Nonato Guedes
Não estava no radar do prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima (PSD) e dos seus aliados mais próximos, a hipótese de que o deputado federal Romero Rodrigues (Podemos) figurasse como opção para a sucessão municipal do próximo ano, quando o atual gestor pleiteará a reeleição. Afinal, faz pouco tempo que Rodrigues concluiu período ininterrupto de oito anos de mandato na prefeitura, formalmente ele ainda tem ligações com o clã Cunha Lima e é desafiado a marcar de alguma forma sua nova passagem pela Câmara dos Deputados, em que logrou ascender à presidência da Comissão de Turismo. Ocorre que o “script” mudou, tal como os políticos comparam a política a uma nuvem, que, de uma hora, está de um jeito, e, quando menos se espera, muda de configuração. Faltando pouco mais de um ano para as eleições municipais, Romero é um “complicador” no projeto hegemônico dos Cunha Lima.
Há quem diga que o ex-prefeito e atual parlamentar sofre a influência de estímulos externos, nascidos no ventre do bloco que faz oposição a Bruno e, por extensão, ao clã Cunha Lima, que foi representado na disputa ao governo em 2022 pelo ex-deputado Pedro, desafiador de João Azevêdo no segundo turno. Mas estímulos e influências não surgem do nada, ou, como queiram, aleatoriamente. O movimento de assédio em torno de Romero se apoia no distanciamento que ele demonstra com relação á gestão de Bruno Cunha Lima. Nem se sente efetivamente representado na administração empalmada por Bruno, que o sucedeu, nem considera que seja prestigiado no seu potencial político, como um dos líderes reconhecidamente festejados por parcelas do eleitorado. Afora essas “Senas acumuladas”, Romero parece estar convicto de que chegou a hora de obter sua carta de alforria, mesmo que ao preço de rompimento de laços, por não se sentir bem no figurino de coadjuvante a despeito da relevância que tem no cenário irradiado a partir do Compartimento da Borborema.
Um outro aspecto levado em consideração pelos analistas políticos é o desconforto que o ex-prefeito transmite ao constatar a aproximação estreita entre o prefeito Bruno Cunha Lima e o grupo do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) – movimento que começou a ser construído no segundo turno da eleição ao governo em 2022 quando Veneziano não só declarou apoio a Pedro contra João Azevêdo como se engajou de corpo e alma na campanha para tentar transferir votos. Evidente que não foi gratuita essa mobilização – ficou embutido, nela, o compromisso de Pedro e dos seus liderados de reforçar o projeto de Veneziano de ser reeleito ao Senado em 2026. No passado recente, Romero e Veneziano foram adversários em embates memoráveis na política campinense, o que é bastante para respaldar a análise de que o metro quadrado para uma convivência entre os dois num mesmo palanque é muito estreito e de difícil acomodação. Bruno se dispõe a fazer gestões para tentar contornar rusgas ou desentendimentos maiores, mas são poucos os que acreditam que as cicatrizes sejam sanadas com brevidade.
A ação de adversários de Bruno, como políticos do Republicanos, para atrair Romero para a legenda e fazê-lo candidato novamente a prefeito, dentro do esquema do governador João Azevêdo, é consequência das desinteligências que têm se aprofundado entre o ex-prefeito de Campina Grande e o atual gestor-candidato. E a impressão que vai se formando é a de que estão se cristalizando e se tornando irreversíveis sinais de desalinhamento entre antigos parceiros de batalhas históricas, como corolário da dinâmica do jogo político que já possibilitou aproximações imprevisíveis como a do senador Veneziano Vital do Rêgo e do clã Cunha Lima. Quanto a Romero, em 2022, chegou a ter canais com o governador João Azevêdo, de tal sorte que seu nome foi agitado, inclusive, como provável alternativa para compor a chapa do socialista à reeleição, no papel de candidato a vice-governador. As demandas, como se sabe, não avançaram a um nível mais proativo – e Romero preferiu manter-se na zona de conforto, postulando um mandato à Câmara Federal que para ele, foi consagrador.
Fontes bem informadas revelaram ao colunista que a estratégia de Romero focando, novamente, na disputa à prefeitura de Campina Grande, pode ser uma manobra diversionista para camuflar seu verdadeiro objetivo – o de ascender a cargos majoritários importantes na estrutura de poder estadual. Mais precisamente, candidatar-se ao governo do Estado, tirando uma prova dos noves que ele recusou em 2018 quando indicou a mulher, Micheline, para vice de Lucélio Cartaxo, numa aventura que nem desdobramento teve no quadro político estadual. Vocação para executivo Romero Rodrigues já demonstrou sobejamente, e o projeto de chegar ao governo é um sonho legítimo de qualquer político que se preze. O que falta a Romero é definir seu enquadramento em um esquema político, até para reforçar o lastro das suas pretensões. Pilotando o bloco do “eu sozinho” dificilmente ele alçará voos maiores que fervilham na sua cabeça para entrar no clube dos líderes políticos paraibanos de destaque.