Nonato Guedes
O Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) da direção nacional do Partido dos Trabalhadores, comandado pelo senador Humberto Costa (PE), deu partida à discussão sobre cenários eleitorais de 2024 nas Capitais, para mapear os redutos onde prevalecerá o lançamento de candidatura própria a prefeito e aqueles onde vai vigorar aliança com outros partidos. Pretendentes à disputa no PT de João Pessoa, como os deputados estaduais Luciano Cartaxo e Cida Ramos, participaram do debate virtual e sentiram-se fortalecidos com a perspectiva de agendamento do tema e com suas respectivas chances de indicação. Cartaxo, que já foi prefeito por duas vezes, chegou a fazer prognósticos otimistas sobre uma terceira gestão com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no poder. Também falou em construção da unidade interna para um resultado favorável nas urnas.
Na verdade, os debates estão apenas começando – e não há nenhum registro de que o PT feche as portas para composições. Em São Paulo, mesmo, a decisão do PT de abrir mão da candidatura própria e apoiar a postulação do deputado federal Guilherme Boulos, do PSOL, teve grande repercussão por ser um marco histórico, já que pela primeira vez desde a sua fundação em 1980 a legenda faz esse tipo de concessão no maior colégio eleitoral do país. O pacto em São Paulo teve diretamente o aval do presidente Lula e da dirigente nacional petista, Gleisi Hoffmann, como retribuição pelo fato de Boulos ter fechado com a candidatura de Fernando Haddad ao governo do Estado em 2022. A candidatura de Haddad foi derrotada em segundo turno pelo ex-ministro bolsonarista Tarcísio de Freitas, do Republicanos, enquanto Guilherme Boulos arrebanhou mais de um milhão de sufrágios, tornando-se o mais votado à Câmara Federal no ano passado. A expectativa é que o exemplo de São Paulo facilite composições em outras Capitais, principalmente entre PT e agremiações de esquerda, dentro da estratégia de infligir pesadas derrotas ao bolsonarismo, que tenta ressurgir das cinzas.
Mas já é evidente que cada caso terá que ser analisado conforme as peculiaridades políticas locais. É aí onde entra o caso de João Pessoa. O atual prefeito Cícero Lucena (PP), que se candidatará à reeleição, nunca foi tido como “lulista” mas tenta se aproximar do presidente da República e do PT através do governador João Azevêdo (PSB), presidente do Consórcio Nordeste, que foi eleitor declarado de Lula nos dois turnos, mesmo quando este apoiou o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) ao governo, contra João, no primeiro turno, em 2022. O próprio Cícero, possivelmente motivado por incursões feitas pelo governador João Azevêdo, tem reforçado o propósito de dialogar com o PT. O presidente estadual petista, Jackson Macêdo, tem se revelado atento a esses acenos e tem transmitido informações a respeito à direção nacional para que ela possa se orientar no contexto específico da Paraíba. Em 2020, o PT em João Pessoa lançou candidatura própria, a do deputado Anísio Maia, que teve votação decepcionante e não contou com o apoio da cúpula. O próprio PT pediu votos, à época, para o ex-governador Ricardo Coutinho, que concorreu pelo PSB. Perderam os dois, sendo Cícero vitorioso.
Sobre Guilherme Boulos: ele foi candidato a prefeito de São Paulo em 2020, conseguindo avançar para o segundo turno, mas na contagem final obteve 40,62% dos votos e perdeu para Bruno Covas, do PSDB, já falecido. O atual prefeito é Ricardo Nunes, do MDB, que corteja manifestação de apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro. O Partido dos Trabalhadores governou São Paulo em três oportunidades – a primeira com a paraibana Luíza Erundina, entre 1989 e 1993, a segunda vez com Martha Suplicy, entre 2001 e 2004 e a terceira com Fernando Haddad, entre 2012 e 2016. A indicação do nome de Guilherme Boulos para candidato da frente de esquerda em São Paulo já desatou resistências dentro do próprio PT, onde o deputado Jilmar Tato foi enfático ao salientar que o PT perde com esse apoio. Ele reclamou da alegada falta de apoio do PSOL a pautas importantes defendidas ou encampadas pelo Partido dos Trabalhadores, especialmente no Congresso Nacional. Além de Ricardo Nunes, postula a prefeitura paulista a deputada Tábata Amaral, que já foi dos quadros do PSDB e atualmente encontra-se filiada ao PSB do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin.
O que se afirma, nos círculos petistas, é que a formalização da candidatura do deputado Guilherme Boulos a prefeito no contexto idealizado deverá provocar como consequência o engajamento direto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, motivado pela perspectiva de união das esquerdas e, sobretudo, pela oportunidade de ir à revanche contra o bolsonarismo como represália pela eleição do ex-ministro Tarcísio de Freitas ao governo em 2022, derrotando Haddad. A dirigente Gleisi Hoffmann admitiu que o partido está preparado para conviver com divergências uma vez sagrado o apoio a Boulos na sucessão à prefeitura de São Paulo, mas confia em que os conflitos serão contornados em nome da necessidade de vitória. Em João Pessoa, o PT deverá recorrer a prévias internas sobre teses para a eleição vindoura. Mas o cenário está em aberto, não havendo garantia nem sobre a candidatura própria nem sobre a perspectiva de aliança em torno de Cícero Lucena.