Nonato Guedes
O governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), presidente do Consórcio Nordeste, reagiu com firmeza e altivez à entrevista infeliz do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, ao jornal “O Estado de S. Paulo”, propondo uma frente Sul-Sudeste contra os Estados do Norte e Nordeste, com isto indicando uma guerra entre regiões, tese estapafúrdia e recorrente que é embrião do odioso separatismo nacional. Zema sugeriu que os Estados deveriam lutar por uma maior igualdade nos repasses e programas do governo federal, o que ocasionou fortes críticas de políticos de todo o país, especialmente os de esquerda. Suspeita-se que por trás da investida de Zema esteja a irritação com a reforma tributária aprovada na Câmara, relatada por um deputado da Paraíba, Aguinaldo Ribeiro (PP) e contendo compensações devidas historicamente ao Nordeste em décadas de marginalização.
Textualmente, disse o gestor mineiro: “Outras regiões do Brasil, com Estados muito menores em termos de economia e população, se unem e conseguem votar e aprovar uma série de projetos em Brasília. E nós, que representamos 56% dos brasileiros, mas que sempre ficamos cada um por si, olhando só o seu quintal, perdemos. Ficou claro nessa reforma tributária que já começamos a mostrar nosso peso”. A reforma ainda está para ser votada no Senado, com a relatoria do senador Eduardo Braga, do Amazonas, e para os governadores do Nordeste a união dos Estados do Sul e Sudeste em um Consórcio poderia representar um avanço na consolidação de um novo arranjo federativo no país. Mas ressaltam que ele só vai dar certo se “todos apostarmos num Brasil que combate suas desigualdades, respeita as diversidades, aposta na sustentabilidade e acredita no seu povo”. O problema é que os Estados do Sul-Sudeste não conseguem pacificar seus interesses e unificar seus projetos.
O governador João Azevêdo considerou preocupantes as declarações do seu colega de Minas Gerais, que nas últimas horas já admitia ter havido “distorção” na sua fala, numa tentativa para minimizar o estrago da manifestação bombástica que disparou e que despertou críticas até entre seus colegas de região. A nota do Consórcio Nordeste deixa claro que o organismo nega qualquer tipo de “lampejo separatista” e anuncia, mesmo, em seu slogan, que é uma expressão de “O Brasil que cresce unido”. Acrescenta: “Enquanto Norte e Nordeste apostam no fortalecimento do projeto de um Brasil democrático, inclusivo e, portanto, de união e reconstrução, a referida entrevista parece aprofundar a lógica de um país subalterno, dividido e desigual”. o objetivo dos consórcios, esclarece a nota, é “fortalecer essas regiões, unindo os Estados em torno da cooperação e compartilhamento de melhores práticas e soluções de problemas comuns, buscando contribuir com o desenvolvimento sustentável e a mitigação de nossas desigualdades regionais”.
– Já passou da hora do Brasil enxergar o Nordeste como uma região capaz de ser parte ativa do alavancamento do crescimento econômico do país e, assim, contribuir ativamente com a redução das desigualdades regionais, econômicas e sociais. Os governadores do Nordeste defendem um Brasil cada vez mais forte e próspero e apelamos pela união nacional em torno da solução dos seus problemas – prossegue a nota. O grupo também aponta incoerências de Zema durante a entrevista. Apesar do governador de Minas ressaltar a necessidade de pensar uma política liberal com foco no desenvolvimento sustentável, o Consórcio Nordeste questiona como esse passo seria possível sem um programa de governo pautado pela igualdade. “O Consórcio Nordeste, assim como o da Amazônia Legal, valendo-se da profunda identidade regional, cultural e histórica, foram criados com o objetivo de fortalecer essas regiões, unindo os Estados em torno da cooperação e compartilhamento de melhores práticas e soluções comuns”. Zema chegou a criticar a “política assistencialista aos Estados mais pobres do Brasil com uma metáfora. “Isso não pode ser intensificado ano a ano, década a década, senão você vai cair naquela história do produtor rural que começa só a dar um tratamento bom para as vaquinhas que produzem pouco e deixa de lado as que estão produzindo muito. Daqui a pouco, as que produzem muito vão começar a reclamar o mesmo tratamento”, comparou.
Na reação vigorosa que externou, o governador João Azevêdo alertou que ao defender o protagonismo do Sul e Sudeste, o governador de Minas Gerais aponta na direção de um movimento de tensionamento com o Norte e o Nordeste, “sabidamente regiões que vêm sendo penalizadas ao longo das últimas décadas dos projetos nacionais de desenvolvimento”. E mais: “Indicar uma guerra entre regiões significa não apenas não compreender as desigualdades de um país de proporções continentais, mas, ao mesmo tempo, sugere querer mantê-las, mantendo, com isso, a mesma forma de governança que caracterizou essas desigualdades”. E arremata o documento: “Assim, nós, governadores da região Nordeste, além de defendermos um Brasil cada vez mais forte e próspero, apelamos pela união nacional em torno da reconstituição de áreas estratégicas para o nosso país, a exemplo da economia, segurança pública, educação, saúde e infraestrutura”. Sem dúvida, um libelo demolidor diante da extemporânea manifestação do governador de Minas Gerais, Romeu Zema.