Nonato Guedes
A cúpula estadual do Partido dos Trabalhadores, através do presidente do diretório, Jackson Macêdo, tem se empenhado em evitar atropelos no processo de discussão de táticas referentes às eleições municipais do próximo ano, principalmente em João Pessoa e cidades da região metropolitana, sob a alegação de que há uma agenda institucional a ser cumprida e que qualquer precipitação pode ser prejudicial à unidade e à estratégia para conseguir vitórias no pleito de 2024. Nas últimas horas, Jackson desautorizou manifestação de petistas da cidade de Cabedelo favoráveis a uma aliança em apoio à candidatura do ex-deputado Ricardo Barbosa (PSB) a prefeito. Na semana passada, a cúpula desautorizou especulações envolvendo o lançamento, em Santa Rita, do nome do ex-governador Ricardo Coutinho, um dos líderes proeminentes da agremiação na Paraíba, deixando claro que não se tratava de nenhuma restrição pessoal contra ele.
A cautela de Jackson se impõe diante da pressa que alguns filiados tentam imprimir a uma disputa eleitoral que ainda está distante e cuja configuração definitiva ainda comportará debates intensos, principalmente no PT que tem por característica abrigar alas e sub-alas, que, às vezes, partem para o entredevoramento, com isto comprometendo a unidade indispensável para que o partido tenha boa performance nas próximas eleições. O dirigente assegura que, no momento certo, dentro do calendário esboçado pela própria Executiva Nacional, o PT da Paraíba pautará o confronto sobre a tese de lançamento de candidaturas próprias a prefeito ou de formação de alianças com outras legendas e esquemas políticos. Aparentemente não há dogmas nem temas-tabus no PT, mas as decisões deverão ajustar-se à realidade das localidades onde elas forem tomadas, respeitando-se, por óbvio, as suas respectivas peculiaridades. Isto implica na absorção de saídas diferentes para casos específicos.
Em João Pessoa, tanto há espaço para lançamento de candidatura própria como há espaço para uma aliança, de preferência com o esquema do governador João Azevêdo (PSB), que apoiou a candidatura do líder Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência nos dois turnos, inclusive, naquele em que não teve reciprocidade de apoio na Paraíba. Azevêdo, em princípio, está compromissado com o projeto do prefeito Cícero Lucena (Progressistas) de concorrer à reeleição, e o próprio PSB do chefe do Executivo reivindica espaços, quer na chapa à recondução, quer na administração de Lucena. Esse pleito voltou a ser colocado na mesa, ainda ontem, pelo deputado federal Gervásio Maia, presidente estadual do diretório socialista, ao lembrar que o partido fez concessões em 2022 para beneficiar um filho de Cícero, Mersinho Lucena, que se elegeu à Câmara dos Deputados, enquanto a representação dos socialistas tornou-se restrita ou diminuta no plano federal. Gervásio acha que erros de estratégia acabam penalizando uns e favorecendo outros, além da conta – distorção que espera ver corrigida na montagem das chapas para 2024.
Em relação à candidatura própria do PT à prefeitura de João Pessoa, pelo menos dois deputados estaduais mobilizam-se de forma ostensiva para conseguir a preferência da indicação interna – Luciano Cartaxo, que foi eleito à Assembleia Legislativa em 2022 e Cida Ramos, que foi reeleita no mesmo pleito. Alguns já cortejaram a prefeitura pessoense em eleições anteriores – Cartaxo vitorioso por duas vezes, Cida Ramos derrotada na única vez em que deflagrou a postulação, ainda pelo PSB. Jackson Macêdo tem dito que as aspirações são legítimas e que serão devidamente levadas em consideração quando o processo de discussão encaminhar-se para o afunilamento, ou seja, quando estiver mais próximo das decisões formais. Tem ressaltado, porém, que não está fora do radar a hipótese de composição com o esquema do governador João Azevêdo – uma declaração que reproduz o ambiente claramente divisionista do PT paraibano, onde uma facção sente-se alinhada com João, e outra quer distância de diálogo com o PSB.
O dirigente estadual Jackson Macêdo, que é calejado nas divergências, inclusive, aquelas que resvalam para desinteligências com embates irreversíveis que podem originar rompimentos ou defecções esforça-se para manter uma posição equilibrada em meio ao fogo cruzado, confiante no respaldo da direção nacional do Partido dos Trabalhadores, comandada pela deputada paranaense Gleisi Hoffmann, que é uma espécie de alter-ego do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em algumas situações de extrema relevância para o cenário nacional. Macêdo é conhecido pela disciplina e pela capacidade de engolir sapos quando tem que preservar a estratégia geral do partido. Ainda agora, aceita, constrangido, a ascensão de ex-bolsonaristas a cargos federais na Paraíba com o aval do PT nacional. Ele sabe que a preparação para as eleições municipais será um parto laborioso, mas atua para impedir que a situação saia de controle e que a legenda venha a ser sacrificada no moedor de carne em que se transformam as eleições.