Nonato Guedes
Os rebelados do PL na Paraíba, como o comunicador Nilvan Ferreira e os deputados Cabo Gilberto Silva (federal) e Walbber Virgolino (estadual), que se opõem à imposição da candidatura do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a prefeito de João Pessoa, apontam o deputado federal Wellington Roberto, presidente do partido no Estado, como vilão da história de desagregação que está consumindo a legenda. Para os dissidentes, Wellington tenta impor Queiroga sem consulta às bases como represália pela suposta falta de apoio à candidatura do seu filho, Bruno Roberto, ao Senado, no pleito de 2022. O desempenho de Bruno foi pífio naquela corrida e, agora, na versão dos rebelados, Wellington tenta acertar contas, dando vazão a “Senas acumuladas”, ao preço de desagregar o PL em plena expectativa de fortalecimento da sigla tendo como motor a “vitimização” que o ex-presidente Jair Bolsonaro deflagra no rastro da sua inelegibilidade pelo TSE.
A disposição do grupo dissidente é a de resistir dentro do Partido Liberal, descartando migração para outro partido, o que seria complicado, atualmente, para detentores de mandato como o Cabo Gilberto e Walbber Virgolino. Ainda ontem, em declarações à rádio Arapuan, o ex-candidato a governador Nilvan Ferreira advertiu para a má condução no processo de incorporação do ex-ministro Marcelo Queiroga às hostes liberais na Paraíba, que estaria se dando “por cima”, em manobras de cúpula, com o completo desrespeito aos “líderes com votos”, como ele, Gilberto e Walbber, que tiveram boa cotação na própria Capital e no entorno da região metropolitana que ela engloba. Nilvan suspeita que o jogo de Wellington Roberto visa beneficiar, lá na frente, o deputado federal Ruy Carneiro, que se insinua, outra vez, como candidato a prefeito de João Pessoa. Por essa estratégia, o ex-ministro Marcelo Queiroga estaria mirando 2026, com candidatura a postos majoritários importantes.
O novo foco de discórdia que impera nas hostes do PL diz respeito a um evento que está sendo anunciado para ocorrer em João Pessoa, com a presença da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, destinado exclusivamente às mulheres, como parte de ações de fortalecimento da legenda para as eleições municipais do próximo ano. O ex-ministro Marcelo Queiroga teria afirmado que homens não terão direito a voz no evento, o que está sendo encarado como um sortilégio para isolar os líderes com votos em João Pessoa. Para além disso, há o fato de que os dissidentes da Paraíba não foram comunicados sobre a programação da visita de Michelle e muito menos convidados para qualquer acontecimento com a presença da mulher do ex-presidente Jair Bolsonaro. Desconfiam, portanto, que há dente de coelho nesse script e que por trás de tudo haveria um “arrumadinho” para favorecer apenas o ex-ministro Marcelo Queiroga. Um contato direto com Bolsonaro a respeito, a esta altura, é inviável, dada a concentração que ele mantém sobre seu julgamento no TSE.
Todo o “imbroglio” de desagregação do Partido Liberal na Paraíba começou com a movimentação ostensiva do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, há cerca de um mês, no campo político-partidário no Estado, com desdobramento e projeções para as eleições municipais de 2024 em João Pessoa. Além da sua filiação ao PL em alto estilo, em Brasília, com o prestígio da presença do ex-presidente Jair Bolsonaro, o ex-ministro tem admitido discutir uma pré-candidatura a prefeito da Capital paraibana, como parte do projeto nacional do partido de pôr em evidência quadros remanescentes da gestão do ex-capitão. Os que se identificam como “bolsonaristas-raiz” no Estado alegam, entretanto, que Marcelo Queiroga não tem voto nem experiência política para enfrentar o páreo vindouro, sendo, em certa medida, um desconhecido para o eleitorado pessoense/paraibano, a despeito da notoriedade alcançada quando deu partida à campanha de vacinação contra a covid-19 em plena tempestade do negativismo exacerbado do próprio presidente Jair Bolsonaro quanto ao tratamento médico-científico recomendado pela OMS. Como se sabe, Bolsonaro receitava a cloroquina como antídoto para o coronavírus, o que lhe rendeu críticas e memes até na imprensa internacional.
O fato é que a cada dia se intensifica a cobrança dos filiados do PL em João Pessoa e na Paraíba por uma solução para o impasse que o partido passou a enfrentar desde a chegada do ex-ministro Marcelo Queiroga às suas hostes. Em “off” já se começa a dizer que se for dado a Queiroga o passaporte para disputar as eleições a prefeito de João Pessoa, a derrocada do partido e do bolsonarismo na Capital paraibana estará selada com antecedência. O ex-ministro, de seu lado, invoca a atuação como ministro da Saúde para justificar que tem experiência administrativa comprovada, o que o credenciaria, naturalmente, a ser candidato a prefeito da Capital, independente de prévia para confronto com outros postulantes. Ressalte-se que Queiroga chegou a fazer acenos na direção do diálogo com os rebelados, como tática para amaciar resistências ao seu nome, e, em princíoio, houve receptividade para tanto. O que não houve foi avanço na “détente” prometida – e as coisas continuam sendo conduzidas de cima para baixo, sem qualquer satisfação ao “baixo clero” paraibano, daí o clima de guerra fraticida que corrói as hostes conservadoras locais.