Nonato Guedes
Depois de ter despontado como uma novidade no cenário político de João Pessoa, capaz de desestabilizar virtuais concorrentes na disputa eleitoral pela prefeitura em 2024, o ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro, Marcelo Queiroga (PL) demonstra dificuldade para avançar na conquista de apoios e costura de alianças para consolidar o seu projeto. Ele já entrou em cena como elemento desagregador, desencadeando forte resistência do trio bolsonarista do PL formado por Nilvan Ferreira e pelos deputados Cabo Gilberto Silva e Walbber Virgolino. Ao mesmo tempo, não demonstrou competência ou habilidade para dialogar com segmentos da direita que lhe assegurassem respaldo para levar adiante uma empreitada em si mesmo difícil tendo em vista a sua condição de “ilustre desconhecido” de expressivas parcelas do eleitorado, já que nunca disputou nenhum mandato eletivo.
Cardiologista, Marcelo Queiroga parece ter apostado demasiado num único trunfo – o ex-presidente da República Jair Bolsonaro, ignorando que este perdeu para Luiz Inácio lula da Silva na Capital paraibana e a circunstância de que a escrita não favorece transferência de votos de mandatários na Paraíba, tanto assim que o próprio Lula tentou, inutilmente, bafejar o ex-governador Ricardo Coutinho em duas eleições majoritárias – a prefeito e a senador, sem, contudo, operar milagres, embora, pessoalmente, tenha se beneficiado em um dos pleitos. Avalia-se que o próprio evento recente do PL comandado pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, cujo pretexto seria o de ”apresentar” e fortalecer Marcelo Queiroga foi um fracasso dentro dessa perspectiva. Queiroga continuou do mesmo tamanho e não transmitiu carisma que o imantasse, aos olhos da opinião pública, como um nome virtualmente competitivo.
Na prática, o movimento encetado por Queiroga tardiamente, após ter deixado o governo de Jair Bolsonaro, naturalmente picado pela mosca azul da política, acabou mesmo contribuindo para esfacelar os quadros do Partido Liberal, que, apesar da derrota na reeleição de Bolsonaro, logrou crescer pontualmente em eleições legislativas, de que foi exemplo a votação expressiva do Cabo Gilberto para a Câmara dos Deputados. Quanto ao comunicador Nilvan Ferreira, já havia sido testado nas urnas com votações surpreendentes – quer para prefeito de João Pessoa em 2020, quando avançou para o segundo turno contra Cícero Lucena, quer para o governo do Estado, em 2022, quando se situou na terceira posição, desbancando o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) que era apoiado por Lula. Nota-se que Ferreira seguiu num crescendo na política, independente de surfar em ondas bolsonaristas que ora “estavam assim”, ora “estavam assadas”. A percepção de Nilvan sobre luz própria adquirida no processo político, sem prejuízo da sua tática de “industriar” a ligação com Bolsonaro, deu ao comunicador, indiscutivelmente, maior desenvoltura no jogo político local.
Assim é que Nilvan tem expandido canais de interlocução na faixa da direita e da centro-direita, de que foi exemplo o seu diálogo com o senador Efraim Filho, comandante na Paraíba.do União Brasil, um partido que tem gana de assumir o quanto antes papel de protagonismo no cenário estadual para pavimentar, lá na frente, a ambição do próprio Efraim de ser candidato a governador. A tratativa que se ensaia entre Nilvan e Efraim gira em torno da suposta filiação do comunicador, com espaço para tentar, novamente, disputar a prefeitura de João Pessoa. O enlace pode até se consumar, diante de convergências de interesses que facilitam a aproximação, mas, por enquanto, não há definições nem sobre filiação nem sobre pretensa candidatura. Seja como for, Nilvan atraiu para a sua órbita promessas de apoio dos deputados Gilberto Silva e Walbber Virgolino, que também cortejam a possibilidade de bater chapa contra o atual ocupante do cargo, Cícero Lucena. Cogita-se que os dois possam acompanhar Nilvan numa deserção do PL, onde o ambiente é irrespirável para eles.
Nos meios políticos afirma-se que o grande problema do ex-ministro Marcelo Queiroga foi a tática errática de querer entrar em cena na política pessoense e paraibana pela via da imposição de cúpula. Não é segredo para ninguém que, além de escudar-se na assinatura do ex-presidente Jair Bolsonaro, a quem foi leal nos instantes de desgaste do governo pelo negacionismo adotado durante a pandemia de covid-19, Queiroga procurou ancorar-se no reforço da cúpula nacional do PL, presidido por Valdemar Costa Neto e, ao mesmo tempo, na garantia de vaga para uma candidatura em 2024 acenada pelo presidente estadual do partido, o deputado federal Wellington Roberto, que tem pendências com Nilvan remanescentes da eleição de 2022. Mas o suporte que Queiroga foi buscar lá fora não lhe fornece o passaporte para ser ungido candidato. E ainda que seja imposto, comerá o pão que o Diabo amassou para atrair votos e simpatias numa cidade que cresceu e passou por mudanças com as quais o cardiologista não está identificado. Fato é que ambições pessoais desmedidas poderão acabar levando de roldão não apenas o projeto de poder do PL em João Pessoa, mas o projeto de poder da própria direita, que estava excessivamente sequiosa para montar uma trincheira no Nordeste a partir da Capital paraibana.