Nonato Guedes
Abordado, ontem, pela imprensa, o governador João Azevêdo (PSB) foi enfático ao anunciar suas diretrizes para a eleição municipal a prefeito, em 2024, na Capital João Pessoa e em Campina Grande, o segundo maior colégio eleitoral do Estado. Na Capital, está mantido e assegurado o compromisso de apoio à candidatura do prefeito Cícero Lucena (PP) à reeleição, tendo um nome do PSB na vice, que deverá ser o atual ocupante do posto, Léo Bezerra. Em Campina, seu esquema terá um candidato de oposição ao atual prefeito Bruno Cunha Lima, a ser escolhido no momento certo e, conforme suas palavras, sem qualquer imposição. Há nomes disponíveis dentro do PSB, como há pretendentes em outros partidos que compõem o arco de apoio político do governo estadual. Eles serão examinados na totalidade dos critérios.
O chefe do Executivo descartou qualquer estremecimento com o prefeito Cícero Lucena, hipótese que tem sido explorada ou especulada, vez por outra, nos meios políticos ou na mídia. Deixou claro que o entrosamento é o melhor possível e chegou a recomendar aos adversários que “se preocupem” com outra coisa ao invés de fomentar intrigas de emulação entre as duas gestões. João Azevêdo prosseguiu: “Temos tudo para caminhar com essa mesma parceria e a intenção de estarmos juntos nas eleições do próximo ano”. Isto significa que a situação só sofrerá alguma alteração se esse clima for provocado pelo prefeito Cícero Lucena ou seu grupo. Entretanto, o interesse maior é do próprio gestor da Capital no sentido de não romper o pacto e de exorcizar fantasmas que eventualmente possam atrapalhar a ligação positiva que vem sendo sustentada.
Com a experiência de quem enfrentou duas campanhas eleitorais ao governo do Estado, numa delas (em 2022) tendo que se submeter a segundo turno, João Azevêdo quer estar vacinado contra intrigas e ameaças de rompimento agitadas de última hora. É por isso que compreende o processo eleitoral do próximo ano como “uma construção”, envolvendo o somatório das forças políticas que se uniram em torno do seu projeto e confiaram no apoio popular, finalmente materializado mediante a voz das urnas espelhada nos números da apuração. A vivência no ambiente político, em paralelo, contribuiu para preparar o governador para os embates internos que antecedem a formação ou o fechamento de chapas e que exprimem interesses variados de aliados. Azevêdo tem consciência da necessidade de se haver com habilidade para contornar conflitos inevitáveis em decorrência do choque de ambições. Ele destaca a naturalidade das pretensões, condicionando-as, porém, à viabilidade eleitoral concreta.
As especulações, principalmente sobre a aliança em João Pessoa, costumam ser provocadas devido à amplitude de pretensões e a insinuações sobre a falta de maior aproximação do prefeito Cícero Lucena com o PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mandatário que teve o apoio declarado e engajado de João na campanha de 2022. Mas Cícero Lucena também tem se empenhado em demonstrar gestos e atitudes para firmar essa aproximação, pelo menos com o governo do presidente Lula, que tem benefícios a oferecer a Estados e municípios, dentro da própria filosofia adotada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva de descentralizar recursos e entrega de obras públicas às populações carentes. Vale recapitular que o prefeito da Capital paraibana já participou, virtualmente, de uma ação com o próprio presidente da República relacionada a investimentos no setor habitacional e, em paralelo, tem aberto canais importantes com ministros de Estado ou com órgãos de outros escalões administrativos para viabilizar programas de repercussão social.
O governador João Azevêdo já percebeu que apesar de priorizar o cumprimento da pauta administrativa nas diferentes regiões da Paraíba vai ter que dividir essa agenda com o trato de questões políticas ligadas à sucessão municipal do próximo ano. Trata-se de uma contingência inevitável, não só por causa da tradição de debate político-eleitoral antecipado que se cristalizou na Paraíba como porque forças políticas adversárias estão se movimentando desde agora, inclusive, promovendo eventos, na perspectiva da disputa eleitoral de 2024. O esquema liderado pelo chefe do Executivo não pode, portanto, correr o risco de ser surpreendido ou atropelado pela natureza das composições que já são tramadas nos bastidores, até com o envolvimento de lideranças e chefias partidárias. Ao mesmo tempo não ignora que no seu próprio partido, o PSB, há um estado de expectativa a respeito das coordenadas para 2024, em função, justamente, da mobilização deflagrada por outros partidos e forças que têm protagonismo no cenário local. Ele se desdobrará, então, para conciliar os interesses em jogo e pavimentar o terreno para a discussão de candidaturas ou de alianças indispensáveis para o confronto com os que lhe dão combate no Estado da Paraíba.