Nonato Guedes
A ex-primeira-dama do país Michelle Bolsonaro, presidente do PL Mulher, que comanda hoje nos domínios de Cabedelo um evento de filiações ao partido, sobretudo de mulheres, não foi poupada do constrangimento de constatar “in loco” o clima de autofagia que corrói as fileiras da agremiação na Paraíba, mais precisamente em João Pessoa, onde o trio formado pelo ex-candidato a prefeito Nilvan Ferreira, pelo deputado federal Cabo Gilberto Silva e pelo deputado estadual Walbber Virgolino está em pé de guerra com o presidente estadual da legenda, deputado federal Wellington Roberto. O dirigente é acusado de manejar os cordéis para favorecer interesses pessoais e do seu “clã”, integrado ainda pelo filho Bruno Roberto, candidato derrotado ao Senado nas eleições de 2022. Ontem, na Capital, o trio dissidente e mais o vereador “Carlão” conseguiram furar o bloqueio e serem recebidos por Michelle, que abriu uma espécie de confessionário para ouvir lamúrias e repassá-las à cúpula nacional e ao marido Jair Bolsonaro.
Os detalhes da briga acirrada que consome as entranhas do PL paraibano são do conhecimento da opinião pública. Além do acerto de contas que remonta à própria disputa presidencial de 2022, envolvendo falta de empenho de denominados “patriotas” ou “conservadores”, Wellington é acusado de “traidor” por ter votado a favor da reforma tributária na Câmara, chegando a ser considerado “lulista”, apesar da excelente relação que aparenta ter com o ex-presidente Jair Bolsonaro e com o presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto. Um ingrediente recente, adicionado ao desaguisado dos “patriotas” paraibanos, foi a filiação do ex-ministro da Saúde, o cardiologista Marcelo Queiroga, ao PL, com acenos para sua candidatura a prefeito de João Pessoa no pleito de 2024. A postulação é contestada por Nilvan, Gilberto e Walbber sob o pretexto de que não tem densidade eleitoral, acrescido do fato de que Marcelo Queiroga nunca teve militância política em João Pessoa ou na Paraíba.
Desse ponto de vista, o autoproclamado “triunvirato” do Partido Liberal paraibano considera que está havendo um processo de imposição da pré-candidatura do ex-ministro Marcelo Queiroga pela cúpula nacional, sem consulta às bases que, em termos concretos estão mobilizadas no dia a dia da vida política-partidária, enfrentando adversidades de toda ordem. Os três mosqueteiros conservadores desabafaram, na conversa com a ex-primeira-dama, que pleiteiam ter voz ativa na definição de candidaturas para as eleições do próximo ano em colégios eleitorais influentes do Estado e que não aceitam decisões vindas “de cima para baixo”. Errados, eles não estão – até porque Nilvan Ferreira demonstrou musculatura na eleição a prefeito da Capital em 2020, quando avançou para o segundo turno, e potencial na disputa ao governo do Estado em 2022, enquanto Gilberto consagrou-se à Câmara Federal e Walbber manteve o mandato na Assembleia Legislativa. O problema é que o PL nacional aposta fichas em outras opções, como o nome do ex-ministro Marcelo Queiroga.
Da “oitiva” no confessionário aberto pela ex-primeira-dama restaram fotografias sorridentes, denotando esperança e identidade, e a promessa de Michelle Bolsonaro de levar as demandas à apreciação das instâncias que decidem em Brasília, intercedendo, na medida do possível, para uma conciliação de interesses. A dúvida é sobre se a ação de Michelle produzirá consequências – afinal, na Paraíba, a impressão é de que Jair Bolsonaro tem preferência declarada pelo cardiologista Marcelo Queiroga, a quem estimulou, quando ainda era presidente da República, a entrar na política por qualquer Estado, de preferência pela Paraíba. Queiroga, por sua vez, coloca-se numa espécie de “pedestal” como se já estivesse ungido por antecedência como pré-candidato na Capital. Quando estourou o fogo cruzado contra ele por parte dos denominados “patriotas” tupiniquins, ele se dispôs a ensaiar conversas com os concorrentes para a construção de um projeto. Não saiu do canto nessa empreitada e nem parece preocupado com o blá-blá-blá agitado, sobretudo, por Cabo Gilberto e por Nilvan. Este já admitiu cogitar nova mudança de partido se o script final da história não lhe agradar.
O PL da Paraíba não chega a ter grande expressão no plano nacional. Por outro lado, a notícia mais recente que se tem sobre os planos de Bolsonaro foi dada pelo colunista Tales Faria no UOL e revela que o ex-presidente se prepara para um rompimento futuro com o PL. Jair disse a aliados que não acredita que permanecerá na sua atual legenda, mas acha que o momento de romper não é agora. A ideia de Bolsonaro, num primeiro momento, é aumentar a bancada bolsonarista no Congresso, até de vereadores, prefeitos e governadores. Para isso, tentará manter-se no PL até a chamada “janela partidária” de 2026. No caso de migrar para outra legenda, avisa Tales, os bolsonaristas levarão consigo o dinheiro do Fundo Partidário. Mesmo inelegível em 2026, o ex-presidente ainda nutre esperanças de se recandidatar ao Planalto na eleição presidencial seguinte Em 2026, apoiaria um candidato de sua estrita confiança, independentemente do PL. Diante de tudo isso, pode vir a ser inglória a batalha dos “moicanos” bolsonaristas da Paraíba que a todo custo querem imolar o ex-ministro Marcelo Queiroga no altar. Nilvan, Gilberto e Walber talvez estejam brigando por um espólio que dificilmente sobreviverá às tempestades futuras.