Nonato Guedes
O Partido Socialista Brasileiro (PSB), que foi sócio do PT na eleição presidencial de 2022, compondo a chapa com a vaga de vice, não vê com bons olhos a tática do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de fazer acordos com o Centrão, a pretexto de assegurar a governabilidade, por considerá-la “uma anomalia”. O alerta do PSB foi vocalizado pelo presidente nacional da legenda, Carlos Siqueira (PE), em meio à boataria sobre perda de cargos e ministérios pela agremiação do vice Geraldo Alckmin, que acumula o posto com um ministério. Falando à Globonews, Siqueira disse que os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) devem seguir na oposição. “Quem apoiou Bolsonaro no primeiro e no segundo turno devia se render a ser oposição, e não estar no governo. Isso é uma anomalia do sistema que nós precisamos mudar”, frisou.
E mais: “Acho um erro fazer isso (negociação) em torno de ministérios. Governo se faz em torno de ideias”. O presidente nacional do PSB cobrou que os cargos da sigla no governo federal sejam mantidos, enfatizando: “Achamos importante que o PSB mantenha os espaços que lhe foram oferecidos porque o PSB não foi apenas importante durante a campanha eleitoral, mas também joga um papel importante no próprio governo”. Siqueira revelou que não recebeu nenhuma sinalização por parte do governo sobre mudanças em pastas ou cargos do PSB e que o governo deveria agradecer pela presença do partido na administração federal. “O PSB pode perder todos os ministérios e continuar apoiando o presidente Lula. O PSB não faz barganha. Ele vai apoiar o governo em qualquer circunstância”, ponderou. O governo Lula não descarta trocar partidos aliados como o PCdoB e o PSB na Esplanada dos Ministérios para acomodar o Centrão – agrupamento fisiológico que se mantém ativo no cenário político nacional neste terceiro mandato de Lula.
Sem dispor de maioria tranquila, o governo do presidente Lula tem sido forçado a sair em desvantagem toda vez que recorre a emendas para aprovar projetos de seu interesse, sobretudo, na Câmara dos Deputados, mas, também, no Senado. Já abriu a torneira no segundo escalão e, internamente, não descarta a hipótese de fazer o mesmo em relação a ministérios, realocando indicações que foram feitas para Pastas estratégicas. Entre as “vagas” debatidas ou cobiçadas, Lula tem negado pessoalmente as pastas da Saúde e do Esporte, ocupadas por duas mulheres das respectivas áreas, sem influência partidária, e do Desenvolvimento Social, liderado por um petista, Wellington Dias, do Piauí. Sobram, então, para partidos que compuseram a chapa original da campanha petista, como PCdoB e PSB, as atenções de União Brasil, PP e Republicanos. O apetite destes três últimos partidos é considerado incontrolável e gera incômodos aos próprios petistas. Na Paraíba, o presidente estadual do PT, Jackson Macêdo, desabafou que “doem no coração” as nomeações de bolsonaristas no governo Lula.
– Logicamente que o presidente Lula precisa dessa relação com o Congresso Nacional. Agora, dizer que tem um petista satisfeito com isso, quando a gente vê um companheiro nosso, com capacidade técnica e quadros qualificados, ser indicado para trabalhar no governo e, muitas vezes esses quadros são preteridos por bolsonaristas, isso dói no coração, embora a gente saiba que é necessário – desabafou Jackson Macêdo, em entrevista à rádio CBN. O próprio dirigente estadual do PT foi preterido em postulação pessoal e tem sido surpreendido com escolhas premiadas de apaniguados do PP do deputado federal Aguinaldo Ribeiro, do União Brasil do senador Efraim Filho e do Republicanos do deputado federal Hugo Motta. “O cenário é ainda mais difícil para quem não tem maturidade política, pois enfrentamos uma eleição difícil contra o bolsonarismo e, depois da eleição, estamos tendo que distribuir espaços no governo para quem nos enfrentou, para quem acampou em quartel pedindo intervenção militar”.
Apesar do choro e ranger de dentes, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, admitiu em entrevista ao jornal “O Globo” que o PT pode abrir mão de mais espaços no governo Lula para abraçar outras legendas em prol de maior apoio no Congresso Nacional. Gleisi destacou que o PT já fez um grande esforço durante a composição dos ministérios, mas que poderá ceder ainda mais espaço a outras siglas para conseguir melhorar a relação do governo com deputados e senadores. Hoffmann ressaltou que a composição do governo formada por Lula no primeiro semestre não deu conta de garantir o apoio necessário no Congresso. E, na sua opinião, o governo não pode viver de solavanco, tendo que ficar negociando a cada novo projeto que for enviado ao Parlamento. “A base na Câmara e no Senado pode até não ser uma base permanente para aprovar uma PEC, mas para aprovar projetos importantes, o que demanda negociação. O PT precisa ter a compreensão do que significa ter uma composição política. Afinal, é o partido do presidente da República e tem a responsabilidade de sustentar a aliança que o elegeu”, concluiu Hoffmann, traduzindo a estratégia lulista ora deflagrada.