Nonato Guedes
O conflito entre aliados políticos do governador João Azevêdo (PSB) na Grande João Pessoa, principalmente na Capital, tendo como pano de fundo as eleições municipais do próximo ano, vai tomando proporções negativas a ponto de exigir uma mediação do chefe do Executivo com certa brevidade para que não haja uma ruptura iminente com prejuízo da unidade das forças políticas-partidárias que declaram acatar a liderança de João. O prefeito Cícero Lucena (PP), candidato à reeleição, está no centro do furacão, cobrado por expoentes do PSB a abrir espaços de composição para outros partidos da base, prestigiando-os efetivamente na atual gestão, como sinal de reciprocidade e de espírito cooperativo. O gestor se diz aberto ao diálogo e tem preconizado reiteradamente a união mas não parece ter avançado concretamente no compartilhamento administrativo.
É o que se depreende de queixas que são agitadas, ora nos bastidores, ora em tom público, às quais se mistura uma sempre recorrente ameaça de lançamento de candidatura própria do PSB a prefeito de João Pessoa. Analistas acreditam que por trás das reclamações há mesmo interesses, dentro do PSB, quanto ao protagonismo na disputa vindoura, principalmente nos grandes centros urbanos, como consequência da estratégia de fortalecimento da sigla. Alguns socialistas temem pela perda de espaços da agremiação na hipótese de, em 2026, o governador João Azevêdo deixar o Palácio da Redenção para concorrer a uma vaga ao Senado ou a mandato de deputado federal. Argumentam que é legítima a sua demanda por candidatura própria e que o PSB tem feito concessões, tanto em eleições municipais como em eleições estaduais, a partidos que a ele se juntaram para vitórias como a do governador João Azevêdo na reeleição.
O chefe do Executivo acompanha com atenção e, em certa medida, com preocupação, os movimentos que partem de diferentes direções, atuando de forma diplomática. No íntimo, ele tem consciência da legitimidade do pleito do seu partido de ocupar espaços no cenário estadual, planejando as perspectivas futuras. Mas também compreende que as alianças são essenciais para fortalecimento do projeto político que ele lidera. Na disputa de 2022, por exemplo, João Azevêdo estreitou relações com o Progressistas de Cícero, acolhendo Lucas Ribeiro, filho da senadora Daniella Ribeiro, como candidato a vice-governador na sua chapa à reeleição. O problema é que no desenho das eleições municipais de 2024 o PP de Lucas e o PSD de Daniella tendem a ser contemplados com cabeça de chapa nos dois maiores colégios eleitorais – João Pessoa e Campina Grande, nesta última com a possibilidade da própria senadora vir a ser candidata para derrotar o atual prefeito Bruno Cunha Lima. Para o PSB sobraria o papel de coadjuvante no processo, o que desanima militantes socialistas, principalmente os que têm ambições naturais em pauta. Mas, ontem, Azevêdo admitiu que o PSB poderá ter candidaturas próprias onde elas forem viáveis, mesmo ao preço de competir com nomes de outros partidos da coligação.
Sobre o prefeito Cícero Lucena, ele é cobrado, também, para se alinhar ao PSB na disputa pela prefeitura de Cabedelo, onde o ex-deputado Ricardo Barbosa, presidente da Companhia Docas do Porto, se anuncia como postulante com o apoio do governador João Azevêdo. O deputado federal Mersinho Lucena, filho de Cícero, foi vice do atual prefeito Vítor Hugo, do União Brasil, e está inclinado a apoiar o candidato que for indicado por ele à sua sucessão no pleito vindouro, propondo-se a tentar uma pacificação entre o prefeito e o governador João Azevêdo. É uma equação que desagrada aos socialistas, segundo externou nas últimas horas o presidente estadual do PSB, deputado Gervásio Maia, descartando diálogo com o esquema liderado pelo atual prefeito cabedelense, mesmo com a disposição deste de conversar com o governador João Azevêdo e com o próprio Gervásio. O “caso Cabedelo” entrou como um componente a mais para agravar os impasses reinantes, até agora, dentro do esquema político do governador João Azevêdo, na Grande João Pessoa, o que levou o titular do Executivo a insistir na pregação do diálogo ou no esgotamento dos entendimentos preliminares para a busca do consenso entre seus aliados.
Setores do PSB cobram, igualmente, de Cícero Lucena, um alinhamento mais efetivo com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT), de quem João Azevêdo é aliado de primeira hora. Justificam que as eleições do próximo ano sinalizam um novo confronto entre esquerda e direita, nas diferentes Capitais e cidades importantes do país, e Cícero precisa manter, pelo menos, uma postura de centro-esquerda para garantir mais homogeneidade nos apoios que corteja e que possa vir a receber em fortalecimento à pretensão de conquistar um novo mandato nas urnas. A impressão dominante é de que as discussões, na verdade, estão apenas começando. Mas é evidente que o radar do governador João Azevêdo está ligado para prevenir confrontos mais acirrados que ponham a perder o projeto de poder que até agora tem sido construído com êxito na Paraíba.