Nonato Guedes
A missão da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro na Paraíba no final de semana, cumprindo agenda do PL Mulher, confrontou-a com a crise verificada no partido em João Pessoa tendo como pano de fundo a indicação de candidatura a prefeito em 2024. E a mulher do ex-presidente Jair Bolsonaro deixou o Estado sem pacificar as correntes em atrito, lideradas, de um lado, pelo comunicador Nilvan Ferreira e, de outro, pelo ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, recém-filiado mas já interessado em assegurar a vaga de candidato à sucessão pessoense. Nilvan anunciou, ontem, que pretende resistir até o final do ano, junto com o deputado federal Cabo Gilberto Silva e o deputado estadual Walbber Virgolino. O trio contesta a imposição do nome de Queiroga, atribuindo-a a uma manobra do presidente estadual Wellington Roberto, que é deputado federal.
Nilvan, Cabo Gilberto e Walbber não participarem do evento de filiações que Michelle comandou em Cabedelo mas estiveram reunidos com ela (Walbber por videoconferência) no dia anterior, ocasião em que expuseram a cisão que corrói a direita paraibana e confessaram ambições de disputa eleitoral. O trio insistiu no argumento de que Marcelo Queiroga está chegando como paraquedista ao processo politico paraibano, do qual nunca participou, e que busca se valer da influência das cúpulas nacional e estadual para isolar os concorrentes e garantir para si a vaga de postulante à sucessão na Capital paraibana. Ao mesmo tempo, estranha a denominação de “dissidente” que lhe é atribuída, pois antes de Queiroga aparecer em cena eles já atuavam pregando bandeiras conservadoras e alinhando-se com a retórica de Jair Bolsonaro. Nilvan, inclusive, foi candidato a prefeito de João Pessoa, avançando para o segundo turno, e ao governo do Estado em 2022.
O grupo que se apresenta como “bolsonarista-raiz” na política paraibana mantém o ponto de vista de que o PL precisa abrir, de verdade, o diálogo com os seus líderes, ou seja, aqueles que foram para as ruas, vestiram a camisa e surfaram na onda, tanto quando a maré favorecia, como quando as coisas desandaram, com a não-reeleição do ex-presidente nas eleições de 2022. Consideram-se testados em momentos difíceis da vida no universo bolsonarista, com militância direta junto ao eleitorado, não admitindo ser tratados, portanto, como “alpinistas” ou como “oportunistas”. Dentro desse raciocínio, insistem na demanda para que a definição de candidatura a prefeito de João Pessoa esteja condicionada a pesquisas de opinião pública, que constituem o melhor termômetro para aferir tendências ou preferências do eleitorado em João Pessoa. Vão lutar, portanto, dentro da legenda, até esgotar o limite dos espaços que realmente possuem.
Embora a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro não tenha firmado posição a favor ou contra quem quer que seja, evitando, habilmente,interferir na briga que corrói as entranhas do Partido Liberal no Estado, as versões são de que, de certo modo, a mulher do ex-presidente Jair Bolsonaro sensibilizou-se com ponderações agitadas pelos deputados Gilberto Silva e Walbber Virgolino e pelo ex-candidato Nilvan Ferreira, comprometendo-se a ser porta-voz do desaguisado junto ao presidente nacional Valdemar Costa Neto e, naturalmente, junto ao seu marido, que acompanha à distância o clima de autofagia entre correligionários seus. O ex-ministro Marcelo Queiroga foi, de fato, mencionado várias vezes por Michelle no evento do PL Mulher, que empossou a mulher do cardiologista na presidência estadual feminina, mas isto não significou um compromisso explícito de apoio do “clã” Bolsonaro. Com isso, os grupos que se enfrentam sentiram-se motivados a prosseguir o combate interno, que só deverá ter um desfecho mais na frente.
Naturalmente, Nilvan Ferreira, Walbber Virgolino e o Cabo Gilberto Silva estão preparando um “Plano B” para a hipótese de serem derrotados na queda-de-braço que estão enfrentando, simultaneamente, contra o ex-ministro Marcelo Queiroga e contra o deputado federal Wellington Roberto. Em pelo menos uma ocasião Nilvan já havia admitido candidatar-se a prefeito por outra legenda se lhe for negado espaço onde está. Ainda agora, o comunicador ressalta que tem vários convites para migrar de partido e assegurar a pretensão de candidatura à cadeira ocupada hoje por Cícero Lucena, do PP, mas não há interesse nem se conhece articulação mais concreta para viabilizar uma troca de sigla. Os adversários do bolsonarismo procuram tirar proveito da divergência interna que só faz crescer, mas ainda é cedo, muito cedo, para avaliar até que ponto foi feito o estrago nas hostes da direita. De mais a mais, o cenário em si aparenta estar muito indefinido e extremamente confuso, no campo das candidaturas próprias ou das alianças que podem vir a ser concretizadas. Por esse ângulo, a presença de Michelle serviu apenas para projetá-la na eventualidade de ter que substituir o marido na corrida presidencial de 2026, sem maiores desdobramentos na conjuntura paraibana.