Nonato Guedes
Desde a reeleição do governador João Azevêdo no pleito de 2022, conquistada em segundo turno numa disputa acirrada com o então deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), o Partido Socialista Brasileiro pôs-se em marcha batida para ampliar espaços e adesões dentro do projeto de assegurar hegemonia no cenário político estadual, competindo com outras legendas que estão integradas à base de apoio ao chefe do Executivo como o Progressistas e o Republicanos. Houve, mesmo, uma ofensiva que resultou em filiações remanescentes do resultado eleitoral do ano passado, saudadas como ativo valioso para dar capilaridade à legenda, inicialmente nas eleições municipais de 2024, na sequência nas eleições majoritárias estaduais de 2026. Mas o PSB, presidido pelo deputado federal Gervásio Maia, pareceu engessado e “proibido” de avançar, diante do freio de mão imposto ao plano de lançar candidaturas próprias a prefeito nos dois maiores colégios eleitorais do Estado – João Pessoa e Campina Grande.
O panorama tornou-se mais desalentador, ainda, com declarações enfáticas do governador João Azevêdo descartando uma candidatura própria do PSB à sua sucessão em 2026, a pretexto de que só há uma vaga disponível para o partido no páreo majoritário – ao Senado, tendo provavelmente ele como representante da legenda, por se constituir no maior líder da agremiação e um dos maiores líderes políticos do Estado na atual quadra. Apesar de compreensíveis as declarações do governador, no contexto da tática concebida para fortalecer o seu esquema de forças, evitando dispersão de apoios com vistas a embates futuros, elas soaram como uma ducha de água fria para expoentes do PSB local, que evitam polemizar sobre o assunto para não confrontar a autoridade legítima de Azevêdo nem fornecer pretextos que, de forma colateral, beneficiem adversários, na esteira de dissidências ou desalinhamentos que, de imediato, provocam a falta de perspectiva de poder, uma hipótese geralmente assustadora para atores que estão no jogo político.
Ainda há quem acredite que o governador João Azevêdo conteve discussões na órbita do PSB como estratégia para ganhar tempo, amarrar a fidelidade de deputados de outros partidos e, desta forma, preservar a governabilidade na Assembleia Legislativa, que tem sido mantida incólume desde a primeira gestão, como pode atestar o deputado Adriano Galdino, do Republicanos, presidente da Casa de Epitácio Pessoa e sócio vital da tal governabilidade. O governo de João Azevêdo, com efeito, tem pontuado em “céu de brigadeiro” no tocante à aprovação de matérias ou projetos que o Palácio da Redenção despacha para o crivo dos parlamentares, mas também é certo que o próprio governo diligencia no sentido de não produzir proposituras polêmicas, que dificultem os consensos considerados essenciais para a sustentação tranquila no plenário do Poder Legislativo. Em outra frente, é bafejado pela desarticulação da oposição, com sua miríade de expoentes digladiando-se para ocupar posição de liderança e credenciar-se na direção dos embates futuros que agitarão o cenário paraibano.
O dilema de figuras do PSB como Gervásio Maia e o secretário de Administração, Tibério Limeira, presidente do diretório municipal de João Pessoa, decorre do receio de que o partido venha a perder tempo e, consequentemente, espaços nas disputas que estão sendo ensaiadas no interior das mais diversas legendas atuantes na Paraíba. Enquanto o clima é de ebulição nos outros partidos, com avanços e recuos em táticas de aliança ou entendimentos para consolidar apoios, já mirando 2024, que está logo ali, o PSB vive uma pasmaceira de dar pena, não sendo ouvido nem cheirado na tomada de decisões relevantes – e, portanto, sem ser igualmente cogitado para compor ou encabeçar chapas que começam a fervilhar dentro da dinâmica natural do jogo político. E o pior: isto se dá com o partido do governador reeleito, que foi premiado com a presidência do Consórcio Nordeste e que ganhou inegavelmente sinais de prestígio em Brasília no governo federal, a partir da ascensão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem apoiou desde a primeira hora em 2022.
Ou seja: a desarticulação do PSB da Paraíba ocorre justamente na melhor fase experimentada pelo partido no Estado e, também, no plano nacional, mercê da sua participação direta no governo de Lula, a partir da presença do vice-presidente Geraldo Alckmin, que, inclusive, acumula o cargo com o exercício de um ministério estratégico na área do desenvolvimento econômico e social. Nota-se que o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira (PE), tem evitado interferir de qualquer maneira na situação da agremiação na Paraíba, como um sinal de respeito à liderança de João Azevêdo que, como se sabe, moveu céus e terras para conseguir retomar o controle da legenda, na queda de braço memorável que travou com o ex-governador Ricardo Coutinho, hoje aboletado no PT. Pode ser que a inércia enfrentada pelo PSB paraibano seja efêmera e mesmo “estratégica”, na tática do “ganha ganha” – mas cabe lembrar que em política há um “timing” e que é preciso ter habilidade para acertar esse ponto e não perder o bonde da História.