Nonato Guedes
O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, não poderia ter sido mais enfático ao declarar, em visita a Campina Grande no fim de semana, que a preferência do partido é pelo nome da senadora Daniella Ribeiro para concorrer à prefeitura da segunda maior cidade do Estado nas eleições do próximo ano. Com o gesto, Kassab praticamente insinuou ao prefeito Bruno Cunha Lima, candidato à reeleição, que ele não tem espaço na legenda, devendo buscar outro caminho. Bruno , até agora, relutou em deixar a sigla, mesmo não tendo diálogo com a direção estadual depois que a senadora Daniella foi investida no comando do PSD. Ele tinha a expectativa de que uma conversa com Kassab pudesse reverter a situação, mas, como se vê, tal possibilidade não entrou no radar.
Daniella, que lá atrás foi candidata a prefeita da Rainha da Borborema sem êxito, tem se movimentado para testar-se nas urnas ao cargo e sua migração do PP para o PSD fez parte da estratégia para se acomodar melhor em termos de ocupação de espaços. O “clã” Ribeiro já havia dado um passo concreto para romper com os Cunha Lima quando Lucas, filho de Daniella, abriu mão de continuar como vice-prefeito de Bruno e, em manobra espetacular, conseguiu participar da chapa do governador João Azevêdo (PSB) em sua campanha à reeleição, no ano passado, como candidato a vice. Hoje, Lucas comanda gabinete próprio em Campina Grande, encaminhando demandas e projetos de interesse da região do Compartimento da Borborema para execução pela administração estadual. É uma espécie de “ombudsman” do governo de João, com acesso privilegiado a secretarias de Estado, e se prepara para assumir interinamente a chefia do Executivo, com iminente viagem do titular à China para missão de negócios.
O governador tem dito que procura articular com as forças que lhe são aliadas em Campina Grande uma chapa de oposição à gestão do prefeito Bruno Cunha Lima, que, confessadamente, lhe dá combate. Azevêdo acompanhou, com interesse, o resultado da visita política de Gilberto Kassab ao Estado e, a respeito da candidatura de Daniella, expressou que é um quadro importante no cenário político estadual, até por ter sido a primeira mulher eleita ao Senado, fazendo história no Nordeste e no país. O esquema oficial trabalha, também, com a perspectiva de lançamento da candidatura do secretário de Saúde do Estado, Jhony Bezerra, que recentemente assumiu a presidência do diretório municipal do PSB em Campina Grande, com a incumbência de organizar a legenda e prepará-la para as eleições municipais, com chapa proporcional representativa. PSB, PP e PSD já compõem um tripé respeitável na correlação de grupos que está sendo montada para vitoriar em 2024, desbancando a hegemonia do esquema Cunha Lima.
O presidente nacional do PSD evidenciou, com suas declarações e atitudes, que o metro quadrado no partido é estreito demais para acomodar a senadora Daniella Ribeiro e o prefeito Bruno Cunha Lima. Quanto ao atual chefe do executivo municipal, vinha protelando uma definição invocando o pretexto de que, quem tem prazo, não tem pressa. A partir de agora, ficou nítido, porém, que o seu prazo de definição chegou, pelo menos no PSD, e que sua migração para outra sigla é imperativa. Convites não faltam a Bruno, e ele sempre se jactou disso, considerando que o fato de ser cortejado indica reconhecimento à sua liderança e respeito à sua gestão de resultados que procura imprimir. Um dos mais emblemáticos convites partiu do União Brasil, presidido na Paraíba pelo senador Efraim Filho, que, inclusive, lhe entregou ficha em branco, durante solenidade na Assembleia Legislativa da Paraíba, para ingressar quando julgar conveniente. A atitude de Efraim sensibilizou Bruno, que pode, mesmo, materializar a adesão após avaliar riscos legais inerentes à mudança de partido.
As mudanças políticas que estão ocorrendo em Campina Grande, com aspecto de definição prévia para o pleito de 2024, são uma consequência de mutações no próprio cenário político estadual. Em Campina, o senador Veneziano Vital do Rêgo, do MDB, ex-candidato ao governo, rompeu com Azevêdo e aproximou-se, no segundo turno da disputa de 2022,do clã Cunha Lima, declarando apoio à candidatura o ex-deputado federal Pedro, que polarizou a reta finalíssima. A partir daí, os laços foram se estreitando. Veneziano hipotecou apoio à pretensão de Bruno de se reeleger, mesmo sem exigência de cargos ainda na atual administração, e obteve promessa de apoio do ex-deputado Pedro Cunha Lima para sua candidatura à reeleição ao Senado em 2026. Está em aberto a decisão sobre candidatura dessas forças ao governo do Estado futuramente, mas elas tendem a caminhar juntas, o que provoca os movimentos de reação articulados pela senadora Daniella Ribeiro e pelo governador João Azevêdo.