Aliado do governo Lula na Câmara Federal, o deputado Glauber Braga (Psol-RJ) fez graves denúncias contra o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), chamando-o de “chantagista geral da República” e advertindo para os poderes que Lira concentra à frente do cargo. As acusações foram feitas em entrevista ao “Congresso em Foco”. Glauber comparou Arthur Lira com o ex-presidente Eduardo Cunha (MDB-RJ), de quem também foi crítico, dizendo que Lira tem características que o remetem ao perfil do ex-dirigente. “Lira é mais sofisticado que Eduardo Cunha. Estabeleceu uma relação com os interesses de mercado, em relação aos seus antecessores, mais eficaz para as pautas que são negativas para os trabalhadores. Não estou elogiando, é uma crítica que demonstra o tamanho desse inimigo político”, acrescentou.
Para ele, Lira consegue fazer o que Cunha e Rodrigo Maia (PSDB-RJ) tentaram sem o mesmo sucesso ao passar pela presidência da Casa. “Ele conseguiu aplicar uma agenda neoliberal, aprovando a autonomia do Banco Central, votando privatizações na Câmara e esquartejando direitos sociais graças à dinâmica de acenar para fora, para o mercado e para dentro, com o orçamento secreto”, avalia Glauber. Mas o poder, mesmo o de Lira, é perene, adverte o representante do Psol. “Uma hora o Lira cai. Eduardo Cunha se achava todo poderoso e caiu. Sérgio Moro ainda não caiu mas viu seu poder nacional se debilitar. Bolsonaro e Deltan Dallagnol caíram. A hora de Lira vai chegar”, prognosticou.
Em maio do ano passado, Arthur Lira e Glauber Braga discutiram asperamente no plenário. O presidente da Câmara ameaçou chamar a polícia legislativa para retirar o deputado do Psol. Um entrou com processo contra o outro por quebra de decoro. A representação do parlamentar fluminense ficou na gaveta, enquanto a do alagoano avançou rapidamente para o Conselho de Ética. Foi engavetada com o final da legislatura. Glauber Braga revela que é preocupado com a relação do governo Lula com o presidente da Câmara dos Deputados.
E ressalta: “A opção do governo foi por um pacto de conciliação com ele (Arthur Lira). Só que quem inicia a chantagem, no caso o Lira, sempre quer mais espaço e poder. Se não colocarem limites, ele nunca vai se sentir satisfeito com aquilo que recebeu de resposta positiva. Ele se impõe também pelo medo, mas pelos recursos oriundos do poder que acumula”. Glauber vê em Lira traços de truculência política que também enxergava em Eduardo Cunha. O deputado cita, como exemplo, a tramitação recorde do envio feito pelo presidente da Câmara das denúncias contra seis deputadas da esquerda ao Conselho de Ética. Elas chamaram de assassinos os colegas que votaram a favor do marco temporal das terras indígenas. As deputadas denunciadas são Célia Xakriabá (Psol-MG), Erika Kokay (PT-DF), Fernanda Melchionna (Psol-RJ), Juliana Cardoso (PT-SP), Talíria Petrone (Psol-RJ) e Sâmia Bomfim (Psol-SP), com quem Glauber é casado e tem um filho.
“Lira é uma figura autocrática, que se fortaleceu muito a partir do orçamento secreto e que fez um movimento para procurar estabilizar, de fora para dentro, sua presidência por meio da articulação com pautas que eram de interesse direto do mercado, mais especificamente do mercado financeiro”, avalia Glauber. E concluiu: “O poder dele é muito grande. Com um poder desse tamanho e a concentração das decisões, das grandes até as minúcias que passam por ele, há uma relação de dependência por um poder muito acumulado. Se não enfrentarmos isso, vai só acumular muito mais”.