Um público expressivo, formado por jornalistas, professores e estudantes de Comunicação da Universidade Federal da Paraíba, intelectuais e autoridades, prestigiou ontem à noite, na Livraria A União, no Espaço Cultural em João Pessoa, o lançamento do livro biográfico “Biu Ramos: o Timoneiro da Arca de Sonhos”, do jornalista Samuel Amaral, resultado da dissertação de mestrado do autor. Na mesa dos trabalhos estiveram a professora e doutora Joana Belarmino, a diretora-presidente da Empresa Paraibana de Comunicação, Naná Garcez, o jornalista Nonato Guedes e a psicóloga Lúcia Sá, viúva de Severino Ramos, tendo comparecido, ainda, o presidente da Academia Paraibana de Letras, Ramalho Leite.
Samuel Amaral destacou que Biu Ramos (1938-2018) foi um dos grandes nomes da história da imprensa, integrante da chamada “era de ouro” do jornalismo paraibano, entre as décadas de 1950 e 1960. Lembrou as suas origens humildes, a sua condição de negro e a sua projeção como um dos maiores polemistas da imprensa paraibana, tendo enfrentado o racismo e uma série de preconceitos até firmar-se como uma das “penas mais férteis do colunismo político do Estado”, conquistando seu lugar por sua escrita impecável e atenção às questões sociais e políticas do seu tempo.
O livro é resultado da dissertação de mestrado do autor, defendida em 2022, no Programa de Pós-Graduação em Jornalismo, sob a orientação da professora doutora Joana Belarmino de Sousa. Dividida em dez capítulos, 408 páginas, a obra é prefaciada pelo escritor e historiador Bruno Gaudêncio e apresentada pela professora, jornalista e escritora Joana Belarmino. A publicação também comemorou o aniversário de Biu Ramos que, se vivo estivesse, completaria 85 anos em agosto de 2023. Severino Ramos Pedro da Silva destacou-se como um dos últimos polemistas da imprensa, com passagens pelos principais jornais do Estado, como Correio da Paraíba, O Norte, A União e o Momento. Foi, ainda, correspondente de importantes jornais nacionais como o Jornal do Brasil e Folha de São Paulo. Além disso, ocupou diversos e importantes cargos públicos, incluindo o de secretário de Cultura do Estado, secretário de Comunicação da prefeitura de João Pessoa, procurador, diretor da rádio Tabajara, superintendente do jornal A União, presidente da Associação Paraibana de Imprensa, tendo se candidato a deputado estadual pelo então PMDB em 1986.
Joana Belarmino afirmou que o primoroso trabalho da Editora A União entrega ao leitor não apenas a história do jornalista Biu Ramos, mas traz à lume o nascimento do jornalismo investigativo, do jovem e persistente escavador de memórias, Samuel Amaral Veras Bonifácio, “que tem a sede pela recuperação do passado da profissão e quer dar a conhecer, através da sua narrativa, os nomes e as cenas desse tempo em que o jornal do dia seguinte fazia sentido e criava opinião na Paraíba”. Bruno Gaudêncio comentou que Samuel Amaral “apresenta uma ótima narrativa biográfica”. E segue: “Seu texto é bem construído, claro e coerente, demonstrando uma pesquisa profunda que se baseou no rico acervo pessoal do próprio Biu Ramos. Além disso, o autor, habilmente, inclui depoimentos de pessoas que conviveram com o biografado, adicionando camadas de autenticidade e intimidade à narrativa. A precisão e minúcia de Amaral em seu processo de apuração são admiráveis, entregando ao leitor a complexidade que foi seu biografado”.
O jornalista Nonato Guedes afirmou, no lançamento, que o livro de Samuel Amaral é “um resgate imprescindível da trajetória de uma das mais fascinantes personalidades do meio jornalístico e cultural paraibano”, definindo Biu Ramos como um intelectual eclético e vocacionado para a temática humanista, “perfil resultante da capacidade abrangente que ele soube extrair do ofício de repórter, onde deitou uma visão clínica dos fatores e personagens do cotidiano, atribuindo-lhes registro agudo e antológico”. Ressaltou a habilidade de Biu como “escafandrista” de acontecimentos e frisou que isto se deveu, em muito, à sua condição de testemunha e participante de episódios políticos, sociais e culturais que moldaram o desenho da Paraíba e traçaram o destino dos seus expoentes. “Avultava também, nele, uma peculiaridade típica de figuras excepcionais – o estilo polêmico sobre os assuntos mais variados. Desse ponto de vista, ele quebrou tabus, derrubou mitos, tirou as máscaras de pseudos-donos da verdade que pontificavam impunemente na imprensa ou na vida pública da Paraíba”.