Nonato Guedes
Conhecido pelo seu perfil disciplinado no cumprimento de tarefas delegadas pela cúpula nacional do Partido dos Trabalhadores, o presidente do diretório do PT na Paraíba, Jackson Macedo, já absorve como natural a divisão de cargos do governo federal no Estado com outros partidos, inclusive ligados ao “Centrão”, que apoiam a governabilidade de Lula no Congresso. Pelas suas declarações, o PT tem sido flexível e feito concessões nesse jogo, sacrificando, inclusive, quadros importantes – como ele próprio – no exercício de postos estratégicos. Tudo em nome da governabilidade, que precisa ser assegurada, até diante de derrotas enfrentadas pelo Planalto e que comprometem as reformas prometidas por Lula na campanha eleitoral e aguardadas com expectativa pela opinião pública. O que Jackson cobra e pondera é que o apoio no Parlamento seja efetivo.
O processo de nomeações nos Estados tem sido acelerado por recomendação expressa do próprio presidente da República. O ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, chegou a informar a criação de uma força-tarefa para avaliar os nomes indicados pelos partidos para ocupar cargos vagos no governo, enquanto o ministro da Casa Civil, Rui Costa, confirmou pedido do mandatário para que cada pasta libere as vagas à equipe de Padilha. Essa vacância em funções do segundo escalão é um dos pontos mais criticados por parlamentares e senadores dos partidos não alinhados ideologicamente ao governo, como o União Brasil e o MDB, para que possam empregar apadrinhados em troca de apoio na aprovação de projetos de lei. Sabe-se que ao todo o governo recebeu 403 indicações, muitas com análise emperrada há mais de um mês. A força-tarefa atuará, também, para dispor de relatórios que permitam o mapeamento por parte de cada bancada do grau de articulação de seus parlamentares.
Em relação à Paraíba, seguramente, um dos mais contemplados com indicação de nomes para cargos federais é o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), primeiro vice-presidente do Senado Federal e relator do processo de escolha do advogado Cristiano Zanin no Congresso para compor os quadros do Supremo Tribunal Federal, na quota reservada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas outros parlamentares de legendas diversas têm sido contemplados, como adianta o coordenador da bancada federal da Paraíba, Damião Feliciano, do União Brasil, a que pertence, também, o senador Efraim Filho, que nas últimas horas emplacou Irlen dos Guimarães Filho para a Superintendência da Codevasf na Paraíba. No PP, o deputado federal Aguinaldo Ribeiro, relator da proposta de reforma tributária na Câmara, tem sido bafejado, o mesmo se dando com sua irmã, a senadora Daniella Ribeiro, do PSD. Ja o PSB do governador João Azevêdo tem emplacado indicações, beneficiando, inclusive, o seu representante na Câmara dos Deputados, Gervásio Maia.
A bem da verdade, o Partido dos Trabalhadores na Paraíba saiu contemplado já nas primeiras fornadas, com nomes como o de Antônio Barbosa, presidente do diretório municipal de João Pessoa, para a superintendência do Incra, de Paulo Marcelo, na Superintendência da Delegacia Regional do Trabalho e de Cícero Gregório no Escritório do Ministério do Desenvolvimento Agrário, todos com a chancela do deputado federal Luiz Couto. No que diz respeito à concentração de poderes nas mãos do ministro Alexandre Padilha foi uma estratégia adotada pelo governo para tentar resolver as dificuldades de articulação. O ministro é encarregado de elaborar acordos com parlamentares e de encaminhar as demandas por emendas orçamentárias ao governo, mas não possui o poder de dar cumprimento aos acordos. Com os relatórios de atendimento e a força-tarefa de análise curricular, o governo do presidente Lula espera aumentar seu leque de ferramentas na negociação.
Ressalte-se que algumas indicações debitadas na quota do PT paraibano tiveram as digitais do ex-governador Ricardo Coutinho, que aparentemente está sumido do noticiário político e das articulações mais amplas, mas mantém uma forte base de interlocução com Brasília e, dizem, com o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Uma fonte muito próxima de Ricardo assegurou ao colunista que ele está permanentemente informado sobre os bastidores que se desenrolam no entorno do governo do presidente Lula, envolvendo, principalmente, movimentos de líderes políticos da Paraíba, e cogita-se que em alguns casos Coutinho tenha até poder de veto, pela influência que acumulou junto ao presidente da República. Seja como for Jackson Macedo não esconde que o PT resolveu assumir a linha do pragmatismo político, compondo-se até com os que ele chama de “bolsonaristas arrependidos” que, na atual fase da conjuntura nacional, estariam interessados em colaborar com a administração do presidente Lula, evitando derrotas que ocorreram em série nos primeiros meses.