Nonato Guedes
Com a desistência do vereador Marcos Henriques em se submeter ao páreo, ficou concentrada nos deputados estaduais Luciano Cartaxo e Cida Ramos a disputa dentro do Partido dos Trabalhadores para indicação de candidatura a prefeito de João Pessoa nas eleições de 2024. Ambos têm atuação marcante na Capital – Cartaxo como prefeito por duas vezes e ex-vereador, Cida como ex-candidata à prefeitura e ativa militante de lutas universitárias e sindicais. Eles trabalham com a perspectiva de que o PT vai optar por candidatura própria à sucessão de Cícero Lucena, do PP, mas esta é apenas uma hipótese, não sendo descartado pela cúpula que a legenda se componha com outras postulações, inclusive, a do próprio Cícero que busca se reforçar, contando com o respaldo e a influência do governador João Azevêdo (PSB), aliado e eleitor de primeira hora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Para justificar sua retirada do páreo, o vereador Marcos Henriques alegou o pretexto de que deseja contribuir para a unidade interna. Na verdade, ele não tinha maiores chances de vir a ser indicado para representar a agremiação num projeto de candidatura na Capital, onde a prioridade das forças de esquerda e de centro-esquerda será derrotar o bolsonarismo, que busca ressurgir com nomes de políticos com e sem mandato, apoiadores das ideias ortodoxas e ultradireitistas do ex-presidente da República, como o ex-ministro Marcelo Queiroga, o comunicador Nilvan Ferreira e o deputado federal Cabo Gilberto Silva. Cartaxo e Cida, além da ambição de ocuparem o Centro Administrativo Municipal, se identificam na oposição ao prefeito Cícero Lucena, de quem reclamam um projeto mais arrojado compatível com o crescimento populacional de João Pessoa e com as crescentes demandas que surgem no dia a dia, além de criticarem intervenções pontuais da gestão que consideram equivocadas ou desastradas.
Os dois deputados posicionaram-se contrários, por exemplo, à contratação de estudos pelo prefeito Cícero Lucena junto a uma empresa especializada de Santa Catarina para examinar a viabilidade de execução de um projeto de alargamento da orla marítima da Capital paraibana – e sustentaram uma orquestração tão barulhenta que acabou influenciando na decisão do alcaide de retirar o tema do radar, comprometendo-se a demandar consultas junto a segmentos da sociedade interessados na questão ou credenciados para o debate correto das implicações de uma iniciativa desse porte. Professora universitária, Cida Ramos faz mais a “linha ideológica” na sua atuação dentro do PT e é discípula declarada do ex-governador Ricardo Coutinho, que tem prestígio pessoal junto ao presidente Lula e espaço de influência no partido na Paraíba. Ela já foi candidata uma vez, lançada pelo próprio Ricardo, mas não logrou êxito, perdendo para o próprio Cartaxo, que por sua vez tem trajetória política cambiante, com passagens por vários partidos e abandono do PT num momento crucial, quando a agremiação se desgastou no escândalo do mensalão. Eleito deputado estadual em 2022, ele se envolve mais na discussão da própria candidatura do que dos problemas urgentes da Capital e das regiões da Paraíba.
Apesar da movimentação ostensiva de Luciano Cartaxo e de Cida Ramos, que vez por outra esbarram em divergências sobre o “modo petista de governar” ou sobre as visões referentes ao estilo administrativo ideal para João Pessoa, uma Capital que se prepara para ter 1 milhão de habitantes, a cúpula estadual do Partido dos Trabalhadores não faz qualquer sinalização concreta sobre candidatura própria nas eleições do próximo ano. O presidente Jackson Macêdo tem dito que uma definição a respeito está condicionada ao consenso que resultar de amplas discussões internas que somente agora começam a ser ensaiadas, dentro da orientação nacional para adoção do processo de tática eleitoral. Esse processo comporta tanto o lançamento de candidaturas próprias como a composição com outras legendas ou candidatos, de que é exemplo a decisão tomada pelo PT de São Paulo de apoiar a candidatura do deputado federal Guilherme Boulos, do PSOL, à sucessão municipal. O que tem sido repassado é que as situações serão analisadas dentro de diferentes contextos, havendo mediação da Executiva Nacional apenas em casos de impasse que comprometam o projeto partidário.
O governador João Azevêdo, pessoalmente, tem aliados dentro do PT paraibano, alguns dos quais, inclusive, participam da sua administração à frente de cargos de destaque ou de confiança, mas também enfrenta resistências de um segmento que atende à orientação do ex-governador Ricardo Coutinho e que tem ascendência, principalmente, sobre o diretório municipal de João Pessoa, possuindo ramificações pelo diretório estadual. Esse grupo fecha com a pré-candidatura da deputada Cida Ramos mas faz coro com o deputado Luciano Cartaxo na rejeição ao apoio à candidatura do prefeito Cícero Lucena à reeleição. A retirada do vereador Marcos Henriques, se não chega a ser decisiva para promover a unidade, é importante para afunilar pretensões e facilitar os encaminhamentos sobre entendimentos com outras forças políticas, conforme admitem fontes credenciadas da cúpula petista.