Nonato Guedes
O governador em exercício Lucas Ribeiro (PSD) já deixou clara qual a sua posição sobre as articulações para a disputa à prefeitura de Campina Grande, segundo colégio eleitoral do Estado, no próximo ano: quer a oposição ao prefeito Bruno Cunha Lima assumindo a ofensiva política, que consiste em definir estratégia própria e certeira que possa influenciar no resultado das urnas. Ou seja, ele não quer o bloco oposicionista dependente ou a reboque de líderes que aparentam dubiedade no processo, referência indireta ao ex-prefeito e atual deputado federal Romero Rodrigues, do Podemos, que em tese está distanciado do grupo de Bruno mas que não materializa sinais afirmativos de rompimento com o esquema que está no poder municipal.
Ainda que se diga em algumas áreas que Lucas está legislando em causa própria, abrindo caminho para confirmação do nome da sua mãe, a senadora Daniella Ribeiro (PSD), como candidata à prefeitura pelo bloco do governador João Azevêdo (PSB), a postura pragmática do governador em exercício é correta nas condições de temperatura e pressão que envolvem o cotejo de 2024 na Rainha da Borborema. A dados de hoje, o prefeito Bruno é favorito para a reeleição, tendo se fortalecido com o movimento de aproximação encetado pelo senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que está de olho na retribuição em seu favor em 2026. Falta “encaixar” melhor o ex-prefeito Romero Rodrigues no enredo, mas os canais de diálogo com ele não estão entupidos e, a qualquer momento, podem avançar, no compasso tático que o atual gestor campinense traça para sua campanha a um novo mandato. Há tempo à vista para tratativas mais consistentes e até irreversíveis, dependendo do interesse do próprio Cunha Lima em alargar frentes de apoio à sua pretensão.
Romero tem sido apontado como uma espécie de fiel da balança na conjuntura pré-eleitoral campinense porque, de fato, detém liderança indiscutível junto a camadas do eleitorado serrano, como reflexo das duas gestões empalmadas até pouco tempo, de forma consecutiva,à frente do Palácio do Bispo. Essa liderança foi amplificada com a sua eleição à Câmara dos Deputados, logrando votação expressiva em meio a uma enxurrada de postulantes a uma das doze cadeiras em Brasília. Seu passe tornou-se valorizado ultimamente diante do assédio insistente que lhe move o Republicanos, presidido em Campina por Murilo Galdino, para sua filiação ao partido com garantia de espaço para candidatar-se novamente à prefeitura. Mas Rodrigues segue jogando o seu jogo já conhecido: conversa com todos, elogia gregos e troianos mas não apressa decisões. No evento do Republicanos a que compareceu, por exemplo, havia uma ficha esperando por sua assinatura – e ele saiu de lá sem assinar ficha nenhuma, preferindo espalhar a confusão ao dizer que estará junto com aquela legenda nos futuros pleitos.
Romero continua sendo Romero – aquele político de perfil enigmático que semeia ventos mas não precipita rompantes políticos. Com toda a movimentação orquestrada na sua direção ou em torno do seu nome, ele não assume nenhum projeto de candidatura a prefeito em 2024, mas também não o descarta. Recorre ao surrado chavão da escola de caciques mineiros, segundo o qual política é como nuvem – ora está de um jeito, ora está de outro jeito. Essa filosofia barata é típica de quem não ambiciona se comprometer com o imprevisível – e, para Romero, a disputa à prefeitura de Campina contra o esquema de Bruno Cunha Lima chega a ser temerária, por estabelecer um confronto que pode colocá-lo em desigualdade de condições, a despeito das promessas de reforço e de transferência de votos de esquemas com quem não esteve alinhado até agora. Em 2022, Romero foi cogitado para ser candidato a vice de João Azevêdo – e alimentou, mesmo, as especulações a respeito. No final das contas, voltou ao leito natural, ou seja, ao abrigo dos Cunha Lima, manifestando apoio à candidatura do ex-deputado Pedro Cunha Lima (PSDB) ao governo, embora não tenha participado mais ativamente da mobilização majoritária que levou o filho de Cássio ao segundo turno contra Azevêdo.
O que Lucas Ribeiro intenta prevenir, ao tecer considerações sobre o processo eleitoral para a prefeitura de Campina Grande em 2024, é a concretização de uma estratégia desastrada e, em certa medida, amadorística, que deixe o bloco oposicionista a Bruno refém das incertezas e das manobras do cenário político, com isto perdendo tempo na definição das suas próprias ambições legítimas para o pleito vindouro. Esse bloco a que Lucas se refere compõe-se, ainda, do PSB do governador Azevêdo e do Republicanos de Hugo Motta e dos Galdino. Embora seja cortejado por aliados de João Azevêdo, Romero dá a impressão de que está deslocado dentro do contexto político-eleitoral da Rainha da Borborema para as eleições de 2024. A sua última “pérola” foi a de admitir candidatura ao governo do Estado em 2026, o que seria bastante, conforme analistas políticos, para não haver dúvidas sobre o lado em que ele pretende estar nos próximos embates que agitarão Campina Grande e a Paraíba como um todo. Lucas aparenta estar dando um aviso enquanto é tempo…