Nonato Guedes
Partido que perdeu relevância no Congresso Nacional, elegendo apenas 13 deputados e 6 senadores, o PSDB, presidido pelo governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, divulgou uma nota oficial esta semana, negando qualquer participação no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mesmo não tendo havido nenhum convite do Planalto ou da legenda com tal objetivo. A mídia nacional revela que nos últimos dias surgiram especulações sobre uma possível aproximação com a gestão petista, especialmente em meio à reforma ministerial que visa acomodar paridos do Centrão, como o Republicanos e o PP. Rumores indicavam que o governo federal poderia tentar atrair os tucanos, inclusive oferecendo a vice-presidência da Caixa Econômica à sigla, como mencionado pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, mas a cúpula rechaçou quaisquer investidas.
O PSDB enfrenta uma crise recente com a diminuição de parlamentares eleitos e chefes de Executivo e se esforça para buscar uma terceira via nas eleições presidenciais de 2026. Esse papel foi tentado na disputa de 2022, que se tornou tumultuada para a legenda dadas as divergências entre os governadores João Doria, de São Paulo, e Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, que ficaram incontornáveis e tiveram desdobramentos por todo o país. A Paraíba foi um dos poucos Estados onde o PSDB avançou para o segundo turno, com a candidatura do então deputado federal Pedro Cunha Lima, presidente do diretório estadual, que acabou derrotado no confronto com o governador João Azevêdo. Para 2024, a agremiação buscará reconquistar eleitores na disputa municipal, principalmente nos grandes centros, mas o futuro do PSDB é imprevisível diante do esvaziamento que tem experimentado. O partido chegou a polarizar eleições presidenciais com o PT mas só conseguiu eleger um candidato a presidente, por duas vezes, desde a redemocratização recente – o sociólogo Fernando Henrique Cardoso. Nomes como José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves foram derrotados à Presidência da República.
Na nota que divulgou, o partido afirma enfaticamente: “O PSDB não fará parte do atual governo federal, comandado pelo PT, em cargo nenhum e sob nenhum pretexto. Respeitamos o presidente Lula. Ele é o presidente do Brasil, foi eleito pelos brasileiros e temos – a executiva, nossos governadores, senadores, deputados, prefeitos e vereadores, o dever de ter com o atual governo uma relação institucional em defesa da população brasileira e do Brasil. Assim continuaremos. Sempre. Queremos um Brasil melhor, sim. E atuaremos para isso como oposição consequente, que reconhece que não era mais possível continuar como estávamos, mas que também sabe que o país ainda não tem um caminho claro, seguro e sereno de futuro. O atual governo do PT não tem promovido ações consistentes de reconciliação nacional, talvez porque, em sua essência, não queira, não saiba ou não consiga fazê-lo. Esta é uma das muitas divergências que temos com o PT e o que ele representa. Somos diferentes, inclusive, no jeito de fazer oposição”.
A nota do PSDB recapitula que o Partido dos Trabalhadores votou contra a Constituição de 1988. E que o PT foi contra o Plano Real, apresentado como uma das principais bandeiras do governo de Fernando Henrique Cardoso, embora ainda hoje a paternidade seja dividida com o ex-presidente Itamar Franco, que assumiu com o impeachment de Fernando Collor de Mello em 1992 e tinha FHC como seu ministro da Economia. A nota ressalta, referindo-se aos petistas: “Atacaram ferozmente a Lei de Responsabilidade Fiscal. Fizeram campanha irresponsável pelo impeachment de Fernando Henrique por mera disputa política e eleitoral. Nossa oposição, hoje, não é ao Brasil, e o presidente Lula poderá contar com o PSDB quando o melhor para o país estiver em jogo. Mas faremos isso do lugar que o povo brasileiro nos colocou na eleição passada: na oposição. E vamos apresentar propostas em 2026 para que a população brasileira tenha alternativa, para que os brasileiros não tenham de escolher entre o pior e o menos pior”.
Enfatizam os tucanos: “Trabalharemos para corrigir e aperfeiçoar os projetos que o governo apresentar, como foi o caso da Reforma Tributária, que só parou em pé após a atuação firme dos governadores. E não deixaremos de denunciar com afinco este governo quando for preciso, como nas estapafúrdias tentativas de se aliar a ditadores e relativizar a democracia. O PSDB entende o desejo de um governo querer ter nossos quadros. Realmente temos políticos e gestores públicos altamente reconhecidos por sua eficiência. Mas este desejo não irá se realizar. Somos oposição. E continuaremos sendo”. Em relação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é preciso dizer que antes e durante a campanha eleitoral de 2022 ele fez seguidos gestos amistosos na direção do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que enfrenta problemas de saúde. Foi uma estratégia da parte de Lula para demonstrar respeito e consideração para com o adversário, relevando as divergências que chegaram a ser expostas em confrontos memoráveis. O futuro do PSDB é uma incógnita para os próprios remanescentes. Quanto ao PT, deu a volta por cima com a vitória de Lula sobre Jair Bolsonaro nas eleições passadas.