Nonato Guedes
Com a deflagração, dentro do Partido dos Trabalhadores, das discussões prévias sobre as eleições municipais do próximo ano, o deputado estadual Luciano Cartaxo mobiliza-se junto a líderes influentes a nível nacional para obter apoios à sua pretensão de candidatar-se novamente a prefeito de João Pessoa. Entre os postulantes na legenda figuram, ainda, a deputada estadual Cida Ramos e o vereador Marcos Henriques, mas Cartaxo é o mais ostensivo em atuação, não só buscando projetar-se na mídia como articulando-se junto a diretorianos na Paraíba. Ele tem adesões sólidas no diretório municipal de João Pessoa, mas enfrenta resistências no diretório estadual, onde o presidente Jackson Macedo não fecha portas para o diálogo, inclusive, com segmentos receptivos à candidatura do prefeito Cícero Lucena (PP) à reeleição.
As discussões deflagradas internamente, em todo o país, dão-se no âmbito do Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) e envolvem táticas e estratégias mais indicadas para a ampliação dos espaços de poder do Partido dos Trabalhadores. A cúpula nacional está atenta para o fato de que a legenda não administra nenhuma Capital desde 2021, o que é atribuído à desarticulação enfrentada no bojo de incidentes que afetaram a vida da agremiação, como o escândalo do mensalão, o impeachment da presidente Dilma Rousseff e a prisão do líder maior Luiz Inácio Lula da Silva. O planejamento que começa a ser feito é para reverter essa conjuntura, e a cúpula nacional aposta no reflexo da reabilitação política de Lula, com a anulação de condenações na Justiça e, posteriormente, o registro de sua candidatura, vitoriosa em 2022 em segundo turno contra Jair Bolsonaro, o único mandatário que não conseguiu se reeleger no recente período republicano no país.
O GTE propõe-se a mapear a realidade, principalmente nas grandes e médias cidades brasileiras, dentro do raciocínio de que a conquista de prefeituras em muitos desses redutos será uma excelente vitrine para o fortalecimento do PT. A estratégia é focada, também, no estímulo à militância de base petista para que retome o grau de engajamento que sempre foi característica sua nas campanhas eleitorais memoráveis, travadas tanto para o Planalto como para as outras instâncias de poder ou de representação política. Já há algum tempo, por inspiração do próprio Lula, a direção do PT tem feito uma autocrítica sobre o distanciamento em relação à integração com as bases, que constituem o fermento para a sobrevivência partidária. A análise é sobre a acomodação ocorrida e, em paralelo, sobre formas de imprimir uma guinada no histórico do petismo.
No que diz respeito à tese do lançamento de candidaturas próprias a prefeito, os seus defensores pugnam pelo denominado protagonismo do Partido dos Trabalhadores, insurgindo-se contra papéis subalternos ou de coadjuvante que sejam reservados para uma agremiação que, além de contar com o presidente da República, conta com bancadas expressivas no Congresso Nacional. Isto não quer dizer que o PT seja refratário à política de alianças. Estas ocorrerão, até com apoio a candidatos de outras siglas, desde que comprovada a viabilidade eleitoral que eles tenham. No imaginário do petismo já está claro, há bastante tempo, o inimigo prioritário a ser combatido, que é o bolsonarismo, encarado como um modelo político de retrocesso e de ameaça à estabilidade democrática, baseado na pregação fascista que é propagada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, ainda agora alvo de julgamento em tribunais de Brasília sobre a decretação da sua inelegibilidade política. Com o bolsonarismo não haverá complacência por parte dos petistas, e é por isso que o PT abriu o leque para conversas com forças de centro-direita, nos moldes de alianças pontuais que o próprio governo Lula empreende para conseguir aprovar projetos no Parlamento.
No capítulo da estratégia que passa a ser objeto de exegese aprofundada por parte dos líderes do Partido dos Trabalhadores há lugar para atenção especial a Capitais e cidades do Nordeste, região onde o candidato Luiz Inácio Lula da Silva obteve sua mais expressiva vitória na última campanha, no embate direto com Jair Bolsonaro. A nova configuração que o Nordeste passou a ter no próprio contexto do processo de desenvolvimento do país, deixando de ser uma região-problema para converter-se em solução, tem sido examinada e desperta interpretações variadas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, particularmente, é sensível a essa mutação, que considera um fenômeno-paradigma das novas relações de poder vigentes no Brasil. O deputado Luciano Cartaxo já avisou que pretende participar ativamente do processo, oferecendo contribuição própria, com a experiência de quem governou a Capital paraibana por dois mandatos. E é nesse contexto que tentará fazer avançar o seu projeto pessoal de voltar, pelo voto, ao comando da prefeitura pessoense. Há um longo caminho a ser percorrido, mas ele parece obstinado em se submeter a esse itinerário.