Nonato Guedes
Campina Grande, que é o segundo colégio eleitoral da Paraíba, vive ambiente de ebulição política com as forças de oposição, ligadas ao governador João Azevêdo (PSB), empenhadas em apressar o racha no esquema do prefeito Bruno Cunha Lima, candidato à reeleição e, teoricamente, favorito nas intenções de voto. O prefeito enfrenta insatisfações na sua base por ter acolhido com honras o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), ex-adversário histórico dos Cunha Lima e atual colaborador influente na gestão, inclusive, indicando nomes de sua confiança para o secretariado municipal. O “golpe” foi acusado pelo ex-prefeito e atual deputado federal Romero Rodrigues (Podemos), que é pressionado nos bastidores a chutar o pau da barraca e oficializar o rompimento, assumindo novamente candidatura ao executivo nas eleições do próximo ano. Rodrigues pausou nas queixas sobre desatenção mas mantém-se distanciado de Bruno Cunha Lima.
A tensão aumentou, ontem, quando o deputado estadual Tovar Correia Lima (PSDB), que é tido como ligado a Romero, manteve audiência com o governador João Azevêdo a pretexto de encaminhar reivindicações de interesse da população campinense. O governador não mencionou suposta aliança política como tema da agenda, mas deu ênfase ao caráter proveitoso do diálogo. Interlocutores seus, como o deputado estadual Adriano Galdino (Republicanos), presidente da Assembleia Legislativa, cogitaram mesmo a hipótese de adesão de Tovar à base situacionista, insinuando que a audiência foi o prenúncio de um auspicioso entendimento. Tovar, por sua vez, garantiu que daria ciência a Bruno de pleitos discutidos com o governador e que envolvem o concurso da municipalidade campinense, tentando passar a impressão de normalidade na relação com o gestor da Rainha da Borborema.
Em meio a especulações de todo tipo e rumores de conspirações, nota-se que o esquema do governador passou a dar atenção especial à estratégia para infiltrar-se política e eleitoralmente em Campina Grande, abalando a hegemonia de Cunha Lima. Além do assédio a Romero, trabalha-se com a hipótese da pré-candidatura a prefeita da senadora Daniella Ribeiro, presidente estadual do PSD e mãe do vice-governador Lucas Ribeiro (PP) e com o provável lançamento do secretário de Saúde do Estado, Jhony Bezerra, pelo PSB. Ele é presidente do diretório municipal socialista e assumiu o comando da agremiação na perspectiva de promover o seu fortalecimento, tornando-o, inclusive, competitivo para encabeçar chapa contra o grupo do prefeito Bruno Cunha Lima, que está de saída do PSD para ingressar possivelmente no União Brasil, atendendo a convite e apelos formulados pelo senador Efraim Filho, que deseja oxigenar a legenda nos maiores centros urbanos do Estado, tentando investir, também, em João Pessoa.
Nas eleições de 2022, Romero Rodrigues chegou a ser cogitado como candidato a vice-governador na chapa do governador João Azevêdo à reeleição, mas os entendimentos nunca foram levados adiante, apesar da relação amistosa cultivada pelo chefe do Executivo estadual com o hoje deputado federal do Podemos. A especulação ganhou corpo em meio a indicações de que Romero poderia sair candidato ao governo pela própria oposição, contra João Azevêdo. Ele permaneceu nesse papel durante um bom período mas acabou refugando a ideia, cedendo espaço para o então deputado federal Pedro Cunha Lima, que conseguiu a proeza de empurrar a disputa para o segundo turno e de torná-la acirrada no ano passado, principalmente nos grandes colégios eleitorais do Estado, no entorno de cidades influentes como João Pessoa e Campina Grande. Diante do novo cenário posto em evidência, Romero lançou-se candidato à Câmara Federal, obtendo expressiva votação e já se destacando, no início da legislatura, em cargos de destaque, a exemplo da presidência da Comissão de Turismo daquele Poder.
Foi o deputado estadual Adriano Galdino, uma espécie de “coringa” no cenário político paraibano, respeitado pela sua capacidade de articulação e experiência política, que levantou a lebre de que Romero não estaria se sentindo à vontade na volta à Câmara dos Deputados e que continuava obcecado, mesmo, pela hipótese de retornar à prefeitura de Campina Grande, que administrou por duas vezes. Na sequência, líderes e expoentes do Republicanos passaram a considerar a hipótese de incentivar Rodrigues a assinar ficha de filiação na legenda com a garantia de ser candidato à sucessão de Bruno Cunha Lima. O ex-prefeito e atual deputado federal chegou a prestigiar o evento de posse do deputado Murilo Galdino na presidência do diretório municipal do Republicanos em Campina Grande, fez juras de aliança com o partido mas não assinou ficha de filiação, como era insistentemente especulado na mídia e nos círculos políticos paraibanos. Não se conhece, em detalhes, a estratégia que porventura foi decidida nos bastidores entre Romero Rodrigues e a cúpula do Republicanos presidida pelo deputado federal Hugo Motta. Entretanto, a máquina de produzir boatos não para e é retroalimentada por episódios pouco convencionais que sinalizam perspectiva de reviravolta em Campina Grande. Ou, então, de blefe, na análise de alguns “experts” do jogo político, que interpretam com “lupa” os sinais emitidos da Rainha da Borborema.