Nonato Guedes
A possibilidade de uma visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Paraíba neste segundo semestre permanece fora do radar oficial, conforme líderes políticos aliados do petista que têm acesso à agenda do mandatário mediante interlocução com porta-vozes credenciados de Brasília. Desde que tomou posse no cargo, para cumprir um terceiro mandato, Lula esteve apenas uma vez no Estado, logo no começo do ano, para participar de evento de inauguração de empreendimento da iniciativa privada na região do Vale do Sabugy, com aporte de recursos do BNDES. Foi uma visita-relâmpago e, por assim dizer, frustrante, uma vez que Lula não dirigiu a palavra aos paraibanos, Estado que lhe ofertou consagradoras votações tanto no primeiro como no segundo turno da disputa em 2022. Chegou mudo e saiu calado. Para piorar, obras de impacto prometidas não saíram do papel.
Ainda há, na Paraíba, grande expectativa por investimentos estruturantes de peso do governo federal em parceria com a administração estadual, não só porque o governador João Azevêdo (PSB) foi discípulo de Lula como se mantém afinado com ele e fortaleceu-se, neste segundo mandato, como presidente do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste, o chamado Consórcio Nordeste. Tem-se conhecimento que o governo Azevêdo enfeixou pleitos e demandas de interesse do Estado em documentos produzidos durante reuniões do Consórcio, que atraíram participação de ministros de Pastas específicas da Esplanada de Brasília. Mas não há uma correspondência sistematizada no atendimento e liberação das reivindicações apresentadas, o que se dá de forma esparsa e no contato direto com Ministros, muitos dos quais foram colegas de governo de João Azevêdo no primeiro mandato deste.
Não há sensação de retaliação nem de discriminação contra a Paraíba por parte do governo do presidente Lula, tal como aconteceu infelizmente no período de Jair Bolsonaro (PL), que partiu para o ataque pessoal a governadores nordestinos, como represália pelas medidas de restrição social que adotaram na pandemia de covid-19 obedecendo a recomendações de organismos especializados de Saúde. Mas falta “a grande obra” ou “o grande marco” do governo Lula III para contemplar o território paraibano, levando em conta potencialidades que passaram a ser exploradas e desenvolvidas em campos promissores como o das energias renováveis. O governo local tem feito investimentos e, simultaneamente, tem atuado para a captação de recursos e obtenção de apoio a projetos considerados indispensáveis. Mas precisaria de um influxo maior, por parte do governo federal. Uma espécie de “empurrão” que permitisse à Paraíba deslanchar, de verdade, na execução de obras e programas essenciais.
Sobre a presença física do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que se comenta nos bastidores da classe política é que o mandatário está devendo atenções mais calorosas que, concretamente, expressem sensibilidade para com as oportunidades reivindicadas. È certo que o terceiro governo de Lula ainda marca passo em muitas das definições nos diferentes setores que compõem as prioridades estratégicas e está tendo que travar penosas negociações com o Congresso Nacional para a aprovação de projetos vitais. A recente batalha em torno do texto da reforma tributária na Câmara dos Deputados foi uma amostra da dificuldade de produzir consensos e de, consequentemente, facilitar encaminhamentos. O texto da reforma depende, agora, do crivo do Senado, que sobre ele deverá se deter lá para setembro ou outubro, com ameaça de introdução de alterações que possam retardar o avanço da reforma tributária ou até mesmo desfigurar conquistas que a duras penas têm sido introduzidas. Em certa medida, isto cria insegurança e sensação de paralisia das reformas necessárias.
No que diz respeito ao roteiro de visitas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por regiões do Brasil, tem sido prejudicado pela extensa agenda internacional que o mandatário executa, com viagens a diversos países, dentro da diplomacia de resultados que persegue, pela qual tenta-se recolocar o Brasil no contexto mundial, dando um basta ao isolacionismo que foi marca registrada da Era Bolsonaro e, em paralelo, buscando conectar o país a nações que possuem interesses concentrados no mapa verde-amarelo. O presidente Lula empenha-se, ainda, em postular para o Brasil posição de liderança nas graves questões que estão na ordem do dia da política externa e que envolvem tanto os investimentos em desenvolvimento econômico e social como as tratativas para solução de conflitos com potencial inquietante, a exemplo da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. A escassez de viagens de Lula dentro do Brasil atinge vários outros Estados, inclusive, os mais influentes ou hegemônicos. Abstraindo essa realidade, a Paraíba atém-se a seus próprios interesses e aspirações, para reclamar o que considera seu quinhão, de direito, no esboço da Federação que o terceiro governo de Lula tenta, finalmente, materializar. Até prova em contrário, a vinda de Lula é uma incógnita, uma improbabilidade palpável, no curto ou médio prazo.