Nonato Guedes
Pela terceira vez o prefeito Cícero Lucena (Progressistas) estará no comando dos destinos de João Pessoa ao ensejo do seu aniversário de fundação. A Capital paraibana completa, hoje, 438 anos, com uma história rica em tradições, belezas naturais e um valioso patrimônio histórico artístico-cultural. Destacada por ser uma das mais antigas cidades do Brasil e por ter sido classificada como uma das mais verdes do mundo, ombreando-se a Paris, João Pessoa tem peculiaridades fascinantes decantadas não somente pelos seus 833.932 habitantes (apontados pelo Censo de 2022 do IBGE) mas pela legião de turistas atraídos pelo marketing de “ponto mais oriental das Américas” e lugar onde o sol nasce primeiro. Tem sido, também, mote para sambas-enredo de escolas de samba de metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo, espalhando-se mundo afora a propaganda das suas potencialidades.
No último mês de julho, uma plataforma do YouTube acrescentou mais um título aos que já dignificam a Capital da Paraíba: o de melhor cidade para se morar, com 35% dos votos, o que a colocou em primeira posição no levantamento, bem distante de Santos (segundo lugar), que obteve 13% dos votos. Em junho deste ano, João Pessoa ficou em primeiro lugar no ranking de capitais sustentáveis do Nordeste, superando cidades como Salvador, Fortaleza e Recife, conforme indicação do Programa “Cidades Sustentáveis”, que toma como base os referenciais de desenvolvimento aplicados em todas as cidades brasileiras e que leva em consideração pelo menos uma centena de indicadores entre social, ambiental, economia, política e cultura no planejamento municipal. Os entrevistados normalmente apontam trânsito, segurança e infraestrutura como características positivas, sendo um chamariz, também, o ambiente revestido de ares interioranos combinado com estrutura de cidade grande.
Cícero Lucena não esconde o orgulho por dirigir a antiga Felipéia de Nossa Senhora das Neves em mais uma gestão, no dia que assinala, também, o seu aniversário (ele nasceu em São José de Piranhas, no sertão paraibano). A primeira vez em que ascendeu à prefeitura pelo voto foi em 1996, tendo sido reeleito em 2000 – período em que introduziu até mudanças revolucionárias na paisagem urbanística, como a extinção do chamado Lixão do Roger, que era uma espécie de “chaga social” vergonhosa para a população. Lucena retornou ao gabinete cerca de dezesseis anos depois, após ter cumprido um mandato no Senado Federal. No seu currículo consta, também, que foi vice-governador na gestão de Ronaldo Cunha Lima, no início dos anos 90, tendo completado o mandato no exercício da titularidade, quando revelou vocação para a vida pública. Igualmente foi secretário de Políticas Regionais, com status de ministro, no governo de Fernando Henrique Cardoso, atuando em ligação estreita com o Ministério do Planejamento que então era pilotado por José Serra. Empresário com incursão vitoriosa pela construção civil, Cícero é respeitado pelo conhecimento que tem dos problemas de João Pessoa e das suas perspectivas de solução.
Ele voltou ao cargo em 2020, disputando um páreo com 14 candidatos e decidindo a parada no segundo turno, contra o comunicador Nilvan Ferreira, que despontava como fenômeno do jogo político pessoense-paraibano e que concorreu originalmente pelo MDB. Teve o apoio do governador João Azevêdo, que havia sido eleito em 2018 pelo PSB, com quem possuía afinidades relacionadas com a iniciativa privada e, também, com o serviço público. Os dois gestores conseguiram consolidar uma parceria proveitosa, que, nas palavras do prefeito, “oferece resultados concretos” à população. O clima de entrosamento entre eles é reconhecido e respeitado pelos próprios adversários e irá se manifestar mais uma vez, hoje, com as entregas de obras e benefícios tanto pela administração estadual como pela administração municipal. Azevêdo tem reiterado a perspectiva de manutenção da aliança do PSB com Cícero nas eleições de 2024, mesmo confrontado com postulações internas alimentadas nas franjas do seu próprio agrupamento político.
Talvez por estar no terceiro mandato, Cícero Lucena é alvo de intensas críticas, por parte, inclusive, de antigos aliados políticos que hoje o desafiam nas urnas, a exemplo do deputado federal Ruy Carneiro, que foi seu chefe da Casa Civil em uma das gestões e que teve o nome lançado à prefeitura, sendo derrotado por Ricardo Coutinho, um dos mais destacados líderes emergentes da Capital paraibana. O atual gestor tem consciência da amplitude dos desafios que passou a enfrentar nesta terceira etapa administrativa em João Pessoa, da mesma forma como sabe da sua responsabilidade em preparar a Capital, efetivamente, para atingir a marca do milhão de habitantes.
Ultimamente cogitou levar à frente estudos para implantação de um projeto de engorda da orla marítima pessoense, o que despertou acirradas resistências de adversários políticos e de especialistas técnicos. Recuou nos estudos mas não na tese, em cuja viabilidade acredita, levando em conta, justamente, conforme ele tem alegado, a expansão da Capital paraibana em pontos cruciais à beira-mar. Na prática, mudou de estratégia, cedendo a pressões para aprofundar o debate com segmentos realmente versados no assunto. Cícero Lucena é conhecido como um executivo afeito a desafios – e esta característica o inspira a submeter-se aos novos embates que já estão sendo agitados pelos opositores para o pleito do próximo ano. Até lá, promete uma mini-revolução na paisagem de João Pessoa.