Nonato Guedes
O ex-deputado federal paraibano Pedro Cunha Lima, que disputou o governo do Estado nas eleições de 2022 e atualmente preside o Instituto Teotônio Vilela, órgão de estudos e de formação política do PSDB, sinalizou que continua integrado às lutas do partido tucano para viabilizar uma renovação no cenário nacional. Ele participou do Seminário “Diálogos Tucanos”, realizado em Brasília, sob o comando do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e no seu instante de fala foi taxativo ao pontuar: “Temos o dever de ser um partido inconformado com a atual situação”. Ele demonstrou interesse em contribuir com iniciativas para oxigenar o PSDB e fazê-lo retomar posição de protagonismo, equidistante de extremismos políticos mas intransigente na defesa de princípios éticos e na aplicação correta dos recursos públicos em setores essenciais da sociedade, como educação, que foi uma de suas bandeiras principais, quer como deputado quer como candidato ao Executivo estadual, no confronto em segundo turno com o governador João Azevêdo (PSB), que foi reeleito.
Pedro não ofereceu maiores pistas sobre o seu projeto político para o futuro, insinuando que, eventualmente, pode voltar à cena. Concretamente, passou a ser Consultor Técnico da Unesco, órgão das Nações Unidas para a Educação, e já se reuniu com autoridades do governo Lula para debater projetos que minimizem a grave situação do setor educacional no país. Pedro recapitulou detalhes da campanha eleitoral do ano passado na Paraíba, salientando que enfrentou o páreo “contra tudo e contra todos” e justificando que não apoiou a candidatura do então presidente Jair Bolsonaro (PL) “porque ele não nos representava”, da mesma forma como não se identificou com a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para um terceiro mandato. A postura de Cunha Lima em relação à eleição presidencial, na verdade, foi de neutralidade, o que lhe deu espaço para recepcionar presidenciáveis como Ciro Gomes, do PDT, e Simone Tebet, do MDB, no seu palanque. Ele não escondeu seu desconforto, no contato com eleitores e na propaganda eleitoral, com o ambiente de polarização ideológica que se estabeleceu entre os apoiadores do então presidente Bolsonaro e do candidato a presidente Lula. O PSDB foi sacrificado nesse contexto, situação que se agravou devido a divergências internas entre João Doria, que governava São Paulo, e Eduardo Leite, que liderava o Rio Grande do Sul.
Para Pedro Cunha Lima, o país continua necessitando de uma “virada de chave” para que ocorram mudanças realmente importantes na conjuntura e para que sejam eliminados privilégios cultivados pela própria classe política. “Temos um espaço vazio e não sei quem vai ocupar esse espaço, mas temos nomes com capacidade para essa missão”, expressou, mencionando o nome do governador gaúcho Eduardo Leite como símbolo da renovação pretendida. O ex-deputado elogiou o PSDB pela “coragem” de lançar um programa de televisão fazendo crítica, que ele considera necessária, ao “presidencialismo de cooptação”. No seu caso, recordou: “Tivemos a coragem de lançar uma candidatura ao governo do Estado, largando com 9%. Nunca uma candidatura foi tão desacreditada no nosso Estado, e no entanto, chegamos ao segundo turno. Em um Estado onde 70% da população votaram em Lula, tivemos a firmeza de não ficar com Bolsonaro porque ele não nos representa”, acrescentou o filho do ex-governador Cássio Cunha Lima, avaliando que houve indiscutível receptividade à mensagem que apresentou ao eleitorado paraibano e que se lastreou em denúncias contra os privilégios dos detentores do poder e contra a falta de sintonia com as demandas populares.
Eduardo Leite fez uma apresentação dos pilares do partido, bem como uma projeção da visão de país ideal. “Um Brasil que oferece igualdade de oportunidades para quem está chegando e que enfrenta e corrige as desigualdades para quem, infelizmente, foi deixado para trás. Um país mais próspero e produtivo, mais justo com seus filhos, mais livre, mais verde e mais relevante no mundo”, resumiu. Nesse sentido, propôs que haja um governo ágil, eficiente e capaz de responder aos anseios dos cidadãos, bem como uma máquina pública mais leve e enxuta para ser mais forte e presente nas políticas públicas de educação, saúde e segurança pública. Eduardo anunciou que para o PSDB o foco do Estado brasileiro deve estar em oferecer redução da desigualdade de renda e eliminar a pobreza extrema, promovendo-se o crescimento econômico sustentado, com inclusão e mobilidade social, gerando mais e melhores empregos. “Entendemos que a reforma da gestão e do orçamento público, a recuperação política e a reforma do Estado são os meios ou instrumentos para a consecução desses objetivos”, assinalou o governante gaúcho e dirigente nacional do PSDB.
Para Eduardo Leite, o clima de radicalização política que foi instalado no Brasil nos últimos anos “machucou” os brasileiros e também feriu o PSDB. “Muitas vezes a gente vê a relativização da democracia. Ela é uma conquista e não pode ser relativizada. É um dos pontos fundamentais sobre os quais o Estado também deve se debruçar”, sublinhou. O ex-senador Tasso Jereissati (CE) declarou: “Não estivemos nem no governo de Bolsonaro e nem no governo Lula, e a gente não vê no noticiário eles tratando sobre os grandes problemas do país”. Bruno Araújo, presidente de federação partidária e ex-presidente nacional do PSDB, defendeu que os feitos da legenda sejam divulgados e que prevaleça a coragem para mudar, criticar, reagir a retrocessos, como os do marco do saneamento e do imposto sindical. Este é o tom que é preconizado, também, pelo ex-deputado paraibano Pedro Cunha Lima, antenado com a dinâmica política e com os desafios colocados para partidos como o PSDB.