Nonato Guedes
Em Campina Grande, segundo colégio eleitoral da Paraíba, já não subsistem mais dúvidas sobre a consolidação da aliança política entre o prefeito Bruno Cunha Lima, candidato à reeleição, e o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) virando a página da divergência que sustentaram no cenário local. No reverso da medalha, como consequência dessa aproximação, o ex-prefeito e atual deputado federal Romero Rodrigues, do Podemos, vai ficando para trás na relação com o bloco familiar e praticamente sendo empurrado para uma posição de confronto que ele reluta em assumir. O distanciamento entre Romero e Bruno é acentuado e recheado de indiretas sobre ação e inércia administrativa, mobilizando aliados dos respectivos líderes, no aguardo da consumação do divisor de águas.
Esse divisor, conforme se especula, seria uma atitude de Romero oficializando o rompimento, seguida do anúncio de que topa disputar novamente a prefeitura da Rainha da Borborema, desta feita contra Bruno, a quem ele apoiou na sua sucessão referente ao segundo mandato concluído em 2020. Legendas e promessas de reforço para Romero, por parte dos opositores de Bruno, têm sido agitadas com frequência, como faz o Republicanos, através de uma ofensiva sistemática dos deputados irmãos Adriano e Murilo Galdino. Mas Rodrigues, além de demonstrar hesitação quanto a dar um passo decisivo na sua trajetória política, pondera sobre as conveniências de partir para a radicalização e sobre o reflexo que o gesto teria junto ao eleitorado campinense, diante da reviravolta numa relação que perdura há décadas na política serrana. Seja como for, os canais de retorno parecem entupidos irremediavelmente dentro do bloco que é berço dos Cunha Lima, com tentáculos por outras regiões do Estado e presença em disputas majoritárias relevantes.
A opinião pública assiste o desenrolar dos acontecimentos em clima de expectativa, sobretudo, quanto às narrativas que serão construídas tanto pelo prefeito Bruno Cunha Lima como pelo ex-prefeito Romero Rodrigues para justificar o rompimento inevitável. As insinuações já começam a pipocar, de parte à parte, nos esconsos, envolvendo quebra de compromissos de lealdade e queixas sobre desprestígio, formando o caldo de cultura das intrigas e atiçando a fogueira de vaidades entre os dois antigos aliados políticos. Segundo projeções que circulam, a desinteligência que atualmente se verifica já prospecta desdobramentos para o futuro – mais precisamente para as eleições de 2026, quando estarão em jogo disputas ao governo do Estado, a vagas no Senado, Câmara dos Deputados e Assembleia Legislativa. O contencioso é amplo e, por isso mesmo, desperta manobras de cautela e suposta habilidade política por parte dos atores que estão protagonizando mais diretamente esse momento de pré-ruptura na paisagem partidária paraibana.
De concreto, há o fato de que o grupo liderado pelo senador Veneziano Vital do Rêgo já está acomodado em cargos da administração do prefeito Bruno Cunha Lima, além da constatação de que é cada vez melhor o entrosamento entre o parlamentar e o gestor. Uma empatia que começou a ser costurada nas eleições estaduais de 2022, no segundo turno, quando Veneziano, que havia disputado o governo, declarou apoio ao então deputado federal Pedro Cunha Lima no embate finalíssimo com o governador João Azevêdo (PSB), sendo este vitorioso por margem que surpreendeu os analistas da política da Paraíba. A partir daí, Veneziano chegou ao prefeito Bruno Cunha Lima, mediante destinação de recursos provenientes de emenda parlamentar e também de uma intensa e profícua mobilização nos escalões federais de poder, acesso que se tornou facilitado pela ascensão do líder petista Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto. Bruno tem celebrado conquistas em série intermediadas por Veneziano, enquanto Romero se mantém em Brasília sem influência nos gabinetes e nas instâncias que decidem.
O corolário dessa nova aliança política em Campina Grande se traduz no apoio induvidoso do ex-deputado Pedro Cunha Lima à composição que tem sido forjada. Ainda em evento recente comandado pelo prefeito Bruno Cunha Lima, tanto este quanto o ex-candidato a governador Pedro foram generosos nos elogios à atuação política e legislativa do senador emedebista, reconhecendo e destacando a contribuição valiosa que ele tem proporcionado ao desenvolvimento de projetos administrativos que, em última análise, são reivindicados pela própria população. Veneziano tem sido saudado como uma espécie de artífice do deslanche de gestão de Bruno Cunha Lima, um ex-eleitor de Jair Bolsonaro que vinha enfrentando dificuldades para destravar pleitos essenciais para o seu projeto de poder. De largada, Veneziano já assegurou apoios, do próprio Pedro Cunha Lima, para a recandidatura ao Senado em 2026 e Bruno colhe os frutos da bem-sucedida parceria que atraiu para sua órbita. Quanto a Romero, parece atônito com a velocidade dos fatos e, por ora, se limita a ver a banda passar, enquanto seus espaços de influência vão diminuindo.