Nonato Guedes
Embora a disputa eleitoral de 2026 esteja bem distante e terá que passar pelo pleito municipal de 2024, o assunto predileto nas rodas políticas paraibanas é o futuro que o governador João Azevêdo (PSB) pretende trilhar, embutindo-se nesse contexto a especulação sobre o grau de influência que ele possa ter num cenário ainda sem sinais concretos de configuração. A polêmica gira em torno das duas hipóteses – o “Fico” de João, com a permanência no Executivo até o último dia do mandato ou a renúncia em forma de desincompatibilização como rito obrigatório para o gestor concorrer a mandato legislativo – quer ao Senado, quer a uma vaga na Câmara dos Deputados. O tema inquieta governistas e oposicionistas, sob a alegação de que, da decisão, dependerão as nuances da correlação de forças no panorama estadual. Na verdade, da decisão dependerão as estratégias para o futuro, já que as hipóteses em pauta comportam táticas distintas para os que ambicionam o poder.
A relutância do governador em abrir a guarda e produzir declaração de cunho taxativo a respeito do seu projeto para o futuro aprofunda o sentimento de angústia e impotência entre os políticos, tolhendo os seus passos diante da perspectiva de fatos novos que jogarão por terra as articulações ensaiadas nos bastidores, em meio a prenúncios de compromissos informais que podem acabar virando riscos na água por causa da dinâmica política em seu estágio mais avançado. 2022 ainda está recentíssimo para servir de lição acerca das surpresas ou reviravoltas que podem reconfigurar uma jornada eleitoral. Na corrida pelo Senado, por exemplo, João perdeu um aliado que se elegeu pela oposição – Efraim Filho (União Brasil), deixando sua candidata Pollyanna Dutra (PSB) a ver navios. Houve uma inflexão, também, na vice, com o PP deslocando Lucas Ribeiro da atuação na prefeitura de Campina Grande para compor a chapa de Azevêdo à reeleição, com vitória cristalizada no balanço das urnas em segundo turno.
Para 2026, na hipótese de Azevêdo deixar o governo, este passa às mãos de Lucas, que ganha direito de concorrer no exercício do mandato. Se João permanecer, o gesto pode indicar preferência por outra candidatura, e a mais falada tem sido a do secretário de Infraestrutura Deusdete Queiroga, que é do chamado “núcleo duro” do atual governador. Especula-se como reagirão o PP e o “clã” Ribeiro se Azevêdo lançar candidatura própria do PSB à sua sucessão. Interessa, também, aguardar a posição do Republicanos, presidido pelo deputado federal Hugo Motta, cujo nome é cotado ora ao governo, ora a uma vaga de senador, e tem quadros relevantes para qualquer disputa majoritária, como o deputado estadual Adriano Galdino, presidente da Assembleia Legislativa e experimentado articulador político. Vale lembrar que PSB, Republicanos e PP compõem o tripé de sustentação política do governo de João, à frente de outros partidos que não têm a posição de protagonismo ocupada por eles. As pressões, diretas e indiretas, procedem de toda parte, às vezes atrapalhando a agenda administrativa que o chefe do Executivo paraibano tenta viabilizar com resultados promissores.
Em pelo menos algumas oportunidades João Azevêdo deixou escapar o desejo de candidatar-se a outro cargo eletivo na reta final do segundo mandato que está começando a empalmar. Ao colunista, chegou a confessar que a prenda almejada não seria necessariamente uma vaga no Senado, podendo ser uma cadeira na Câmara dos Deputados, onde pudesse abordar a problemática nacional com ênfase na realidade do Nordeste, cujo Consórcio de Governadores passou a presidir. Até adversários radicais de Azevêdo reconhecem que ele está preparado e pode oferecer valiosa contribuição à representação política no Congresso. A questão, porém, não é tão simples de resolver. Nesse ponto, agita-se com frequência o “fantasma” de Ricardo Coutinho (PT), que em 2018 abdicou de concorrer a uma vaga ao Senado, priorizando eleger Azevêdo ao governo, o que ocorreu no primeiro turno. Deu-se, depois, que Ricardo foi engolfado por acusações no bojo da Operação Calvário – e não dispunha de imunidade parlamentar ou política para promover sua defesa com certa tranquilidade. Na sequência, Ricardo candidatou-se a prefeito de João Pessoa, depois ao Senado – e não logrou o êxito pretendido. As conjunturas haviam mudado e ele passara a ser detentor de desgaste junto a fatias expressivas do eleitorado.
Sempre que possível, o governador João Azevêdo busca contornar as perguntas ou insinuações dentro do seu próprio círculo sobre pretensões políticas para o futuro. Ressalta que tem prioridades mais urgentes desafiando sua capacidade de trabalho e suas energias e que, também, é refém de compromissos com mudanças que possibilitem o surgimento de uma nova Paraíba, uma Paraíba viável, autosustentável e empenhada na exploração proativa de suas potencialidades que agora se oferecem. Adicionalmente, podem estar em curso pressões do núcleo familiar para romper com a política ao fim do segundo mandato. Tudo isto compõe caleidoscópio cuja decifração demanda análises exaustivas. Daí a cautela que o governador se atribui para não tomar uma decisão que apenas satisfaça apetites de grupos políticos e desconsidere o seu próprio interesse quanto às metas que tenciona perseguir daqui para a frente, inclusive, na vida pública, com quem adquiriu intimidade durante a passagem por cargos executivos de destaque no Estado e na Região.