Nonato Guedes
Coordenador da bancada da Paraíba no Congresso Nacional e aliado do governo Luiz Inácio Lula da Silva, de quem é vice-líder na Câmara, o deputado federal Damião Feliciano (União Brasil) teve a franqueza de opor restrições ao volume de investimentos que o presidente da República destinou ao nosso Estado na nova versão do PAC, Programa de Aceleração do Crescimento, espécie de vitrine do terceiro mandato lulista. Damião passou recibo de contrariedade pelo fato de a Paraíba ter ficado em último lugar no ranking dos Estados na soma de recursos para obras estruturantes que serão deflagradas nos próximos anos. “O presidente Lula ficou em dívida com a Paraíba, até em virtude da votação expressiva que lhe foi conferida tanto no primeiro como no segundo turno da eleição presidencial de 2022”, expressou Damião, falando a emissoras de rádio.
Verdade seja dita, ele foi praticamente o único parlamentar ou líder político paraibano a manifestar inconformação com o percentual liberado, e se justificou de forma taxativa: “Não posso deixar de brigar pelo meu Estado; precisamos ser mais reconhecidos pelo Planalto e ele deve determinar mais recursos”. Em geral, as reações na Paraíba ao novo PAC oscilaram entre o “oba oba”, coro que foi puxado pelo governador João Azevêdo (PSB) e a omissão. A maioria dos parlamentares, na Câmara e no Senado, não “deu liga” à repercussão dos investimentos do Programa, anunciados no Rio de Janeiro na última sexta-feira. Em relação ao governador João Azevêdo, a impressão inicial é de que ele se contentou com pouco, mas os seus assessores recorrem ao argumento de que o presidente Lula atendeu à quase totalidade das reivindicações apresentadas, da construção do Arco Metropolitano na Grande João Pessoa à edificação do Hospital de Trauma e Emergência do Sertão, que ficará localizado no município de Patos.
De qualquer forma, o atendimento pelo Planalto da carteira de projetos da Paraíba não significa que esses projetos sejam de dimensão vultuosa, comparados a outros, mais ambiciosos, que foram apresentados por governadores de outros Estados e, naturalmente, despachados pelo presidente Lula. Minas Gerais, cujo governador Romeu Zema, propôs uma guerra entre regiões, não deixou de receber quinhão valioso, segundo foi entendido da reação protocolada pelo gestor das Alterosas, que evitou ir à cerimônia para não se envolver em atrito com os expoentes do bloco nordestino. Estados governados por bolsonaristas assumidos, como São Paulo, de Tarcísio de Freitas, outro que não compareceu ao evento, foram contemplados no limite da sua importância para o processo de desenvolvimento nacional. A Paraíba ficou no campo da expectativa, e isto pegou mal, não bastasse o fato de que o Estado não tem um ministro sequer no escalão governamental. Como “compensação” o governo Lula continua enviando ministros à Paraíba, já que o próprio presidente não demonstra muito interesse em conviver de perto com eleitores que sufragaram seu nome.
É compreensível a posição do governador João Azevêdo no sentido de não alimentar polêmica que pessoalmente ele considera desnecessária e, talvez, prejudicial aos interesses do Estado. Mas políticos como o deputado federal Damião Feliciano têm liberdade e autoridade para se expressar no tom em que se manifestaram, cobrando mais do Palácio do Planalto para com um Estado que, inclusive, é uma espécie de sede do Consórcio Nordeste na atual conjuntura, possuindo, portanto, lugar de fala relevante, de que foi exemplo a repercussão da pronta reação emitida pelo governador João Azevêdo à infeliz pregação separatista que o governador mineiro Romeu Zema tentou ensaiar, aparentemente sem ter conseguido, num primeiro instante, apoios valiosos para orquestração ultrapassada e impatriótica. Desse ponto de vista, Damião Feliciano foi feliz na definição que cunhou: “o governo do presidente Lula ficou em dívida com a Paraíba e precisa reparar essa dívida”.
A dívida ficará tanto maior quanto menor for a reação das lideranças políticas do Estado, a partir do governador João Azevêdo, que, de fato, tem linha direta com ministros, alguns dos quais foram colegas seus governadores do Nordeste. Mas esses ministros, na hora da verdade sobre liberação de recursos ou atendimento para execução de obras, priorizam seus próprios Estados de origem, por serem berço das suas ambições políticas no presente e no futuro à vista. Está chegando a hora de líderes políticos da Paraíba se unirem de verdade, colocando de lado divergências partidárias, para lutarem pelo crescimento do Estado. Já é consenso que a Paraíba experimenta uma fase promissora na sua história de progresso ou de emancipação. Essa fase não pode ser desperdiçada, pois dificilmente se repetirá – e, se isto tiver que acontecer, talvez seja como farsa. Sem prejuízo de alinhamentos com o governo Lula, este deve, sim, ser cobrado para oferecer mais à Paraíba, como reconhecimento ao próprio esforço do governo local para fomentar a sua autonomia perante os desafios históricos que estão colocados no radar.