Nonato Guedes
A perspectiva de que o deputado federal Romero Rodrigues (Podemos) venha a disputar a prefeitura de Campina Grande em 2024 é avaliada como remota nos meios políticos. Não que faltem motivos pessoais – afinal, ele é reconhecido como o líder mais em evidência no cenário local, deixou a administração municipal com alto índice de aprovação, após dois mandatos consecutivos e foi expressivamente votado à Câmara em 2022. O problema é que o “clã” Cunha Lima, de que sempre fez parte, está irremediavelmente fechado com a reeleição do prefeito Bruno (PSD). Este, por sua vez, sentiu-se reforçado com o apoio que tem recebido da parte do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que espera retribuição em 2026 quando for disputar a recondução ao Senado Federal, onde exerce a primeira vice-presidência. Para Romero, seria uma temeridade apostar no confronto com aliados de então, o que o faz cauteloso diante do cenário mais imediatista.
Com isso, o ex-prefeito da Rainha da Borborema recolocou no seu radar um projeto do qual abriu mão em 2018 e em que foi sacrificado em 2022 – a candidatura ao governo do Estado. Em 2018, ele era cortejado para concorrer ao Palácio da Redenção, em paralelo com o então prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo. Ambos, entretanto, não quiseram sair da zona de conforto em que se encontravam, pilotando os executivos das duas principais cidades do Estado ou dos dois maiores colégios eleitorais – e lançaram mão de “soluções domésticas” na vã ilusão de que poderiam transferir votos e decidir a parada estando no controle das máquinas. Cartaxo lançou o irmão, Lucélio, para encabeçar a chapa ao governo, e Romero indicou sua mulher, doutora Micheline Rodrigues, para vice. A chapa perdeu as eleições em primeiro turno para Azevêdo, que tinha o então governador Ricardo Coutinho como grande cabo eleitoral, vindo ambos a romper posteriormente.
Em 2022, o consenso favorecia uma candidatura de Romero, com chances, ao governo do Estado, pela oposição. Ele demorou, porém, a tomar uma decisão e foi relutante em encarar o desafio. Ao mesmo tempo, encantou-se com acenos do esquema do governador João Azevêdo para uma possível composição em que lhe seria oferecida a vaga de vice-governador. As especulações agitadas nesse sentido apenas contribuíram para inquietar a oposição ao governador, plantada em Campina Grande, e a tornar Romero inconfiável ao próprio grupo a que sempre esteve ligado. Quando ele cogitou se definir dentro das expectativas da oposição, já era tarde. Faltou-lhe apoio, como ele mesmo reconheceu em recente entrevista, e o bloco resolveu apostar fichas na candidatura do deputado federal Pedro Cunha Lima, que, diga-se de passagem, teve performance surpreendente, avançando para o segundo turno, onde contou com o apoio do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), mentor de uma pacificação histórica que repercutiu além das fronteiras campinenses. Romero escapou concorrendo à Câmara, com a fidelidade de eleitores que mantiveram o crédito de confiança.
Rodrigues chegou a Brasília, conquistou projeção ao presidir a Comissão de Turismo da Câmara dos Deputados, mas sua cabeça e seu coração estavam focados em Campina Grande. Intimamente passou a ruminar insatisfações e frustrações decorrentes de “Senas” acumuladas não só com o prefeito Bruno Cunha Lima mas com outros expoentes do grupo que passaram a adotar distanciamento providencial, igualmente pressurosos quanto à confiabilidade de manutenção da aliança. O cristal foi quebrado por aí, nessas instâncias de desentendimento ou de falta de diálogo. Ainda, de inexistência de transparência, na versão de fontes privilegiadas do cenário. O fato concreto é que o ex-prefeito Romero Rodrigues praticamente se sente como um estranho no ninho e parece motivado a correr atrás dos próprios espaços, aliando-se com quem estiver disposto a ajudá-lo nessa empreitada. O Republicanos acenou-lhe com filiação e garantia de vaga para disputar novamente a prefeitura da Rainha da Borborema, mas ele mira mesmo o Palácio da Redenção, como se quisesse dizer que quer tirar a prova dos noves em relação ao posto mais importante da hierarquia política estadual.
Os movimentos que estão sendo empreendidos pelo deputado Romero Rodrigues tendem a se intensificar a partir de agora e ele já deixou claro que não vai titubear em relação ao diálogo ou entendimento com forças políticas adversas, da mesma forma como os Cunha Lima passaram a se compor sem problemas com o senador Veneziano Vital do Rêgo. É por isso que ele pede respeito ao seu direito de conversar com lideranças ligadas ao esquema do governador João Azevêdo com vistas ao futuro. A cogitação, agora, de uma candidatura ao governo em 2026, certamente, é bastante precipitada. Mas Romero Rodrigues, pelo sim, pelo não, vai seguir nessa direção, convicto de que precisa construir a sua própria história e fazer a sua própria hora, entre erros e acertos. A dados de hoje, é candidatíssimo ao governo do Estado em 2026 – e esta é a única conclusão que se pode extrair da sua movimentação.