em pouco tempo ele migrou para o PTB, onde não conseguiu firmar-se no comando da agremiação. O PL foi considerado pelos próprios analistas políticos como o estuário natural, mais identificado com as posições conservadoras agitadas abertamente pelo comunicador Nilvan Ferreira, inclusive, pela circunstância de ter o então presidente Bolsonaro se filiado à sigla. Mas os interesses locais constituíram obstáculo no meio do caminho para Nilvan, que também foi candidato a governador, com uma performance razoável. A ambição pela prefeitura de João Pessoa trai inequívoco interesse revanchista de Nilvan, que parece não aprofundar o exame do cenário nem se deter nas eventuais flutuações em torno do seu projeto pessoal.
Com os últimos acontecimentos, a tendência é de migração do comunicador para outro partido, cujas digitais ainda eram imperceptíveis nas últimas horas, embora seja certo que, pelo seu ativo em pleitos passados, ele é um quadro que interessa a agremiações órfãs de nomes para adquirir competitividade na disputa à sucessão de Lucena. O comunicador tem, ainda, a opção de resistir dentro do PL para reverter o tropismo em direção ao nome do ex-ministro Marcelo Queiroga, mas corre o risco de perder tempo e deparar-se com uma batalha inglória, fadada à derrota, diante da evolução das decisões de cúpula que atraíram o próprio Bolsonaro, “guru” de representantes da direita na Paraíba. Queiroga fez acenos para uma conciliação interna com os conservadores da sua terra, mas pelo tom assertivo com que admitiu a candidatura a prefeito perdeu credibilidade para manter um pacto de unidade. A cobrança que se lhe faz é justamente a de não cair de paraquedas na eleição do próximo ano.
Em meio ao desaguisado que colocou o PL nas manchetes da mídia nacional, o quadro é de expectativa entre as demais forças políticas que deverão participar do processo em João Pessoa. Junto aos aliados do prefeito Cícero Lucena, que é apoiado pelo governador João Azevêdo (PSB) no projeto de reeleição, a análise é de que esse “racha” na direita bolsonarista fortalece as chances do atual chefe do executivo da Capital, que espera se beneficiar, também, de um pacote de obras e investimentos a ser deflagrado em parceria com a administração estadual. Lucena tem problemas de acomodação para resolver com partidos aliados, principalmente com o PSB, que reclama protagonismo e espaços de influência no maior colégio eleitoral do Estado. Mas é indiscutível que o racha entre os bolsonaristas alcança proporções maiores e que isto pode abrir terreno para dissidências, não se descartando migração para o bloco cicerista como estratégia de sobrevivência.