Nonato Guedes
Em conversa com o colunista, o deputado federal Ruy Carneiro afastou a possibilidade de enfrentar a concorrência do ex-deputado Pedro Cunha Lima (PSDB) na pretensão de disputar a prefeitura municipal de João Pessoa em 2024. O nome de Pedro, que é presidente estadual do PSDB e foi candidato a governador em 2022, disputando o segundo turno contra João Azevêdo (PSB) tem frequentado especulações da imprensa, alimentadas pelo próprio anúncio dele de que está à disposição para os desafios políticos futuros, inclusive, diante da votação expressiva ao governo que alcançou na região metropolitana da Capital. “Estaremos juntos no palanque”, assegurou Ruy, acrescentando que mantém diálogo constante com Pedro Cunha Lima sobre o cenário eleitoral futuro.
Numa das suas abordagens acerca da disputa de 2024, o ex-deputado Pedro Cunha Lima chegou, realmente, a assinalar que se consideraria representado por Ruy na disputa da Capital se esta candidatura fosse concretizada, da mesma forma como Ruy disse ter se sentido representado por Pedro na campanha ao governo em 2022. No momento, a preocupação de Ruy está focada em uma definição partidária. Ele examina a conveniência de permanecer no Podemos ou, então, retornar aos quadros do PSDB, onde exerceu a maior parte da sua militância política, ocupando mandatos de vereador em João Pessoa, deputado estadual e deputado federal. Pelos cálculos de Ruy, essa definição deverá acontecer em duas semanas, uma vez concluído o trabalho de consultas que ele desenvolve junto a expoentes do agrupamento político a que pertence.
Ruy Carneiro já foi candidato a prefeito de João Pessoa em duas oportunidades. Na primeira, em 2004, concorreu à sucessão de Cícero Lucena ao fim do seu segundo mandato, com o apoio dele, em cuja gestão ocupou a chefia da Casa Civil mas a luta foi ganha por Ricardo Coutinho. Na segunda vez, no ano passado, conseguiu ir mais longe, ficando em terceira posição – por pouco não foi para o segundo turno contra Cícero, que teve como oponente Nilvan Ferreira, então MDB. Nesse ínterim, Ruy integrou uma chapa encabeçada por Cássio Cunha Lima ao governo em 2014, derrotada por Ricardo Coutinho. Parlamentar que se envaidece de ter identidade com João Pessoa e conhecer, a fundo, os seus problemas, Ruy atua, também, através de emendas, no apoio a entidades que cuidam de segmentos específicos da população, segundo ele como forma de compensar a omissão do poder público nessas esferas.
Em certa medida, a sua participação na disputa de 2024 constitui um revanchismo contra Cícero Lucena, com quem rompeu, mas o deputado Ruy Carneiro não assume tal condição. Apenas argumenta que tem interesse em oferecer uma “melhor alternativa de gestão” à Capital paraibana, adotando modelo participativo e ao mesmo tempo centrado na eficiência. Tem feito críticas pontuais à terceira administração de Cícero Lucena, negando os avanços que o prefeito diz ter implementado, inclusive, em parceria direta com o governador João Azevêdo, por quem é apoiado. Ruy, que tem penetração em fatias influentes da chamada classe média, considera o atual modelo administrativo bastante repetitivo e pouco inovador, salientando que João Pessoa, além do crescimento populacional, incorporou outros desafios que, a seu ver, exigem sensibilidade e capacidade de iniciativa dos gestores públicos. Ruy acredita ter fórmulas capazes de oxigenar o processo de desenvolvimento de João Pessoa, fazendo-a superar ou igualar outras Capitais nordestinas de destaque.
Enquanto Carneiro monta o seu próprio esquema para respaldar uma nova candidatura a prefeito, o atual prefeito Cicero Lucena iniciou a semana, ontem, cumprindo agenda e falando à imprensa sobre eleições. Ele voltou a descaracterizar as tentativas de adversários políticos seus de nacionalizar a disputa municipal do próximo ano, criticando diretamente o deputado estadual Luciano Cartaxo, do Partido dos Trabalhadores, que tenta se viabilizar como postulante na sua agremiação e defende ardorosamente o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Cícero, sem fazer críticas diretas ao governo de Lula, reiterou que a disputa vindoura terá um forte componente local, com a discussão dos desafios que interessam à população pessoense, bem como um julgamento sobre ações administrativas que já estão sendo empreendidas em seu benefício. Em outras palavras, Lucena dá a entender que está preparado para um plebiscito sobre sua gestão, porque confia no impacto das ações que está empreendendo e no voto de confiança para seguir em frente. É visível, da parte de Ruy, o interesse em polarizar o pleito com Cícero Lucena, como estratégia para ampliar sua competitividade em relação a outros nomes que deverão despontar. Mas a configuração do quadro só será possível mesmo quando a campanha entrar no seu ritmo em 2024, esgotadas as escolhas partidárias sobre candidaturas próprias e alianças.