Nonato Guedes
O aprendizado ou estágio probatório do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para infiltrar-se na política e conseguir um mandato, tem sido desastroso, na opinião de próceres experientes que acompanham os passos do ex-auxiliar de Jair Bolsonaro para tentar firmar-se como candidato a prefeito de João Pessoa, nas eleições do próximo ano, concorrendo pelo PL.. O perfil desagregador é o mais característico de Queiroga, que nunca disputou cargo eletivo na política-partidária – cada vez que ele fala, se distancia de filiados do PL com votos, a exemplo do comunicador Nilvan Ferreira, ex-candidato a governador e a prefeito da Capital, e do deputado federal Cabo Gilberto Silva. O discurso de Queiroga é de franco-atirador, posicionado contra três governos – federal, estadual e municipal, mas não foi capaz, até agora, de sensibilizar parcelas influentes do eleitorado ou frações formadoras da opinião pública.
Uma desvantagem alardeada sobre Queiroga diz respeito ao fato de que há bastante tempo está ausente do Estado, militando como cardiologista em centros especializados do Sul e Centro-Sul e buscando fazer amizades e influenciar pessoas em auditórios distintos por onde tem passado, inclusive, no exterior. Como decorrência, continua sendo um desconhecido para grande parte da população, e é tido por alguns como um paraquedista, por outros como um oportunista político. Enfim, comenta-se em algumas áreas que Marcelo Queiroga chegou “tarde e atrasado” a um cenário coalhado de caras novas ou de remanescentes de oligarquias que, por assim dizer, estão fazendo o rito de passagem entre seus próprios parceiros ou companheiros de jornada. Se imaginou que a passagem pelo Ministério da Saúde em plena pandemia da covid-19 lhe garantisse visibilidade, Queiroga errou de cálculo. Ainda que tenha despontado na mídia, não logrou massificar-se junto ao eleitorado, que é o senhor da decisão nas urnas, o elemento capaz de alavancar ou dinamitar carreiras nascentes que se insinuam numa atividade complexa e, convenhamos, desgastante.
A constatação de pontos vulneráveis na biografia de Queiroga na vida pública não é, propriamente, um atestado de incompetência sua para gerir os destinos da Capital paraibana, que se prepara para ingressar na casa do 1 milhão de habitantes. O que parece não haver, da sua parte, é conhecimento mais aprofundado dos problemas que desafiam a administração municipal de João Pessoa, ou seja, falta-lhe intimidade com a dimensão das questões que estão na ordem do dia e que, nos tempos atuais, exigem pronta intervenção dos administradores, até para atender ao sentimento de impaciência originário de camadas da sociedade exaustas de esperar pelo progresso real. O ex-ministro pode produzir, num passe de mágica, ideias interessantes para a João Pessoa do futuro, bastando cercar-se de equipes treinadas no marketing e de estratégias de comunicação aparentemente bem elaboradas para causar impacto e reverter em votos. Mas, no confronto com os demais postulantes, não estará imune a tropeções devido a desconhecimento absoluto de fatos contemporâneos da realidade urbanística pessoense.
Na conjuntura das últimas décadas na Paraíba, houve conterrâneos ilustres que cogitaram a hipótese de conquistar um mandato pelo Estado de origem, mesmo conscientes da dificuldade de interlocução ou de empatia com os que residem neste território. Ministro da Fazenda no governo de José Sarney, o economista paraibano Maílson da Nóbrega pensou em concorrer a um mandato de deputado federal, surfando na onda do Plano Cruzado, que elegeu governadores em série nos Estados pela legenda do então PMDB. Ele deitou um olhar, também, sobre o governo do Estado, mas entendeu que uma vaga no Congresso estaria de bom tamanho. O plano, excusado dizer, nem foi adiante. Já o empresário Ney Suassuna entrou na política pela porta da suplência de senador, até que se consagrou em 98, não conseguindo, entretanto, renovar a cadeira que cobiçara. Ney, que fez dobradinha com José Maranhão, era tido como um “trator” pela capacidade de arrancar recursos para a Paraíba e de protagonizar lances pitorescos, como empilhar latas em Brasília num protesto pela falta de socorro federal ao Estado no período da estiagem. Sabe-se de outros pretendentes que andaram fazendo sondagem – e desistiram antes de proclamar intenção de candidatar-se.
O ex-ministro Marcelo Queiroga dá a entender que fia-se, demasiado, no marketing do apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro a uma virtual candidatura sua a prefeito de João Pessoa como se isto fosse uma espécie de “pomada maravilha” capaz de ungi-lo, sem muito esforço, para a cadeira de prefeito da Capital paraibana. Nem há garantia de que Bolsonaro transfira votos para eventuais apadrinhados, tampouco há qualquer indício de que Marcelo Queiroga tenha carisma para, num átimo de tempo, desbancar adversários portentosos, que ora se escudam na máquina e nos serviços prestados, ora dispõem de popularidade para serem alçados ao executivo pessoense. Adicionalmente, Marcelo tem cometido erros primários, como o de aparecer no papel de algoz de Nilvan, que criou relação com o eleitorado de João Pessoa. Em situações assim – é o que se diz nas rodas – Queiroga acaba sendo, na prática, garoto-propaganda de Nilvan Ferreira, o comunicador que resolveu perseguir como meta de vida ser prefeito da Capital de todos os paraibanos e mostra-se obstinado na consecução desse desideratum, desafiando chuvas e trovoadas.